A União Soviética adota uma nova constituição e a República Socialista Soviética Quirguiz é estabelecida como uma República da União plena da URSS.
A União Soviética, cujo nome oficial era União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), representou um capítulo fundamental na história mundial, existindo como um vasto estado comunista que se estendia pela Eurásia de 1922 a 1991. Nominalmente, era uma união federal composta por diversas repúblicas nacionais, cada uma com sua própria identidade cultural e linguística. Contudo, na prática, seu governo e economia operaram sob um modelo altamente centralizado, com as decisões emanando de Moscou, até os seus últimos anos de existência. O país foi, por quase toda a sua história (antes de 1990), um estado de partido único, firmemente governado pelo Partido Comunista da União Soviética. Moscou, a capital, situava-se na República Socialista Federativa Soviética da Rússia (RSFSR), a maior e mais populosa das repúblicas. Outros vibrantes centros urbanos incluíam Leningrado (também na RSFSR, hoje São Petersburgo), Kiev (na RSS Ucraniana), Minsk (na RSS Bielorrussa), Tashkent (na RSS Uzbeque), Alma-Ata (na RSS Cazaque) e Novosibirsk (na RSFSR). Sua grandiosidade geográfica era inigualável: a URSS era o maior país do mundo, cobrindo uma área superior a 22.402.200 quilômetros quadrados e abrangendo impressionantes onze fusos horários, o que espelhava sua imensa diversidade territorial e climática.
As Raízes da Revolução e a Formação da URSS
A gênese da União Soviética remonta à efervescente Revolução de Outubro de 1917. Neste período de profunda turbulência, os bolcheviques, liderados pela figura carismática de Vladimir Lenin, orquestraram a derrubada do Governo Provisório. Este governo, por sua vez, havia assumido o poder após o colapso da dinastia Romanov, que reinou sobre o Império Russo por séculos. A ascensão bolchevique culminou no estabelecimento da República Soviética Russa, proclamada como o primeiro estado socialista constitucionalmente garantido do mundo, um marco que ecoou globalmente e inspirou movimentos revolucionários. No entanto, a transição não foi pacífica. As tensões latentes explodiram em uma brutal guerra civil, confrontando o recém-formado Exército Vermelho bolchevique contra uma miríade de forças antibolcheviques que se espalhavam por todo o vasto antigo Império. Dentre essas, a facção mais proeminente era a Guarda Branca, composta por uma coalizão de monarquistas, liberais e outros socialistas que se opunham radicalmente aos bolcheviques.
Ambos os lados protagonizaram atos de violência extrema: a Guarda Branca empreendeu uma repressão anticomunista implacável contra bolcheviques e trabalhadores e camponeses suspeitos de simpatia revolucionária, evento conhecido como o Terror Branco. Em resposta, o Exército Vermelho, ao expandir seu controle e auxiliar os bolcheviques locais a consolidar o poder e estabelecer os "soviets" (conselhos de trabalhadores), suprimiu seus oponentes políticos e camponeses rebeldes através do igualmente brutal Terror Vermelho. Por volta de 1922, após anos de conflito devastador, o equilíbrio de poder inclinou-se decisivamente a favor dos bolcheviques. Com sua vitória assegurada, eles formalizaram a criação da União Soviética, um estado multinacional que resultou da unificação das repúblicas Russa, Transcaucasiana (abrangendo as atuais Armênia, Azerbaijão e Geórgia), Ucraniana e Bielorrussa. Logo após o término da guerra civil, Lenin, com uma visão pragmática, introduziu a Nova Política Econômica (NEP), que representou um desvio temporário dos princípios puramente comunistas ao permitir um retorno parcial do livre mercado e da propriedade privada em setores específicos. Essa medida astuta impulsionou um período vital de recuperação econômica e estabilização para o recém-formado estado.
A Era Stalinista: Consolidação e Consequências Drásticas
A morte de Lenin em 1924 abriu um vácuo de poder que foi habilmente preenchido por Joseph Stalin. Ele ascendeu ao comando da União Soviética, consolidando seu poder ao suprimir implacavelmente toda a oposição política ao seu governo dentro do Partido Comunista, especialmente aqueles que defendiam uma "revolução permanente" em contraste com sua doutrina de "socialismo em um só país". Stalin inaugurou uma economia de comando rigidamente centralizada, na qual o Estado controlava todos os meios de produção e distribuição. Este modelo impulsionou um período de acelerada industrialização e coletivização forçada da agricultura através dos ambiciosos Planos Quinquenais. Embora essas políticas tenham resultado em um crescimento econômico e militar significativo, transformando uma nação predominantemente agrária em uma potência industrial, elas também tiveram um custo humano terrível. A coletivização, em particular, provocou uma resistência generalizada entre os camponeses e resultou em uma fome devastadora e artificialmente induzida em 1932-1933, que ceifou milhões de vidas, especialmente na Ucrânia (conhecida como Holodomor).
Neste período sombrio, o sistema de campos de trabalho forçado, os infames Gulags, foi drasticamente expandido, tornando-se um pilar do controle estatal e da repressão. Stalin cultivou uma atmosfera de paranóia política, culminando no Grande Expurgo das décadas de 1930. Esta campanha de terror visava eliminar o que ele percebia como oponentes reais ou potenciais dentro do Partido Comunista, do exército e da sociedade em geral. Milhares de líderes militares, membros do Partido e cidadãos comuns foram submetidos a prisões em massa, execuções sumárias ou enviados para os brutais campos de trabalho correcional, solidificando o domínio autocrático de Stalin e eliminando qualquer vestígio de dissidência.
A União Soviética na Segunda Guerra Mundial e o Início da Guerra Fria
Em 23 de agosto de 1939, após tentativas infrutíferas de forjar uma aliança antifascista com as potências ocidentais contra a crescente ameaça nazista, os soviéticos chocaram o mundo ao assinar um pacto de não agressão com a Alemanha Nazista, conhecido como Pacto Molotov-Ribbentrop. Este pacto incluía protocolos secretos para a divisão de territórios da Europa Oriental. Com o início da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética, formalmente neutra, invadiu e anexou territórios de vários estados do Leste Europeu, incluindo as regiões orientais da Polônia, bem como a Lituânia, Letônia e Estônia. No entanto, a aliança de conveniência foi brutalmente rompida em junho de 1941, quando a Alemanha Nazista lançou a Operação Barbarossa, uma invasão em larga escala que abriu o maior e mais sangrento teatro de guerra da história humana na Frente Oriental.
A União Soviética sofreu perdas catastróficas, com as baixas de guerra soviéticas representando a vasta maioria das baixas aliadas no conflito. Apesar do custo inimaginável, o Exército Vermelho demonstrou uma resiliência extraordinária, conseguindo reverter a vantagem sobre as forças do Eixo em batalhas intensas e decisivas como a de Stalingrado, um verdadeiro ponto de virada na guerra. As forças soviéticas eventualmente avançaram por toda a Europa Oriental, capturando Berlim e selando a vitória dos Aliados na Europa em 9 de maio de 1945. O território conquistado e libertado pelo Exército Vermelho no Leste Europeu, contudo, não foi devolvido aos seus regimes anteriores, mas sim transformado em estados satélites sob a influência de Moscou, formando o que viria a ser conhecido como o Bloco Oriental. Este arranjo geopolítico deu origem, em 1947, à Guerra Fria, um longo período de tensão ideológica, política e militar, mas sem conflito direto em grande escala, onde o Bloco Oriental se opôs ao Bloco Ocidental, que, por sua vez, se uniria na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em 1949.
Desestalinização, Degelo e a Corrida Espacial
Após a morte de Stalin em 1953, a União Soviética entrou em um novo capítulo, marcado pelo período conhecido como desestalinização e o "degelo de Khrushchev", sob a liderança de Nikita Khrushchev. Este período viu a denúncia dos crimes de Stalin, embora mantendo a estrutura de partido único. O país experimentou um rápido desenvolvimento social e econômico, com milhões de camponeses se deslocando para cidades industrializadas em busca de novas oportunidades. A URSS assumiu a dianteira na Corrida Espacial, um símbolo da competição tecnológica e ideológica com o Ocidente, realizando feitos pioneiros: lançou o primeiro satélite artificial, o Sputnik 1 (1957); enviou o primeiro ser humano ao espaço, Yuri Gagarin (1961); e foi a primeira nação a pousar uma sonda em outro planeta, Vênus, com a Venera 7 (1970). Na década de 1970, houve uma breve distensão nas relações com os Estados Unidos, com acordos de controle de armas e uma retórica mais amena, que buscava evitar a escalada nuclear. No entanto, as tensões ressurgiram abruptamente quando a União Soviética enviou tropas para o Afeganistão em 1979, buscando apoiar um regime comunista. Esta intervenção se revelou um "Vietnã soviético", esgotando recursos econômicos e humanos, e foi acompanhada por uma escalada significativa da ajuda militar americana aos combatentes Mujahideen, prolongando o conflito e agravando a já frágil economia soviética.
Gorbachev, Reformas e o Colapso da União Soviética
Em meados da década de 1980, o último líder soviético, Mikhail Gorbachev, assumiu a tarefa monumental de reformar e liberalizar a estagnada economia e a fechada sociedade soviética através de suas políticas de Glasnost (abertura e transparência) e Perestroika (reestruturação econômica). O objetivo era preservar o Partido Comunista e revitalizar a economia, mas as reformas desencadearam forças incontroláveis. A Guerra Fria chegou ao seu fim durante seu mandato, e em 1989, uma onda de revoluções pacíficas varreu a Europa Central e Oriental, levando à queda dos regimes marxista-leninistas nos países do Pacto de Varsóvia, sem intervenção militar soviética. Simultaneamente, fortes movimentos nacionalistas e separatistas eclodiram em todas as repúblicas da URSS, expressando anseios de independência há muito tempo reprimidos.
Numa tentativa de salvar a União, Gorbachev iniciou um referendo nacional, embora boicotado por Lituânia, Letônia, Estônia, Armênia, Geórgia e Moldávia. A maioria dos cidadãos participantes votou a favor da preservação da União como uma federação renovada. Contudo, em agosto de 1991, uma tentativa de golpe de estado por radicais do Partido Comunista, que visavam restaurar a linha dura e deter as reformas, falhou espetacularmente, em grande parte devido à oposição popular e ao papel decisivo do então presidente russo Boris Yeltsin. O fracasso do golpe teve como um dos principais resultados a proibição do Partido Comunista da União Soviética. As repúblicas, impulsionadas pela Rússia e Ucrânia, rapidamente declararam sua independência. Em 25 de dezembro de 1991, Mikhail Gorbachev renunciou, marcando oficialmente o fim de 69 anos de existência da União Soviética. Todas as repúblicas emergiram da dissolução como estados pós-soviéticos independentes. A Federação Russa, herdeira da antiga RSFSR russa, assumiu os direitos e obrigações da União Soviética e é reconhecida internacionalmente como sua personalidade jurídica continuada nos assuntos mundiais, incluindo seu assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
O Legado e o Status de Superpotência da URSS
A União Soviética, ao longo de sua existência, produziu muitas conquistas e inovações sociais, tecnológicas e militares significativas. Embora seu modelo econômico centralizado tivesse falhas inerentes, a URSS chegou a ostentar a segunda maior economia do mundo e o maior exército permanente do planeta. Reconhecida como um dos cinco estados com armas nucleares, sua capacidade militar e seu vasto arsenal nuclear a colocaram no centro das relações internacionais. Foi um membro permanente fundador do Conselho de Segurança das Nações Unidas, bem como um membro ativo de outras organizações internacionais como a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e a Federação Sindical Mundial (FSM). Além disso, desempenhou um papel central como o principal membro do Conselho de Assistência Econômica Mútua (Comecon), seu bloco econômico, e do Pacto de Varsóvia, sua aliança militar defensiva que reunia os países do Bloco Oriental.
Antes de sua dissolução, a URSS manteve seu status de superpotência global, ao lado dos Estados Unidos, por aproximadamente quatro décadas após o término da Segunda Guerra Mundial. Frequentemente apelidada de "Império Soviético" devido à sua vasta esfera de influência, exerceu sua hegemonia não apenas na Europa Centro-Oriental, mas também em várias partes do mundo. Isso se manifestou através de sua força militar e econômica, pelo apoio a conflitos por procuração em regiões estratégicas, pela influência ideológica em países em desenvolvimento e pelo substancial financiamento de pesquisas científicas, especialmente em tecnologia espacial e armamento, elementos cruciais da competição da Guerra Fria.
Perguntas Frequentes (FAQs) sobre a União Soviética
- Qual era o nome oficial completo da União Soviética?
- O nome oficial completo era União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
- Quando a União Soviética existiu?
- A União Soviética existiu de 1922 a 1991, abrangendo um período de 69 anos.
- Quem foram os principais líderes da URSS?
- Os principais líderes foram Vladimir Lenin (fundador), Joseph Stalin (governou por mais de 30 anos), Nikita Khrushchev, Leonid Brejnev e Mikhail Gorbachev (último líder).
- Quais foram as principais causas da dissolução da União Soviética?
- As principais causas incluem a estagnação econômica, as políticas de Glasnost e Perestroika de Gorbachev que liberaram tensões, o fracasso do golpe de 1991, o colapso dos regimes do Pacto de Varsóvia e a ascensão de movimentos nacionalistas e separatistas nas repúblicas.
- O que foi a Corrida Espacial?
- A Corrida Espacial foi uma competição tecnológica e ideológica entre a União Soviética e os Estados Unidos durante a Guerra Fria para demonstrar superioridade em exploração espacial, resultando em feitos como o Sputnik e o primeiro voo humano ao espaço.
- O que significavam Glasnost e Perestroika?
- Glasnost significa "abertura" ou "transparência" e referia-se a uma maior liberdade de informação e debate público. Perestroika significa "reestruturação" e visava reformar a economia soviética centralmente planejada, introduzindo elementos de mercado.
- Como a União Soviética influenciou a política mundial?
- A URSS exerceu influência como uma superpotência global durante a Guerra Fria, liderando o Bloco Oriental, participando de conflitos por procuração, desenvolvendo armas nucleares e sendo membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, moldando significativamente a geopolítica mundial.
- O que aconteceu com as repúblicas após a dissolução da URSS?
- Após a dissolução, as quinze repúblicas tornaram-se estados independentes e soberanos, sendo que a Federação Russa herdou a maioria dos direitos e obrigações internacionais da União Soviética, incluindo seu assento na ONU.