Na Cidade do México, o revolucionário russo exilado no México Leon Trotsky é fatalmente ferido com um machado de gelo por Ramón Mercader. Ele morre no dia seguinte.

A história de Leon Trotsky é um emaranhado de ideais revolucionários, poder político e tragédia pessoal, tornando-o uma das figuras mais emblemáticas e controversas do século XX. Nascido Lev Davidovich Bronstein em 7 de novembro (ou 26 de outubro pelo calendário juliano, então em vigor na Rússia) de 1879, em Yanovka, na Ucrânia – hoje Bereslavka – Trotsky viria a ser reconhecido globalmente sob o pseudónimo de Leon Trotsky. Sua vida, que terminou abruptamente em 21 de agosto de 1940, foi uma incessante jornada como revolucionário marxista, teórico político e estadista russo-ucraniano.

Proveniente de uma família judaico-ucraniana que desfrutava de uma situação financeira confortável, a trajetória de Trotsky tomou um rumo decisivo em 1896, quando se mudou para Nikolayev. Foi ali que, imerso nos círculos intelectuais e ativistas da época, abraçou com fervor as ideias do marxismo, que moldariam todo o seu futuro. Essa virada ideológica não demorou a manifestar-se em ações concretas.

O Amanhecer de um Revolucionário e os Anos de Exílio

As suas primeiras incursões na atividade revolucionária não tardaram a atrair a atenção das autoridades czaristas. Em 1898, foi detido e, seguindo um padrão comum para os dissidentes políticos da época, condenado ao exílio na Sibéria. Contudo, o espírito indomável de Trotsky revelou-se cedo: em 1902, conseguiu escapar, uma façanha que repetiria anos mais tarde, e partiu para Londres. Na capital britânica, encontrou-se com Vladimir Lenin, um encontro que seria fundamental para o futuro da revolução russa e para a sua própria vida política. A relação entre os dois seria complexa, marcada por alianças e desavenças.

Em 1903, durante a primeira grande cisão organizacional do Partido Trabalhista Social-Democrata Russo, Trotsky tomou o lado dos Mensheviques de Julius Martov, opondo-se inicialmente aos Bolcheviques liderados por Lenin. Esta distinção inicial entre as duas facções era crucial: enquanto os Bolcheviques defendiam um partido centralizado de vanguarda, os Mensheviques preferiam um modelo mais amplo e inclusivo. Apesar desta divergência, Trotsky continuou profundamente envolvido no movimento revolucionário.

A efervescência política culminou na Revolução Russa de 1905, onde Trotsky desempenhou um papel significativo na organização dos esforços revolucionários. No entanto, o levante foi esmagado e ele foi novamente preso e exilado na Sibéria. Mais uma vez, provando sua notável capacidade de fuga, conseguiu evadir-se. Os dez anos seguintes foram passados num exílio itinerante, trabalhando e teorizando em diversas nações europeias como Grã-Bretanha, Áustria, Suíça, França e Espanha, antes de se mudar para os Estados Unidos.

A Ascensão ao Poder e o Papel na Revolução de 1917

A história da Rússia e de Trotsky tomou um rumo dramático com a eclosão da Revolução de Fevereiro de 1917, que pôs fim à milenar monarquia czarista. Ao saber dos acontecimentos, Trotsky regressou apressadamente de Nova Iorque, viajando via Canadá para a Rússia. Rapidamente, emergiu como um dos principais líderes da facção bolchevique, consolidando a sua posição com a eleição para presidente do Soviete de Petrogrado, um conselho de trabalhadores e soldados com enorme influência. Nesta capacidade, Trotsky foi o arquiteto e estratega principal da Revolução de Outubro, que em novembro de 1917 derrubou o frágil Governo Provisório e instalou o poder bolchevique. A sua capacidade oratória e organização foram cruciais para o sucesso da insurreição.

Uma vez no governo, a influência de Trotsky foi imediatamente sentida. Inicialmente, ocupou o cargo de Comissário para os Assuntos Estrangeiros. Uma das suas primeiras e mais delicadas tarefas foi a sua participação direta nas negociações do Tratado de Brest-Litovsk, entre 1917 e 1918, com a Alemanha. Sob a sua liderança, a Rússia, exausta e devastada, retirou-se da Primeira Guerra Mundial, embora a um custo territorial considerável.

No entanto, foi como Comissário do Povo para os Assuntos Militares e Navais que Trotsky gravou o seu nome na história. De março de 1918 a janeiro de 1925, liderou o recém-formado Exército Vermelho, transformando-o de uma milícia improvisada numa força de combate disciplinada e eficaz. O seu papel foi absolutamente vital na vitória bolchevique na brutal Guerra Civil Russa, que se estendeu de 1917 a 1922. Em 1919, a sua proeminência foi reconhecida com a sua inclusão como um dos sete membros do primeiro Politburo Bolchevique, o órgão de decisão mais importante do novo estado soviético.

A Queda, o Exílio e o Assassinato

A morte de Lenin em janeiro de 1924 abriu uma luta pelo poder que mudaria o curso da história soviética e, inevitavelmente, o destino de Trotsky. Joseph Stalin, um adversário político astuto e implacável, começou a consolidar o seu controlo sobre o Partido Comunista. Trotsky, que representava uma alternativa ideológica e política a Stalin, viu-se gradualmente marginalizado e despojado dos seus cargos no governo. A luta ideológica, muitas vezes centrada na ideia de Trotsky da "revolução permanente" contra a "socialismo num só país" de Stalin, intensificou-se.

O Politburo, agora sob o controlo de Stalin, acabou por expulsá-lo da União Soviética em fevereiro de 1929. Trotsky passou o resto da sua vida no exílio, transformando-se num crítico veemente e prolífico do estalinismo. As suas obras, como "A Revolução Traída", analisavam e denunciavam a degeneração burocrática e totalitária da União Soviética sob Stalin. Em 1938, com os seus apoiantes, fundou a Quarta Internacional, uma organização que se opunha abertamente à Terceira Internacional (Comintern), que se tornara um instrumento da política externa de Stalin.

A perseguição a Trotsky, no entanto, não cessou com o seu exílio. Após sobreviver a várias tentativas de assassinato orquestradas pela polícia secreta soviética (NKVD), o seu fim chegou em agosto de 1940, na Cidade do México. Ramón Mercader, um agente espanhol do NKVD, conseguiu infiltrar-se no seu círculo e assassinou-o com um picador de gelo. O assassinato de Trotsky marcou o fim de uma era para a velha guarda revolucionária bolchevique.

O legado de Trotsky foi sistematicamente apagado dos livros de história soviética sob Stalin, uma prática comum para "inimigos do povo". E, ironicamente, ao contrário de muitas outras personalidades políticas soviéticas que foram postumamente reabilitadas durante o degelo de Nikita Khrushchev na década de 1950, Leon Trotsky permaneceu uma figura não reabilitada. A sua crítica mordaz ao estalinismo era demasiado perigosa para a narrativa oficial, mesmo após a morte de Stalin, mantendo-o como um pária na historiografia soviética até o colapso da URSS.

FAQ sobre Leon Trotsky

Quem foi Leon Trotsky?
Leon Trotsky, nascido Lev Davidovich Bronstein, foi um proeminente revolucionário marxista, teórico político e estadista russo-ucraniano. Ele foi uma figura-chave na Revolução Russa de 1917, liderou o Exército Vermelho durante a Guerra Civil Russa e desenvolveu a teoria do trotskismo. Após a morte de Lenin, tornou-se o principal opositor de Joseph Stalin, o que o levou ao exílio e, eventualmente, ao assassinato.
O que é trotskismo?
Trotskismo é a variante do marxismo desenvolvida por Leon Trotsky. Os seus princípios fundamentais incluem a teoria da "revolução permanente" – que argumenta que a revolução socialista num país subdesenvolvido levaria a novas revoluções noutros países, culminando numa revolução mundial –, a crítica ao estalinismo como uma degeneração burocrática e totalitária do socialismo, e a defesa da democracia operária.
Qual foi o papel de Trotsky na Revolução Russa de 1917?
Trotsky desempenhou um papel central e estratégico na Revolução de Outubro de 1917. Como presidente do Soviete de Petrogrado, foi o organizador e líder militar da insurreição que depôs o Governo Provisório. Ele foi crucial na coordenação das forças bolcheviques e na implementação dos planos revolucionários de Lenin.
Por que Trotsky se opôs a Stalin?
Trotsky opôs-se a Stalin principalmente por razões ideológicas e políticas. Ele via o regime de Stalin como uma traição aos princípios da revolução e do marxismo, argumentando que Stalin havia estabelecido uma ditadura burocrática e totalitária em vez de uma sociedade socialista. As suas divergências incluíam a estratégia para a revolução mundial (revolução permanente de Trotsky vs. socialismo num só país de Stalin) e a natureza do partido e do Estado soviético.
Como Leon Trotsky morreu?
Leon Trotsky foi assassinado em 21 de agosto de 1940, na Cidade do México. Ele foi atacado com um picador de gelo por Ramón Mercader, um agente do NKVD (a polícia secreta soviética) que se havia infiltrado no seu círculo. O assassinato foi orquestrado por Joseph Stalin.
Trotsky foi reabilitado na União Soviética?
Não, Leon Trotsky não foi reabilitado na União Soviética, ao contrário de muitas outras vítimas das purgas de Stalin durante o período de "desestalinização" de Nikita Khrushchev na década de 1950. A sua forte oposição ao estalinismo e a sua defesa de uma alternativa ideológica eram consideradas demasiado perigosas para a narrativa oficial soviética, mesmo após a morte de Stalin.