A história de Anthony Babington é um capítulo sombrio e intrigante na turbulenta era elisabetana, uma época marcada por conspirações religiosas e lutas pelo trono inglês. Nascido em 24 de outubro de 1561, este cavalheiro inglês, oriundo de uma proeminente família católica de Dethick, Derbyshire, veria a sua vida ser tragicamente interrompida em 20 de setembro de 1586. Ele ficou para a história não por feitos heroicos ou descobertas científicas, mas como a figura central de uma das mais perigosas tramas contra a vida da Rainha Elizabeth I da Inglaterra e um conspirador chave no destino de Mary, Rainha da Escócia.
A chamada "Conspiração de Babington" não foi meramente um plano de assassinato; foi um evento catalisador que selou o destino de Mary e reforçou o poder da monarca protestante. A sua trama enredou as complexas relações políticas e religiosas da Inglaterra do século XVI, culminando em acusações de traição que levariam Mary ao cadafalso.
Contexto Histórico: A Inglaterra no Século XVI
Para compreender a profundidade da Conspiração de Babington, é essencial situá-la no seu contexto. A Inglaterra vivia sob o reinado da Rainha Elizabeth I, uma soberana protestante, mas uma parte significativa da nobreza e do povo permanecia fiel ao catolicismo. Esta divisão religiosa era uma fonte constante de tensão, exacerbada pela presença de Mary, Rainha da Escócia, uma católica convicta e neta de Henrique VII, que muitos consideravam a legítima herdeira do trono inglês, ou mesmo a verdadeira rainha, destituindo Elizabeth, que era vista como ilegítima pelos católicos por ser filha de Ana Bolena e Henrique VIII. Mary estava prisioneira na Inglaterra há quase duas décadas, sob a vigilância constante de Elizabeth, após ter fugido da Escócia em 1568.
As potências católicas europeias, nomeadamente a Espanha de Filipe II, viam em Mary uma esperança para restaurar o catolicismo na Inglaterra. Assim, o solo fértil para conspirações era uma realidade diária, com muitos católicos ingleses a sonhar com a derrubada de Elizabeth e a ascensão de Mary, muitas vezes com o apoio de forças estrangeiras.
A Figura de Anthony Babington
Anthony Babington era um jovem educado e carismático, com um profundo apego à fé católica, que o levou a uma postura romântica e idealista em relação à causa de Mary, Rainha da Escócia. Ele serviu brevemente como pajem no serviço do Conde de Shrewsbury, guarda de Mary, o que lhe proporcionou um contacto indireto com a rainha aprisionada e o expôs ao seu carisma e sofrimento. A sua casa familiar era um refúgio para padres jesuítas e dissidentes católicos, fortalecendo a sua convicção e o seu desejo de agir.
Influenciado por estes ideais e por outros católicos radicais, Babington tornou-se um membro ativo de uma rede clandestina que visava a libertação de Mary e a restauração católica na Inglaterra. Não era o cérebro por trás da conspiração, mas sim um elemento central na sua execução, com um entusiasmo juvenil e uma fé inabalável que o levaram a aceitar um papel de alto risco.
A Conspiração de Babington: Detalhes e Descoberta
A Conspiração de Babington tomou forma em 1586, com o objetivo ousado de assassinar a Rainha Elizabeth I, resgatar Mary, Rainha da Escócia, e instaurar Mary no trono inglês, com o apoio de uma invasão espanhola. O plano era complexo e envolvia vários indivíduos, incluindo sacerdotes jesuítas e outros exilados católicos. Babington comprometeu-se a liderar um grupo de seis cavalheiros que realizaria o assassinato da Rainha Elizabeth.
No entanto, a teia de intriga tinha um fio invisível controlado pelo mestre espião de Elizabeth, Sir Francis Walsingham. Walsingham, um dos mais hábeis chefes de inteligência da história, tinha uma rede de espiões e informadores por toda a Europa e dentro da própria Inglaterra. Ele tinha a intenção de apanhar Mary em flagrante delito, para justificar a sua execução e, assim, neutralizar a ameaça que ela representava ao trono de Elizabeth.
Walsingham intercetou a correspondência secreta entre Babington e Mary, que era enviada através de barris de cerveja com fundos falsos e codificada em cifras complexas. Um dos seus decifradores, Thomas Phelippes, desempenhou um papel crucial. Phelippes não só conseguiu decifrar as mensagens, como também adicionou um postscripto fraudulento a uma das cartas de Babington, pedindo a Mary que identificasse os seis cavalheiros que iriam realizar o assassinato. A resposta de Mary, que explicitamente aprovava o plano de assassinato de Elizabeth e a sua própria libertação, foi a prova cabal que Walsingham precisava.
O Envolvimento de Mary, Rainha da Escócia
O envolvimento de Mary na Conspiração de Babington é um ponto de debate histórico, mas, para os propósitos da corte elisabetana, as evidências eram irrefutáveis. A sua aprovação inequívoca do plano para derrubar Elizabeth, e em particular, para assassinar a rainha, foi considerada alta traição. Mary sempre alegou inocência, afirmando que as cartas tinham sido forjadas ou que ela não tinha plena consciência do conteúdo, mas a decifração e a contextualização das mensagens por Walsingham e a sua equipa foram consideradas provas suficientes.
Julgamento e Execução
Quando a conspiração foi totalmente desvendada, Anthony Babington e os seus co-conspiradores foram presos. Em agosto de 1586, Babington foi levado a julgamento. Ele confessou o seu envolvimento na trama e foi condenado por alta traição. O castigo para tal crime na Inglaterra daquela época era brutal e desumano.
Em 20 de setembro de 1586, Babington e alguns dos seus companheiros foram executados em St. Giles Field, Londres. A execução foi particularmente horrível, pois a sentença de traição implicava ser enforcado, arrastado e esquartejado (hanged, drawn and quartered). Após serem enforcados, mas antes de morrerem por completo, os condenados eram desmembrados, eviscerados e os seus órgãos queimados à vista, antes de os seus corpos serem esquartejados. A crueldade da punição tinha como objetivo dissuadir futuros traidores.
A condenação e execução de Babington e dos seus associados prepararam o terreno para o julgamento de Mary, Rainha da Escócia. Com as provas das cartas em mãos, Elizabeth I teve, finalmente, o pretexto para julgar e, subsequentemente, ordenar a execução de sua prima e rival, o que ocorreu em fevereiro de 1587, marcando o fim de uma era de grande incerteza para a coroa inglesa.
Legado e Impacto
A Conspiração de Babington teve um impacto profundo e duradouro na história inglesa. Selou o destino de Mary, Rainha da Escócia, removendo a principal ameaça católica ao trono de Elizabeth I. Este evento solidificou a posição de Elizabeth como monarca e consolidou o protestantismo como a religião dominante na Inglaterra. Também demonstrou a eficácia da rede de espionagem de Walsingham, que se tornou um modelo para a inteligência de estado nos séculos seguintes. Para Anthony Babington, o seu nome ficou para sempre ligado a um plano audacioso e fatal, uma figura trágica que se sacrificou por uma causa perdida, mas cujo ato teve consequências históricas monumentais.
FAQs sobre Anthony Babington e a Conspiração
- Qual era o objetivo principal da Conspiração de Babington?
- O objetivo principal era assassinar a Rainha Elizabeth I, resgatar Mary, Rainha da Escócia, da sua prisão e colocá-la no trono inglês, restaurando assim o catolicismo na Inglaterra, com o apoio de uma invasão espanhola.
- Como a conspiração foi descoberta?
- A conspiração foi descoberta pela rede de espionagem de Sir Francis Walsingham, o mestre espião de Elizabeth I. Ele intercetou e decifrou a correspondência secreta entre Anthony Babington e Mary, Rainha da Escócia, revelando os planos de assassinato e resgate.
- Qual foi o papel de Sir Francis Walsingham?
- Sir Francis Walsingham foi o Secretário de Estado e chefe de inteligência de Elizabeth I. Ele orquestrou a interceção das cartas cifradas e a sua decifração, incluindo a adição de um postscripto que levou Mary a implicar-se diretamente no plano de assassinato de Elizabeth. Foi fundamental para expor a conspiração e condenar os envolvidos.
- Mary, Rainha da Escócia, realmente aprovou o assassinato de Elizabeth I?
- De acordo com as cartas intercetadas e decifradas pela equipa de Walsingham, Mary deu a sua aprovação ao plano de assassinato de Elizabeth I. Embora tenha protestado a sua inocência, as evidências apresentadas no seu julgamento foram consideradas conclusivas para a sua condenação.
- O que aconteceu a Anthony Babington depois que a conspiração foi descoberta?
- Anthony Babington foi preso, julgado e condenado por alta traição. Ele foi executado publicamente em 20 de setembro de 1586, através do brutal método de enforcamento, arrastamento e esquartejamento, em St. Giles Field, Londres.
- Qual foi a principal consequência da Conspiração de Babington?
- A principal consequência foi a condenação e execução de Mary, Rainha da Escócia, em fevereiro de 1587. A conspiração forneceu a Elizabeth I a prova legal e a justificação política para eliminar a sua rival católica, consolidando o seu reinado e a primazia do protestantismo na Inglaterra.

English
español
français
português
русский
العربية
简体中文 