Andranik, general armênio (n. 1865)

A Lenda de Andranik Ozanian: Um Herói da Libertação Armênia

Nascido em 25 de fevereiro de 1865 e falecido em 31 de agosto de 1927, Andranik Toros Ozanian, mais amplamente conhecido como General Andranik ou simplesmente Andranik, é uma das figuras mais emblemáticas e reverenciadas na história armênia. Ele não foi apenas um comandante militar de grande calibre, mas também um estadista e o mais proeminente dos fedayi – combatentes voluntários armênios dedicados à autodefesa e à luta pela liberdade. Sua vida foi intrinsecamente ligada ao movimento de libertação nacional armênio, um período turbulento do final do século XIX ao início do século XX, quando o povo armênio, sob o jugo do Império Otomano, buscava desesperadamente sua autonomia e sobrevivência. Andranik emergiu como um dos principais líderes desses esforços militares pela independência, um farol de esperança e resistência.

Primeiros Anos e o Despertar da Resistência

A virada do século XIX encontrou a população armênia, majoritariamente cristã, vivendo sob o domínio muçulmano do Império Otomano, frequentemente sujeita a perseguições e massacres. Foi nesse cenário de opressão que Andranik Ozanian se tornou ativo na luta armada, a partir do final da década de 1880, enfrentando não apenas o governo otomano, mas também os irregulares curdos, que muitas vezes agiam com a complacência ou incentivo das autoridades imperiais. Ele se juntou à Federação Revolucionária Armênia (Dashnaktustyun), um partido político influente com uma ala militar forte, que tinha como um de seus objetivos primordiais a defesa do campesinato armênio. Estes camponeses viviam em sua pátria ancestral, uma vasta região conhecida como Armênia Ocidental ou Armênia Turca, que na época era parte integrante do Império Otomano. Os fedayi, incluindo Andranik, procuravam proteger essas comunidades contra a violência e a exploração.

A Revolta de Sasun e a Saída do Império Otomano

As atividades revolucionárias de Andranik no Império Otomano chegaram a um ponto de inflexão após a malsucedida revolta em Sasun, em 1904. Sasun, uma região montanhosa e remota, tornou-se um símbolo da resistência armênia, mas a repressão otomana foi brutal. Após este evento, e percebendo que as condições não eram favoráveis para a continuidade da luta armada organizada na região naquele momento, Andranik tomou a difícil decisão de deixar o Império Otomano. Este período marcou uma pausa em sua atuação direta nas terras ancestrais, mas não em seu compromisso com a causa armênia.

Ruptura com o Dashnaktustyun e a Guerra dos Bálcãs

Em 1907, Andranik tomou outra decisão significativa ao se afastar do partido Dashnaktustyun. O motivo de sua dissidência foi sua forte desaprovação à cooperação do partido com os Jovens Turcos, um grupo que inicialmente prometia reformas e igualdade no Império Otomano, mas que, anos depois, viria a ser o arquiteto do Genocídio Armênio. A presciência de Andranik sobre o caráter traiçoeiro dos Jovens Turcos é notável. Sua experiência e visão política o levaram a desconfiar de alianças que pudessem comprometer o futuro de seu povo.

Entre 1912 e 1913, Andranik encontrou uma nova oportunidade para lutar contra o Império Otomano durante a Primeira Guerra Balcânica. Ao lado de outro proeminente líder armênio, Garegin Nzhdeh, ele liderou algumas centenas de voluntários armênios que se uniram ao exército búlgaro. Para os armênios, essa guerra representava uma chance de enfraquecer o opressor otomano e, talvez, abrir caminho para a libertação de seus próprios territórios. A participação de Andranik nas Guerras Balcãs demonstrou sua capacidade de liderança e sua disposição em lutar por sua causa em qualquer front.

A Primeira Guerra Mundial e a Luta Pela Sobrevivência

A Campanha Russa e o Vácuo de Poder

Com o início da Primeira Guerra Mundial, Andranik assumiu um papel ainda mais proeminente. Desde os estágios iniciais do conflito, ele comandou o primeiro batalhão de voluntários armênios dentro do exército imperial russo. Sua missão era crucial: combater o Império Otomano no Front do Cáucaso. Sob sua liderança carismática e habilidosa, as forças armênias conseguiram capturar e, por um tempo, governar grande parte da tradicional pátria armênia, alimentando a esperança de uma Armênia independente e unida. No entanto, a eclosão da Revolução Russa em 1917 mudou drasticamente o panorama. O exército russo, mergulhado em convulsões internas, recuou em massa, deixando os irregulares armênios em uma posição extremamente vulnerável e em desvantagem numérica esmagadora contra o avanço das tropas turcas.

A Defesa de Erzurum e a Batalha de Sardarabad

No início de 1918, Andranik liderou a heroica, mas fútil, defesa de Erzurum, uma cidade estrategicamente vital. Apesar de todos os esforços, ele foi forçado a recuar para o leste diante da esmagadora superioridade turca. A situação dos armênios era desesperadora. As forças turcas avançavam rapidamente, e em maio de 1918, estavam perigosamente próximas de Yerevan, a futura capital armênia. Foi nesse momento crítico que a resiliência armênia brilhou na Batalha de Sardarabad. Embora Andranik não estivesse diretamente no comando em Sardarabad, a vitória decisiva dos armênios nessa batalha, contra todas as probabilidades, impediu a aniquilação total e abriu caminho para a declaração de independência.

Divergências com a Primeira República da Armênia

O Conselho Nacional Armênio, dominado pelo partido Dashnak, declarou a independência da Armênia e, sob a pressão de uma situação militar catastrófica, assinou o Tratado de Batum com o Império Otomano. Este tratado, profundamente desfavorável, forçou a Armênia a abrir mão de seus direitos sobre a vasta maioria da Armênia Ocidental. Andranik, com sua visão de uma Grande Armênia, nunca aceitou a existência da Primeira República da Armênia com suas fronteiras drásticas e limitadas. Ele acreditava que o tratado era uma traição aos sacrifícios de seu povo e que a nova república representava apenas uma pequena fração da área que muitos armênios esperavam ver independente e unida.

Os Últimos Anos: Luta em Zangezur e Exílio

Movido por seu ideal de uma Armênia maior e mais justa, Andranik continuou a lutar independentemente da Primeira República da Armênia. Ele concentrou seus esforços em Zangezur (atual província de Syunik), onde travou batalhas cruciais contra os exércitos do Azerbaijão e da Turquia. Sua tenacidade e liderança foram fundamentais para manter essa região estratégica dentro das fronteiras da Armênia. No entanto, as divergências políticas com o governo armênio da Primeira República se aprofundaram. Em 1919, desiludido e incapaz de conciliar suas visões com a liderança existente, Andranik deixou a Armênia.

Seus últimos anos foram dedicados a uma nova missão: a busca por ajuda humanitária para os milhares de refugiados armênios dispersos pela Europa e pelos Estados Unidos. Ele viajou extensivamente, advogando incansavelmente pela causa de seu povo. Em 1922, Andranik se estabeleceu em Fresno, Califórnia, uma cidade com uma significativa comunidade armênia. Cinco anos depois, em 1927, o General Andranik faleceu, deixando um legado indelével.

O Legado Eterno de Andranik Ozanian

Apesar das adversidades e das desilusões políticas, Andranik Ozanian é universalmente admirado como um herói nacional pelos armênios em todo o mundo. Sua imagem é a do patriota inabalável, do comandante corajoso e do defensor do povo. Inúmeras estátuas em sua homenagem foram erguidas em diversos países, ruas e praças levam seu nome, e sua vida e feitos inspiraram canções, poemas e romances, solidificando seu lugar como uma figura lendária na cultura e na memória coletiva armênia. Ele permanece um símbolo da resiliência, da luta pela justiça e da busca incessante pela liberdade e unidade nacional.

Perguntas Frequentes (FAQs) sobre Andranik Ozanian

Quem foi Andranik Ozanian?
Andranik Ozanian foi um proeminente comandante militar e estadista armênio, conhecido como General Andranik. Ele foi um dos fedayi mais famosos e uma figura central no movimento de libertação nacional armênio no final do século XIX e início do século XX.
O que significa "fedayi"?
Fedayi (plural: fedayeen) é um termo árabe que significa "aqueles que se sacrificam". No contexto armênio, refere-se aos combatentes voluntários que lutaram pela autodefesa e pela libertação nacional dos armênios, especialmente contra a opressão otomana e curda.
Qual foi o papel de Andranik no movimento de libertação nacional armênio?
Andranik foi um líder militar chave, ativo desde o final da década de 1880 na luta armada contra o Império Otomano e irregulares curdos. Ele defendeu o campesinato armênio, liderou voluntários armênios em várias guerras (incluindo as Guerras Balcânicas e a Primeira Guerra Mundial) e buscou a independência e união das terras armênias.
Por que Andranik é considerado um herói nacional?
Ele é reverenciado por sua coragem, liderança militar, dedicação inabalável à causa armênia e por seus esforços para defender e libertar seu povo das forças opressoras. Sua figura simboliza a resistência e a esperança nacional.
Qual foi o envolvimento de Andranik na Primeira Guerra Mundial?
Durante a Primeira Guerra Mundial, Andranik comandou o primeiro batalhão de voluntários armênios dentro do exército imperial russo, lutando contra o Império Otomano. Ele conseguiu capturar e governar grande parte da pátria armênia tradicional, mas foi forçado a recuar após a retirada russa em 1917.
Por que Andranik não aceitou a Primeira República da Armênia?
Ele não aceitou a Primeira República da Armênia devido às suas fronteiras extremamente reduzidas, estabelecidas pelo Tratado de Batum. Andranik tinha uma visão de uma Armênia maior e unida, e considerava o tratado uma traição aos ideais do movimento de libertação.
Onde Andranik passou seus últimos anos de vida?
Após deixar a Armênia em 1919 devido a divergências políticas, Andranik passou seus últimos anos na Europa e nos Estados Unidos, onde buscou apoio para os refugiados armênios. Ele se estabeleceu em Fresno, Califórnia, em 1922, e lá faleceu em 1927.