Atletas dos Estados Unidos Tommie Smith e John Carlos são expulsos da equipe dos EUA por participar da saudação Black Power dos Jogos Olímpicos de 1968.
Tommie C. Smith, nascido em 6 de junho de 1944, é uma figura icónica na história do desporto americano, reconhecido tanto pelas suas proezas atléticas nas pistas como pelo seu poderoso ativismo. Antes de se tornar um símbolo de protesto, Smith brilhou como um talentoso atleta de atletismo e também teve uma passagem como wide receiver na American Football League, demonstrando uma versatilidade atlética notável. No entanto, foi nos Jogos Olímpicos de Verão da Cidade do México, em 1968, que Smith solidificou o seu lugar não apenas nos anais do desporto, mas também na história social e política.
Aos 24 anos, no auge da sua forma física, Smith dominou as finais de sprint dos 200 metros, conquistando a medalha de ouro com um tempo notável de 19,83 segundos. Esta marca não foi apenas uma vitória pessoal; foi um feito histórico, pois representou a primeira vez que a barreira dos 20 segundos foi oficialmente quebrada na distância, estabelecendo um novo recorde mundial e um testemunho do seu talento e dedicação.
O Momento Simbólico: A Saudação no Pódio Olímpico
Contudo, a celebração da vitória atlética de Tommie Smith seria indelévelmente ligada a um ato de profundo significado político e social. Naquele ano de 1968, os Estados Unidos estavam em efervescência, marcados pelo Movimento dos Direitos Civis, pela luta contra a segregação racial e por profundas divisões sociais. O pódio olímpico na Cidade do México tornou-se, para Smith e o seu colega John Carlos, um palco para uma declaração inequívoca contra o racismo e a injustiça enfrentados pelos afro-americanos.
Durante a cerimónia de entrega de medalhas, realizada no Estádio Olímpico da Cidade do México em 16 de outubro de 1968, um momento de silêncio poderoso capturou a atenção do mundo. Enquanto o hino nacional dos EUA, "The Star-Spangled Banner", ecoava pelo estádio, Tommie Smith, medalhista de ouro, e John Carlos, medalhista de bronze nos 200 metros, ergueram os seus punhos enluvados. Virados para a bandeira dos Estados Unidos, mantiveram as mãos levantadas até o final do hino, um gesto de protesto silencioso, mas ensurdecedor.
Além dos punhos erguidos, havia outros elementos simbólicos. Smith e Carlos estavam descalços, usando apenas meias pretas, para simbolizar a pobreza negra. Smith usava um lenço preto para representar o orgulho negro, e Carlos tinha um colar de contas para homenagear as vítimas de linchamento e os que haviam morrido pelos direitos civis. Notavelmente, Peter Norman, o medalhista de prata australiano, que havia demonstrado solidariedade com os seus colegas, usava um distintivo do Projeto Olímpico para os Direitos Humanos (OPHR) na sua jaqueta, assim como Smith e Carlos. Norman, um homem branco de um país com suas próprias questões de direitos civis e racismo contra os aborígenes, mostrou uma coragem ímpar ao apoiar publicamente o protesto, mesmo sabendo das potenciais repercussões.
Controvérsia, Revisão e Legado Duradouro
A saudação de Smith e Carlos, que se tornou conhecida como a "Saudação Black Power", gerou uma onda de controvérsia imediata. Muitos a viram como uma politização inaceitável dos Jogos Olímpicos, um evento que se pretendia apolítico e focado na unidade através do desporto. A resposta do Comité Olímpico Internacional (COI) foi rápida e severa: Smith e Carlos foram suspensos da equipa olímpica dos EUA, expulsos da Vila Olímpica e enviados para casa, enfrentando críticas e ostracismo em vários setores da sociedade americana.
Décadas mais tarde, Tommie Smith ofereceria uma nuance à interpretação do seu gesto. Na sua autobiografia, "Silent Gesture" (Gesto Silencioso), publicada quase 30 anos após os eventos, Smith revisou a sua declaração inicial, explicando que o gesto não era uma saudação ao "Black Power" em si, mas sim uma saudação aos "direitos humanos". Ele argumentou que era um pedido por igualdade para todos, independentemente da raça, um lembrete de que o espírito olímpico de fraternidade estava em conflito com as realidades da sociedade americana da época. Esta distinção sublinha a amplitude da sua mensagem e o desejo de ver o tratamento equitativo para todas as pessoas.
Independentemente da designação específica, a manifestação de Tommie Smith e John Carlos permanece um dos atos mais abertamente políticos e simbólicos na história dos Jogos Olímpicos modernos. É um momento que transcende a competição atlética, servindo como um poderoso lembrete da intersecção entre desporto, política e direitos humanos. O legado deste protesto inspirou gerações de atletas-ativistas e continua a ser um ponto de referência crucial nas discussões sobre justiça social e representação no desporto.
Perguntas Frequentes (FAQs)
- Qual foi o objetivo do protesto de Tommie Smith e John Carlos nos Jogos Olímpicos de 1968?
- O objetivo principal era protestar contra o racismo, a segregação e a injustiça social enfrentados pelos afro-americanos nos Estados Unidos. Eles usaram o pódio olímpico como uma plataforma global para chamar a atenção para essas questões.
- Quem eram Tommie Smith e John Carlos?
- Tommie Smith era um velocista americano que ganhou a medalha de ouro nos 200 metros nos Jogos Olímpicos de 1968, quebrando o recorde mundial. John Carlos era outro velocista americano que conquistou a medalha de bronze na mesma prova. Ambos eram atletas afro-americanos que se tornaram ícones do ativismo social.
- Qual foi o papel de Peter Norman, o atleta australiano?
- Peter Norman, o medalhista de prata australiano, demonstrou solidariedade com Smith e Carlos ao usar um distintivo do Projeto Olímpico para os Direitos Humanos (OPHR) na sua jaqueta durante a cerimónia de entrega de medalhas. Ele também sugeriu que Smith e Carlos partilhassem as luvas que tinham, o que resultou em Smith a usar a luva direita e Carlos a usar a luva esquerda. O seu ato de apoio foi significativo e corajoso, custando-lhe potencialmente a sua própria carreira desportiva.
- Quais foram as consequências para Smith e Carlos após o protesto?
- Ambos os atletas foram suspensos da equipa olímpica dos EUA, expulsos da Vila Olímpica e enviados para casa. Eles enfrentaram ostracismo e críticas significativas ao regressarem aos Estados Unidos, sendo por vezes rotulados de anti-americanos. Suas carreiras atléticas e vidas pessoais foram impactadas negativamente a curto prazo, mas a longo prazo, seu legado foi reavaliado e eles foram reconhecidos por seu ativismo.
- O protesto foi uma "Saudação Black Power" ou uma "Saudação pelos Direitos Humanos"?
- Embora popularmente conhecido como a "Saudação Black Power", Tommie Smith, em sua autobiografia "Silent Gesture", esclareceu que o gesto era, na verdade, uma saudação pelos "direitos humanos". Ele afirmou que o objetivo era defender a igualdade para todas as pessoas, não apenas um movimento específico, embora estivesse intrinsecamente ligado à luta dos afro-americanos por direitos civis na época.
- Qual é o legado duradouro deste protesto?
- O protesto permanece um momento icónico na história do desporto e do ativismo social. Ele destacou a capacidade dos atletas de usar suas plataformas para causas sociais e inspirou futuras gerações de atletas-ativistas. É um poderoso lembrete da interconexão entre desporto, política e a busca por justiça e igualdade, e continua a ser um tópico relevante de discussão sobre a liberdade de expressão no desporto.