Começa a Guerra da Independência de Moçambique contra Portugal.

A Guerra da Independência de Moçambique, um capítulo crucial na história da descolonização africana, foi um conflito armado prolongado que opôs as forças de guerrilha da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) às forças armadas de Portugal. Este confronto não foi um evento isolado; inseriu-se numa série mais vasta de guerras coloniais que Portugal travou nos seus territórios africanos, marcando o declínio e o fim de séculos de presença portuguesa na região.

O conflito iniciou-se oficialmente a 25 de setembro de 1964, emergindo de uma profunda e crescente inquietação e frustração entre grande parte da população indígena moçambicana. Durante séculos, estas populações suportaram um domínio estrangeiro que era crescentemente percebido como explorador e injusto, servindo primariamente os interesses económicos de Portugal. As políticas portuguesas, nomeadamente as implementadas pelo regime autoritário do Estado Novo, resultaram numa discriminação generalizada, limitando severamente o acesso dos moçambicanos à educação formal de estilo europeu e a empregos qualificados, o que naturalmente fomentou um profundo sentimento de injustiça e ressentimento.

Na esteira da Segunda Guerra Mundial, o continente africano foi palco de uma vaga de movimentos bem-sucedidos de autodeterminação. Esta dinâmica global inspirou um crescente sentido de nacionalismo entre os moçambicanos, intensificando o seu desejo pelo fim do domínio estrangeiro. Contudo, este fervor nacionalista não foi acolhido de forma unânime. Muitos africanos indígenas que se haviam aculturado e integrado na organização social do Moçambique português, especialmente aqueles residentes nos centros urbanos, encararam as reivindicações de independência com uma mistura de desconforto e desconfiança. Em contrapartida, as autoridades portuguesas, perante as tensões crescentes, responderam com o reforço da sua presença militar e a aceleração de projetos de desenvolvimento, frequentemente promovendo a ideia de um "Ultramar" que seria uma parte indissociável de Portugal.

A formação da FRELIMO representou um desenvolvimento decisivo. Muitos intelectuais políticos moçambicanos, compelidos ao exílio em países vizinhos, encontraram refúgios seguros a partir dos quais podiam organizar-se e fomentar a agitação política na sua terra natal. A FRELIMO conseguiu angariar um apoio internacional significativo, recebendo armas e assessores de um grupo diversificado de nações, que incluía a União Soviética, a Roménia, a China, Cuba, a Iugoslávia, a Bulgária, a Tanzânia, a Zâmbia, o Egito, a Argélia, o regime de Gaddafi na Líbia e, conforme registado, também do Brasil. Este apoio externo foi crucial para a eclosão e a sustentação da violência que se prolongaria por mais de uma década.

Do ponto de vista militar, o exército regular português geralmente manteve a vantagem contra as forças guerrilheiras da FRELIMO ao longo do conflito. No entanto, a resolução final da guerra não se decidiu apenas nos campos de batalha africanos. Um evento transformador em Portugal, conhecido como a Revolução dos Cravos, alterou fundamentalmente o curso da história. Este movimento de resistência civil, apoiado por setores progressistas das Forças Armadas portuguesas, derrubou o regime autoritário do Estado Novo a 25 de abril de 1974.

Historiadores atribuem este golpe militar crucial em Portugal, em parte, a protestos generalizados a nível doméstico contra a conduta das tropas portuguesas nas suas colónias africanas, incluindo Moçambique, e ao tratamento dado a parte da população indígena. Além disso, a crescente influência comunista no seio do grupo de insurgentes portugueses que lideraram o golpe, juntamente com a enorme pressão da comunidade internacional relativamente à dispendiosa e prolongada Guerra Colonial Portuguesa, contribuiu significativamente para a queda do regime. A Revolução dos Cravos abriu caminho para negociações, culminando num cessar-fogo a 8 de setembro de 1974. Finalmente, após cerca de 470 anos de presença colonial portuguesa, Moçambique alcançou a sua tão desejada independência a 25 de junho de 1975, inaugurando uma nova era para a nação da África Oriental.

Perguntas Frequentes (FAQs)

O que foi a Guerra da Independência de Moçambique?
Foi um conflito armado entre as forças de guerrilha da FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique) e Portugal, com o objetivo de conquistar a independência de Moçambique do domínio colonial português.
Quais foram as principais partes envolvidas no conflito?
Os principais combatentes foram a FRELIMO e as Forças Armadas Portuguesas.
Quando ocorreu a guerra?
A guerra iniciou-se oficialmente a 25 de setembro de 1964 e terminou com um cessar-fogo a 8 de setembro de 1974, embora a independência formal de Moçambique tenha sido alcançada a 25 de junho de 1975.
Quais foram as causas primárias do conflito?
As causas incluíram a frustração e inquietação da população indígena moçambicana com o domínio colonial exploratório de Portugal, a discriminação racial e o acesso limitado à educação e empregos qualificados, e o avanço dos movimentos de autodeterminação em África.
Como Moçambique obteve a independência apesar da vantagem militar portuguesa?
A independência foi alcançada principalmente devido à Revolução dos Cravos em Portugal, um golpe militar e movimento civil que derrubou o regime autoritário do Estado Novo. Este evento levou ao fim da Guerra Colonial Portuguesa e abriu caminho para negociações de independência.
Qual foi o papel da Revolução dos Cravos?
A Revolução dos Cravos, que ocorreu em Portugal em 25 de abril de 1974, foi o catalisador que permitiu a independência de Moçambique (e de outras colónias portuguesas). O novo governo português que emergiu da revolução estava empenhado em acabar com as guerras coloniais e conceder a autodeterminação aos territórios africanos.
Que países apoiaram a FRELIMO?
A FRELIMO recebeu apoio significativo, incluindo armas e assessores, de várias nações, como a União Soviética, Roménia, China, Cuba, Iugoslávia, Bulgária, Tanzânia, Zâmbia, Egito, Argélia, o regime de Gaddafi na Líbia e, conforme registado, também do Brasil.