No dia 6 de dezembro de 1989, um evento chocante e inesquecível marcou profundamente o Canadá, reverberando até hoje na memória coletiva da nação. Conhecido como o Massacre da École Polytechnique, ou simplesmente Massacre de Montreal, este foi um tiroteio em massa de caráter antifeminista que ocorreu na prestigiada École Polytechnique de Montréal, na província de Quebec. Catorze jovens mulheres perderam a vida em um ato de violência sem precedentes, enquanto outras 10 mulheres e quatro homens ficaram feridos, deixando uma cicatriz permanente na sociedade canadense.

O Trágico Dia 6 de Dezembro de 1989

A tarde de 6 de dezembro de 1989 começou como qualquer outra em Montreal, uma cidade vibrante e bilingue. No entanto, dentro dos corredores da École Polytechnique, uma escola de engenharia afiliada à Université de Montréal, o terror estava prestes a se instalar. Marc Lépine, armado com um rifle semiautomático Ruger Mini-14 e uma faca de caça, ambos adquiridos legalmente, invadiu uma aula de engenharia mecânica. Num ato deliberado e carregado de ódio, ele ordenou que as mulheres se separassem dos homens na sala de aula. Antes de abrir fogo, Lépine proferiu palavras que se tornariam infames: "Estou a lutar contra o feminismo". Em seguida, ele atirou nas nove mulheres presentes, matando seis delas.

A violência não se conteve àquela sala. Nos 20 minutos seguintes, o atirador moveu-se pelos corredores, pelo refeitório da escola e por outra sala de aula, visando explicitamente mulheres em seu caminho. Seu objetivo era claro e cruel: assassinar o maior número possível de mulheres. Após tirar a vida de mais oito mulheres em diferentes locais do campus, elevando o número total de vítimas fatais para catorze, Marc Lépine cometeu suicídio, pondo fim a um dos dias mais sombrios da história do Canadá.

O Perpetrador: Marc Lépine e Suas Motivações Complexas

Marc Lépine, nascido Gamil Rodrigue Liass Gharbi em 26 de outubro de 1964, era um cidadão canadense de Montreal. Sua vida foi marcada por uma infância turbulenta e um histórico de dificuldades pessoais. Filho da enfermeira canadense Monique Lépine e do empresário argelino Rachid Gharbi, Marc cresceu em um ambiente familiar instável. Seu pai era conhecido por ser abusivo e demonstrar desprezo pelas mulheres, abandonando a família quando Marc tinha apenas sete anos, após a mãe retomar a amamentação de sua irmã para sustentar os filhos. Marc e sua irmã mais nova passaram a viver com diferentes famílias, vendo a mãe apenas aos fins de semana.

Desde cedo, Marc Lépine foi considerado brilhante, mas também retraído e com dificuldades em estabelecer relacionamentos tanto com colegas quanto com familiares. Aos 14 anos, ele mudou legalmente seu nome, citando "ódio ao pai" como principal motivo. Sua trajetória acadêmica e profissional foi marcada por insucessos: um pedido para as Forças Canadenses foi rejeitado, ele abandonou dois programas universitários e foi demitido de um emprego em um hospital devido à sua má atitude. Candidatou-se duas vezes à École Polytechnique, mas foi rejeitado por não possuir os cursos pré-requisitos obrigatórios.

Ao longo dos anos, Lépine manifestou ressentimento contra mulheres que trabalhavam em empregos considerados "não tradicionais". Sua nota de suicídio, encontrada após o massacre, culpava as feministas por "arruinarem sua vida". As ações de Lépine foram atribuídas a uma variedade de fatores a partir de uma perspectiva psiquiátrica, incluindo transtorno de personalidade, psicose ou transtorno de apego. Outras análises apontam para fatores sociais como pobreza, isolamento, sentimento de impotência e influência da violência na mídia. Para criminologistas, o massacre é um exemplo claro de crime de ódio contra as mulheres, enquanto para feministas e funcionários do governo, é um ataque misógino e um sintoma de uma questão mais ampla de violência de gênero.

Um Legado de Reflexão e Mudança

Debate Nacional e Interpretações

O massacre da École Polytechnique chocou o Canadá e gerou um intenso debate nacional sobre os motivos do atirador, o significado do evento e suas implicações. Inicialmente, as interpretações variavam, mas com o tempo, emergiu um consenso. Hoje, o massacre é amplamente reconhecido como um ataque antifeminista e um exemplo contundente de uma violência social mais ampla direcionada às mulheres. Essa compreensão moldou a forma como o país lembra e age em relação ao incidente. Embora outras interpretações que focam no abuso infantil de Lépine ou o considerem um ato isolado de um indivíduo perturbado ainda existam, a perspectiva dominante o enquadra dentro do contexto da misoginia e da violência de gênero.

Consequências e Reformas

O impacto do massacre foi catalisador para mudanças significativas no Canadá. Uma das consequências mais diretas foi a implementação de leis de controle de armas mais rigorosas, incluindo a Lei C-68, que introduziu o registro obrigatório de armas de fogo. Além disso, o incidente impulsionou um aumento nas ações e iniciativas destinadas a combater e erradicar a violência contra as mulheres em todas as suas formas. O massacre também provocou uma revisão e aprimoramento dos protocolos de serviços de emergência para tiroteios ativos, levando a uma intervenção policial imediata e ativa. Essas mudanças nos protocolos foram posteriormente creditadas por minimizar baixas em incidentes semelhantes em Montreal e em outras regiões, demonstrando um legado de aprendizado e adaptação.

O Dia Nacional de Memória e Ação contra a Violência Contra a Mulher

Em reconhecimento à tragédia e em honra às vítimas, o dia 6 de dezembro é agora observado anualmente no Canadá como o Dia Nacional de Memória e Ação contra a Violência Contra a Mulher. Esta data não é apenas um momento de luto e recordação das 14 mulheres que perderam suas vidas na École Polytechnique, mas também um importante apelo à ação. Serve como um lembrete solene da necessidade contínua de combater a violência baseada no gênero, promover a igualdade e garantir a segurança de todas as mulheres e meninas no Canadá e ao redor do mundo. É um dia para refletir sobre o progresso alcançado e os desafios que ainda persistem na luta por uma sociedade mais justa e equitativa.

Perguntas Frequentes (FAQs)

O que foi o massacre da École Polytechnique?

Foi um tiroteio em massa antifeminista que ocorreu na École Polytechnique de Montréal, Quebec, em 6 de dezembro de 1989, resultando na morte de 14 mulheres e ferindo outras 14 pessoas.

Quem foi Marc Lépine?

Marc Lépine (nascido Gamil Rodrigue Liass Gharbi) foi o perpetrador do massacre, um canadense com histórico de dificuldades pessoais e que nutria ódio contra mulheres em papéis "não tradicionais".

Quantas pessoas foram mortas no massacre?

Catorze mulheres foram assassinadas no massacre da École Polytechnique.

Qual foi a motivação por trás do ataque?

A motivação principal foi antifeminista e misógina. Marc Lépine expressou ódio às feministas e culpou-as por problemas em sua vida.

Quais foram as principais consequências do massacre?

O massacre levou a leis de controle de armas mais rigorosas no Canadá, aumentou as ações para combater a violência contra as mulheres e resultou em mudanças nos protocolos de resposta de emergência para tiroteios.

O que significa o Dia Nacional de Memória e Ação contra a Violência Contra a Mulher?

É uma data observada anualmente no Canadá, em 6 de dezembro, para lembrar as vítimas do massacre e para promover a conscientização e a ação contra todas as formas de violência de gênero.