O Exército da República do Vietnã (ARVN), conhecido em vietnamita como Lục quân Việt Nam Cộng hòa e em francês como Armée de la république du Viêt Nam, representou as forças terrestres da nação sul-vietnamita. Sua história abrange o período desde sua criação em 1955, após a divisão do Vietnã e a retirada francesa, até o trágico desfecho com a queda de Saigon em abril de 1975. Ao longo de sua existência, o ARVN enfrentou desafios imensos e um custo humano doloroso, estimando-se que tenha sofrido aproximadamente 1.394.000 baixas, incluindo mortos e feridos, durante os anos da Guerra do Vietnã.

Nascido como um exército pós-colonial, o ARVN foi moldado com o apoio e a formação dos Estados Unidos, tornando-se um aliado próximo. Desde seus primeiros dias, esteve envolvido em conflitos, e sua estrutura e táticas passaram por diversas transformações. Inicialmente concebido mais como uma "força de bloqueio", evoluiu gradualmente para uma força convencional mais moderna, incorporando, por exemplo, o uso de helicópteros em combate – uma inovação tática marcante da época.

A Evolução e os Desafios do ARVN

Durante o período de intervenção militar americana no Vietnã do Sul, o papel do ARVN foi, por vezes, relegado a uma postura mais defensiva, com a sua modernização a processar-se de forma incompleta, dada a vasta presença e capacidade das tropas dos EUA. Contudo, essa dinâmica mudaria radicalmente com a implementação da política de Vietnamização.

A Vietnamização e o Novo Papel do ARVN

A Vietnamização, uma estratégia adotada pelos Estados Unidos para reduzir sua presença militar no Vietnã, implicou uma reformulação profunda do ARVN. Com a retirada gradual das forças americanas, o exército sul-vietnamita foi intensivamente atualizado, expandido e reconstruído para assumir plenamente o papel de defesa da nação. Este período foi marcado por um esforço considerável para equipar e treinar o ARVN para operar de forma autônoma.

Em 1974, o exército sul-vietnamita havia alcançado um nível de eficácia notável. Robert Thompson, um renomado especialista em contra-insurgência e conselheiro do então presidente Nixon, observou que as Forças Regulares do ARVN eram "muito bem treinadas", superadas apenas pelas forças americanas e israelenses no "Mundo Livre". Paralelamente, o General Creighton Abrams, comandante das forças dos EUA no Vietnã, chegou a afirmar que 70% das unidades do ARVN estavam no mesmo nível do Exército dos EUA. Estes testemunhos sublinham a significativa melhoria da capacidade operacional do ARVN.

No entanto, a retirada das forças americanas, um dos pilares da Vietnamização, trouxe consigo um grande paradoxo. Apesar da modernização e do aumento de capacidade, as Forças Armadas da República do Vietnã do Sul viram-se impedidas de cumprir eficazmente todos os objetivos do programa. A sua dependência do equipamento e do apoio logístico dos EUA tornou-se total, e com a partida das tropas americanas, essa dependência revelou-se um ponto de vulnerabilidade crítico.

Estrutura e Desafios Internos

Em seu auge, o ARVN era uma força formidável em termos de números. Estimava-se que um em cada nove cidadãos do Vietnã do Sul estava alistado, tornando-o o quarto maior exército do mundo. Sua composição incluía Forças Regulares bem treinadas, complementadas por uma vasta rede de milícias voluntárias em níveis regionais e de vilarejo, que desempenhavam um papel crucial na segurança local e na contra-insurgência.

Além de sua função militar tradicional, o ARVN possuía uma característica única: servia a um duplo propósito administrativo civil-militar. Esta dualidade colocava-o em concorrência direta com a infraestrutura política e social do Viet Cong, visando ganhar a lealdade da população. Contudo, essa imbricação com o poder político também o tornou suscetível a problemas crônicos. A nomeação de oficiais por lealdade política em vez de mérito, a corrupção generalizada na liderança, as disputas entre facções e, ocasionalmente, os conflitos internos abertos, minaram a sua coesão e eficácia. Esses fatores internos, juntamente com a pressão externa incessante do Exército Popular do Vietnã (PAVN), contribuíram para o seu eventual colapso e dissolução.

Com a queda de Saigon em abril de 1975, o ARVN cessou de existir. Embora alguns oficiais de alto escalão tenham conseguido fugir para os Estados Unidos ou outros países, milhares de ex-oficiais do ARVN foram detidos e enviados para os tristemente célebres campos de reeducação pelo novo governo comunista da República Socialista do Vietnã unificada. Em um gesto final de desespero e para evitar a captura pelas forças do PAVN/Viet Cong, cinco generais do ARVN cometeram suicídio.

Operação Lam Son 719: Um Teste Crucial

A Operação Lam Son 719, também conhecida como Campanha da Rota 9 no Laos do Sul (ou em vietnamita: Chiến dịch Lam Sơn 719 ou Chiến dịch Đường 9 Nam Lào), foi uma campanha ofensiva com objetivos limitados, conduzida na porção sudeste do Reino do Laos. Realizada pelas forças armadas do Vietnã do Sul entre 8 de fevereiro e 25 de março de 1971, no auge da Guerra do Vietnã, esta operação marcou um momento decisivo para o ARVN.

Os Estados Unidos desempenharam um papel de apoio crucial, fornecendo logística, cobertura aérea e artilharia para a operação. No entanto, por restrições legais e considerações políticas, as suas forças terrestres foram proibidas de entrar em território laociano, deixando a parte principal do combate terrestre a cargo exclusivamente das tropas sul-vietnamitas. O principal objetivo da campanha era a interrupção de uma possível futura ofensiva do Exército do Vietnã do Norte (NVA), visando desmantelar seu sistema logístico vital conhecido como Trilha Ho Chi Minh – ou a Estrada Truong Son para os norte-vietnamitas – que serpenteava através do Laos.

Os Objetivos Estratégicos e as Expectativas

Ao lançar um ataque preventivo contra a consolidada rede logística do NVA, os altos comandos americanos e sul-vietnamitas esperavam resolver várias questões prementes. Uma vitória rápida no Laos elevaria o moral e a confiança do ARVN, que já estavam em alta após o sucesso da Campanha do Camboja de 1970. Mais importante, a operação serviria como prova da capacidade das forças sul-vietnamitas de defender sua nação, especialmente no contexto da retirada contínua das forças de combate terrestre dos EUA, um pilar da política de Vietnamização. Assim, a Operação Lam Son 719 era um teste crucial para essa política e para a capacidade do ARVN de operar eficazmente por si só, sem a presença de tropas terrestres americanas.

O Colapso da Operação e Suas Consequências

Contudo, a realidade no campo de batalha provou ser brutalmente diferente das expectativas. Devido à inteligência superior e à preparação prévia do NVA e do Exército de Libertação do Vietnã do Sul (Viet Cong), juntamente com a incapacidade de líderes políticos e militares dos EUA e do Vietnã do Sul de enfrentar as realidades militares complexas e uma execução tática deficiente, a Operação Lam Son 719 colapsou. As forças do ARVN foram confrontadas com a resistência determinada de um inimigo altamente capacitado, operando em terreno familiar e defendendo uma rota de abastecimento vital.

O resultado da campanha foi desastroso. A Operação Lam Son 719 não só demonstrou deficiências persistentes na liderança militar do ARVN, mas também revelou que, mesmo as melhores unidades sul-vietnamitas, podiam ser sobrepujadas e derrotadas pelos norte-vietnamitas. Este revés destruiu grande parte da confiança que havia sido cuidadosamente construída nos três anos anteriores, lançando uma sombra sobre a viabilidade da Vietnamização e a capacidade do Vietnã do Sul de se defender sozinho.

FAQs (Perguntas Frequentes)

O que foi o ARVN?

O ARVN, ou Exército da República do Vietnã, foram as forças terrestres dos militares do Vietnã do Sul, ativas de 1955 a 1975, durante a Guerra do Vietnã. Treinadas e apoiadas pelos Estados Unidos, desempenharam o papel principal na defesa do Vietnã do Sul contra o Vietnã do Norte e o Viet Cong.

Quando o ARVN esteve ativo?

O ARVN foi estabelecido em 1955, após a partição do Vietnã, e foi dissolvido com a queda de Saigon e a unificação do Vietnã sob controle comunista em abril de 1975.

O que foi a Vietnamização?

A Vietnamização foi uma política implementada pelo governo dos EUA, iniciada em 1969, para expandir, equipar e treinar as forças sul-vietnamitas e atribuir-lhes um papel de combate cada vez maior, enquanto as tropas de combate dos EUA eram progressivamente retiradas do Vietnã.

Quão eficaz foi o ARVN?

A eficácia do ARVN variou significativamente ao longo de sua existência. Enquanto inicialmente enfrentava desafios como corrupção e dependência, durante o pico da Vietnamização, muitas de suas unidades foram consideradas altamente eficazes e bem treinadas, comparáveis às forças dos EUA e Israel por especialistas da época. No entanto, sua dependência do apoio logístico e aéreo dos EUA, combinada com problemas de liderança e a pressão constante do inimigo, comprometeram sua capacidade de operar de forma totalmente independente.

O que aconteceu com os soldados do ARVN após a guerra?

Após a queda de Saigon, milhares de oficiais e soldados do ARVN foram enviados para campos de reeducação pelo governo comunista da República Socialista do Vietnã. Alguns oficiais de alto escalão conseguiram fugir do país para os Estados Unidos e outras nações.

O que foi a Operação Lam Son 719?

A Operação Lam Son 719 foi uma campanha ofensiva militar de objetivo limitado conduzida pelas forças sul-vietnamitas no sudeste do Laos em 1971. Teve como objetivo principal interromper a Trilha Ho Chi Minh e demonstrar a capacidade do ARVN de operar sem tropas terrestres dos EUA.

O que era a Trilha Ho Chi Minh?

A Trilha Ho Chi Minh (conhecida como Estrada Truong Son para os norte-vietnamitas) era uma complexa rede de estradas e trilhas que passavam através do Laos e do Camboja, usada pelo Vietnã do Norte para infiltrar tropas e suprimentos no Vietnã do Sul. Foi crucial para o esforço de guerra do Norte.

Por que a Operação Lam Son 719 falhou?

A operação falhou devido a uma combinação de fatores: a forte resistência e preparação do NVA/Viet Cong, falhas na inteligência e planejamento dos EUA e do Vietnã do Sul, liderança militar deficiente do ARVN e a incapacidade de suas unidades de superar o terreno difícil e a intensa oposição inimiga. Este fracasso impactou negativamente a confiança na política de Vietnamização.