Alija Izetbegović, advogado e político bósnio, 1º presidente da Bósnia e Herzegovina (n. 1925)

Alija Izetbegović (pronúncia bósnia: [ǎlija ǐzedbeɡoʋitɕ]), nascido em 8 de agosto de 1925 e falecido em 19 de outubro de 2003, foi uma figura central na história moderna da Bósnia e Herzegovina. Ele é amplamente reconhecido como um proeminente político bósnio, advogado, filósofo islâmico e autor, cujas ações e pensamentos moldaram profundamente a trajetória de sua nação no final do século XX. Izetbegović entrou para a história em 1992 ao se tornar o primeiro Presidente da Presidência da recém-independente República da Bósnia e Herzegovina, um cargo que ocupou durante os desafiadores anos da guerra e da construção do Estado. Sua liderança estendeu-se até 1996, quando a estrutura política pós-Acordo de Dayton o viu continuar a servir como membro da Presidência da Bósnia e Herzegovina até o ano de 2000.

Muito antes de assumir as rédeas da liderança nacional, Izetbegović já era uma voz influente. Ele foi o fundador e o primeiro presidente do Partido da Ação Democrática (Stranka Demokratske Akcije – SDA), uma força política crucial na defesa dos interesses bósnios muçulmanos e na transição do país do comunismo para a democracia. Além de sua carreira política, sua mente prolífica produziu diversas obras literárias e filosóficas que exploram a intersecção entre Islã, Ocidente e modernidade, sendo as mais notáveis Islã Entre Oriente e Ocidente e A Declaração Islâmica. Sua vida, marcada por períodos de encarceramento sob regimes comunistas, refletiu seu compromisso inabalável com a liberdade e a justiça.

Uma Vida Dedicada à Liberdade e à Bósnia

A trajetória de Alija Izetbegović foi forjada em meio a turbulências políticas e ideológicas. Nascido em Bosanski Šamac, na Bósnia e Herzegovina, então parte do Reino dos Sérvios, Croatas e Eslovenos (mais tarde Iugoslávia), sua juventude foi profundamente impactada pela Segunda Guerra Mundial e pela subsequente ascensão do comunismo na Iugoslávia. Desde cedo, Izetbegović demonstrou um profundo interesse por filosofia e teologia islâmica, o que o levou a fundar uma organização islâmica, a "Mladi Muslimani" (Jovens Muçulmanos), durante a guerra. Essa atividade, considerada subversiva pelo regime comunista de Tito, resultou em sua primeira prisão em 1946, onde foi condenado a três anos de prisão.

Após cumprir sua pena, Izetbegović concluiu seus estudos de Direito na Universidade de Sarajevo, dedicando-se à advocacia. No entanto, seu ativismo intelectual e religioso nunca cessou. Em 1970, ele publicou "A Declaração Islâmica", um manifesto que defendia a modernização do pensamento islâmico e a renovação social, mas que foi interpretado por muitos como um chamado ao estabelecimento de um estado islâmico, o que gerou controvérsia. Essa obra, juntamente com sua contínua defesa de direitos humanos e liberdades religiosas em um contexto ateísta e comunista, levou à sua segunda e mais longa prisão em 1983. Ele foi julgado no infame "Julgamento de Sarajevo" com outros intelectuais bósnios muçulmanos e condenado a 14 anos de prisão, acusado de crimes contra-revolucionários e ativismo islâmico. Foi libertado em 1988, em meio às crescentes tensões políticas que prenunciavam o colapso da Iugoslávia.

O Caminho para a Independência e a Presidência

A queda do Muro de Berlim e o enfraquecimento dos regimes comunistas abriram caminho para a democratização na Europa Oriental e nos Bálcãs. Em 1990, com a Iugoslávia à beira da dissolução e o surgimento de partidos políticos multipartidários, Alija Izetbegović fundou o Partido da Ação Democrática (SDA). O SDA rapidamente se tornou a principal força política entre os bósnios, defendendo a soberania da Bósnia e Herzegovina e a convivência multiétnica em uma república democrática. Nas primeiras eleições multipartidárias de 1990, Izetbegović foi eleito para a Presidência da República Socialista da Bósnia e Herzegovina, uma presidência coletiva de sete membros.

À medida que a Iugoslávia se desintegrava e as guerras eclodiam na Croácia e na Eslovênia, a Bósnia e Herzegovina enfrentava pressões crescentes para declarar sua independência. Após um referendo pela independência, boicotado pelos sérvios bósnios, em março de 1992, Izetbegović proclamou a independência da República da Bósnia e Herzegovina. Essa decisão, embora celebrada por muitos, precipitou a eclosão da Guerra da Bósnia, uma das mais brutais da Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Como Presidente da Presidência, Izetbegović assumiu o papel de líder supremo durante o conflito, um período marcado pelo cerco a Sarajevo, limpeza étnica e tentativas de desmembrar o país.

Liderança em Tempos de Guerra e Paz

Durante os anos de guerra (1992-1995), Izetbegović liderou a resistência bósnia, buscando apoio internacional e defendendo a integridade territorial e a soberania de seu país. Sua liderança foi crucial para manter o moral da população e para a organização das Forças Armadas da República da Bósnia e Herzegovina. Ele participou ativamente das negociações de paz que culminaram no Acordo de Dayton, assinado em novembro de 1995. Este acordo pôs fim ao conflito, mas também estabeleceu uma estrutura política complexa para a Bósnia e Herzegovina, dividindo o país em duas entidades: a Federação da Bósnia e Herzegovina (predominantemente bósnio e croata) e a Republika Srpska (predominantemente sérvia), sob um governo central fraco.

Com a implementação do Acordo de Dayton, a estrutura da Presidência da Bósnia e Herzegovina foi alterada para um modelo tripartite, com um membro de cada grupo étnico principal (bósnio, sérvio e croata) servindo como chefe de estado coletivo. Embora tenha deixado o cargo de "Presidente da Presidência da República" em 1996, Izetbegović continuou a servir como o membro bósnio da Presidência tripartite da Bósnia e Herzegovina até o ano de 2000, quando se retirou da vida política ativa devido a problemas de saúde. Sua transição de uma liderança unitária para uma coletiva simbolizou a nova e complexa realidade política do país após a guerra.

Legado Intelectual e Político

O legado de Alija Izetbegović é multifacetado. Politicamente, ele é reverenciado por muitos bósnios como o "Pai da Nação", o líder que guiou o país à independência e o defendeu durante os anos mais sombrios da guerra. Sua visão de uma Bósnia e Herzegovina multiétnica, democrática e independente continua sendo um pilar da identidade nacional bósnia. No entanto, sua figura também é alvo de críticas por parte de alguns, especialmente no que tange à sua interpretação do islamismo e ao seu papel nos eventos que levaram à guerra.

Do ponto de vista intelectual, Izetbegović deixou uma marca duradoura com suas obras. Islã Entre Oriente e Ocidente (originalmente publicada em 1980) é talvez seu trabalho mais influente, onde ele argumenta pela necessidade de o Islã encontrar um caminho equilibrado entre as influências materialistas do Ocidente e as tendências tradicionalistas do Oriente, buscando uma síntese que combine espiritualidade e modernidade. Esta obra revela sua profundidade filosófica e seu desejo de reformar o pensamento islâmico contemporâneo, distanciando-o tanto do dogmatismo quanto da assimilação cultural. Sua produção literária, muitas vezes escrita em condições adversas, reflete um intelectual profundamente engajado com as questões de identidade, fé e a construção de uma sociedade justa e livre.

Perguntas Frequentes

Quem foi Alija Izetbegović?
Alija Izetbegović foi um político, advogado, filósofo islâmico e autor bósnio, que se tornou o primeiro Presidente da Presidência da recém-independente República da Bósnia e Herzegovina em 1992. É considerado uma figura fundadora do estado moderno bósnio.
Quais foram seus principais cargos políticos?
Ele serviu como o primeiro Presidente da Presidência da República da Bósnia e Herzegovina de 1992 a 1996. Após o Acordo de Dayton, continuou como membro bósnio da Presidência coletiva da Bósnia e Herzegovina de 1996 a 2000.
Qual partido político ele fundou?
Alija Izetbegović foi o fundador e primeiro presidente do Partido da Ação Democrática (SDA), um dos partidos políticos mais influentes na Bósnia e Herzegovina pós-comunista.
Quais foram suas obras literárias mais conhecidas?
Suas obras mais notáveis incluem Islã Entre Oriente e Ocidente e A Declaração Islâmica. Esses livros exploram questões de identidade islâmica, modernidade e a relação entre religião e política.
Por que Alija Izetbegović é considerado uma figura histórica importante?
Ele é crucial por sua liderança durante a independência da Bósnia e Herzegovina e a subsequente Guerra da Bósnia, sendo o principal defensor da soberania e integridade territorial do país. Além disso, suas contribuições intelectuais e filosóficas sobre o Islã e a sociedade moderna conferem-lhe um lugar de destaque na história.
Ele teve algum problema com o regime comunista?
Sim, Alija Izetbegović foi preso duas vezes pelo regime comunista iugoslavo: primeiro em 1946 e depois em 1983, por sua associação com o ativismo islâmico e por suas publicações que defendiam a liberdade religiosa e política, sendo visto como uma ameaça ao sistema.