Lee Teng-hui torna-se o primeiro presidente taiwanês nativo da República da China.
Lee Teng-hui (chinês: 李登輝), uma figura monumental na história moderna de Taiwan, nasceu em 15 de janeiro de 1923 e faleceu em 30 de julho de 2020. Reverenciado como estadista e economista, ele deixou uma marca indelével na República da China (Taiwan) ao atuar como seu Presidente sob a Constituição de 1947 e, simultaneamente, como presidente do Kuomintang (KMT) de 1988 a 2000. Sua liderança foi um divisor de águas, marcando o início da era democrática de Taiwan e moldando a identidade política da ilha de maneiras profundas e duradouras.
Uma Trajetória Única Rumo ao Poder
A ascensão de Lee Teng-hui ao cargo mais alto de Taiwan foi, em si, um reflexo das mudanças que ele viria a catalisar. Nascido em uma família de agricultores no período da colonização japonesa, ele foi o primeiro presidente a nascer na própria ilha, um fato que ressoaria profundamente com o movimento de identidade taiwanesa. Sua educação notável incluiu estudos avançados em agronomia, com um doutorado obtido na Universidade Cornell, nos Estados Unidos, o que lhe conferiu uma base intelectual robusta.
Sua carreira política começou a ganhar proeminência na década de 1970, culminando em sua nomeação como vice-presidente em 1984, sob a presidência de Chiang Ching-kuo. Quando Chiang faleceu subitamente em 1988, Lee assumiu a presidência, herdando um país em transição. Ele não só se tornou o último presidente a ser eleito indiretamente pela Assembleia Nacional, como também o primeiro a ser eleito diretamente pelo voto popular, um testemunho de seu compromisso com a democratização.
O Arquiteto da Democracia de Taiwan
Durante seus doze anos de mandato, Lee Teng-hui foi o catalisador de transformações políticas sem precedentes. Seu governo supervisionou a abolição das "Disposições Provisórias Efetivas Durante o Período de Rebelião Comunista", que haviam efetivamente mantido a lei marcial e consolidado o poder do KMT, abrindo caminho para reformas constitucionais e legislativas que desmantelaram os resquícios do autoritarismo.
- Fim da Lei Marcial e Plena Democratização: Embora a lei marcial tenha sido suspensa por Chiang Ching-kuo, foi sob Lee que as reformas democráticas se aprofundaram e se consolidaram. Isso incluiu a realização das primeiras eleições presidenciais diretas em 1996, um marco histórico que permitiu aos cidadãos taiwaneses escolherem diretamente seu líder pela primeira vez, garantindo a legitimidade democrática do governo.
- Defesa da Localização de Taiwan: Lee foi um forte defensor do movimento de "localização de Taiwan" (本土化), que buscava fortalecer a identidade cultural e política taiwanesa, afastando-se da visão de que Taiwan era meramente uma província da China continental. Ele incentivou o estudo da história e cultura taiwanesas, e a promoção do mandarim taiwanês e de outras línguas locais, forjando um senso de pertencimento distintamente taiwanês.
- Política Externa Ambiciosa: No cenário internacional, Lee liderou uma política externa vigorosa e ambiciosa, conhecida como "diplomacia pragmática" ou "diplomacia do feriado", buscando ativamente o reconhecimento e a construção de alianças globais para Taiwan, apesar da pressão constante da República Popular da China. Ele viajou para diversos países, fortalecendo laços e buscando romper o isolamento diplomático da ilha.
Não foi à toa que ele ganhou o apelido carinhoso de "Sr. Democracia". Lee Teng-hui é amplamente creditado como o presidente que iniciou e consolidou a transição de Taiwan de um regime autoritário de partido único para uma democracia vibrante e plena, um legado que continua a definir a República da China até hoje.
Um Legado Duradouro e Controverso
Mesmo após deixar a presidência em 2000, Lee Teng-hui permaneceu uma figura ativa e influente na política taiwanesa. Sua postura e ideologias continuaram a evoluir, levando a uma eventual ruptura com o Kuomintang, o partido que ele outrora liderou. Ele passou a ser considerado o "líder espiritual" da Taiwan Solidarity Union (TSU), um partido político abertamente pró-independência que defendia uma identidade taiwanesa ainda mais distinta e a soberania total da ilha.
Em 2001, sua decisão de fazer campanha para candidatos do TSU nas eleições legislativas de Taiwan foi o estopim para sua expulsão do KMT. Esse evento simbolizou o aprofundamento das divisões ideológicas dentro do espectro político de Taiwan, entre aqueles que favoreciam laços mais estreitos com a China continental e os que defendiam a independência de facto da ilha.
Suas atividades políticas pós-presidência também incluíram a manutenção de relações notáveis com o ex-presidente Chen Shui-bian, do Partido Democrático Progressista (DPP) – um partido tradicionalmente oponente do KMT –, e com o Japão. Seus fortes laços com o Japão, forjados em sua juventude e educação, eram frequentemente vistos como um contrapeso à crescente influência da China na região e um reflexo de sua visão de uma Taiwan mais independente e orientada para o Pacífico. Lee Teng-hui é, sem dúvida, uma das figuras mais complexas e impactantes da história contemporânea de Taiwan, cujo legado continua a ser debatido e celebrado.
Perguntas Frequentes (FAQs)
- Quem foi Lee Teng-hui?
- Lee Teng-hui foi um proeminente estadista e economista taiwanês, lembrado como o Presidente da República da China (Taiwan) e presidente do Kuomintang (KMT) de 1988 a 2000. Ele é amplamente reconhecido como o principal arquiteto da democratização de Taiwan.
- Por que Lee Teng-hui é conhecido como "Sr. Democracia"?
- Ele recebeu esse apelido por sua liderança decisiva na transição de Taiwan de um regime autoritário para uma democracia plena. Durante sua presidência, ele supervisionou o fim das disposições que mantinham a lei marcial e a realização das primeiras eleições presidenciais diretas em 1996, entre outras reformas democráticas fundamentais.
- Quais foram os principais marcos de sua presidência?
- Seus marcos incluem ser o primeiro presidente nascido em Taiwan, o último a ser eleito indiretamente e o primeiro a ser eleito diretamente. Ele foi fundamental na abolição do autoritarismo, na promoção do movimento de localização de Taiwan (本土化) e na implementação de uma política externa ambiciosa para expandir o reconhecimento internacional da ilha.
- Qual foi a relação de Lee Teng-hui com o Taiwan Solidarity Union (TSU)?
- Após deixar a presidência, Lee Teng-hui tornou-se o "líder espiritual" do Taiwan Solidarity Union (TSU), um partido pró-independência. Sua ativa campanha para candidatos do TSU nas eleições legislativas de 2001 levou à sua expulsão do Kuomintang (KMT), partido que ele havia liderado por anos, evidenciando sua crescente divergência ideológica.
- Como Lee Teng-hui influenciou a identidade taiwanesa?
- Lee defendeu fervorosamente o movimento de "localização de Taiwan", incentivando o povo a reconhecer e valorizar sua própria história, cultura e identidade distintas, separadas da China continental. Ele ajudou a forjar um senso de nacionalidade taiwanesa que continua a ser um pilar da política e da sociedade da ilha.