Centenas de pessoas foram mortas por ataques químicos na região de Ghouta, na Síria.

O Ataque Químico de Ghouta: Um Marco de Tragédia na Guerra Civil Síria

Na madrugada sombria de 21 de agosto de 2013, o mundo foi abalado por um dos episódios mais brutais da já devastadora guerra civil síria: o ataque químico a Ghouta. Esta região, composta por subúrbios a leste e oeste da capital Damasco e controlada pela oposição, tornou-se palco de uma tragédia humana de proporções chocantes. Residentes foram acordados não pelo nascer do sol, mas pelo terror de foguetes contendo o agente químico mortal sarin, resultando em centenas de vítimas e um clamor internacional por justiça.

Detalhes Horripilantes do Ataque

O ataque ocorreu precisamente em duas áreas específicas de Ghouta: Zamalka e Ain Tarma na Ghouta Oriental, e Moadamiyat al-Sham na Ghouta Ocidental. Testemunhas oculares e relatos médicos descreveram cenas caóticas e angustiantes, com pessoas sofrendo convulsões, asfixia, pupilas contraídas e perda de consciência – sintomas clássicos da exposição ao sarin. A população civil, incluindo muitas crianças, foi particularmente afetada, e a falta de equipamentos de proteção adequados agravou a catástrofe.

O Agente Sarin: Uma Arma Indiscriminada

O sarin é um agente nervoso altamente tóxico e inodoro, classificado como arma de destruição em massa. Sua letalidade reside na capacidade de paralisar o sistema nervoso central, levando à falência respiratória e, consequentemente, à morte em poucos minutos após a exposição. O uso de uma substância tão cruel e indiscriminada em áreas densamente povoadas sublinhou a gravidade sem precedentes da situação e a violação de normas internacionais contra o uso de armas químicas.

Vítimas e a Controvérsia dos Números

As estimativas do número de mortos pelo ataque de Ghouta variam consideravelmente, refletindo a dificuldade de verificação em um cenário de conflito ativo e a disparidade de fontes. Enquanto algumas organizações de ajuda humanitária e ativistas relataram um mínimo de 281 fatalidades, outras estimativas, incluindo relatórios de inteligência, elevaram esse número para até 1.729. Independentemente da contagem exata, Ghouta representou o uso mais mortal de armas químicas em conflitos armados desde a Guerra Irã-Iraque na década de 1980, destacando a escala devastadora da barbárie.

As Consequências e a Resposta Internacional

Investigação da ONU e Atribuição de Responsabilidade

A gravidade do ataque provocou uma forte condenação global. Uma equipe de inspetores das Nações Unidas, liderada pelo Dr. Åke Sellström, já estava na Síria para investigar alegações anteriores de uso de armas químicas. O ataque de Ghouta impulsionou a equipe a investigar o local, confirmando em seu relatório de setembro de 2013 o uso de sarin em grande escala. Embora o relatório da ONU confirmasse o uso do agente químico e detalhasse as evidências, como amostras de solo, cabelo e urina positivas para sarin, ele não atribuiu formalmente a responsabilidade pelo ataque. No entanto, relatórios subsequentes de agências de inteligência ocidentais e da Comissão de Inquérito Independente da ONU sobre a Síria, apontaram com "motivos razoáveis para acreditar" que as forças do governo sírio foram as responsáveis, utilizando foguetes que se encaixavam no arsenal militar do regime.

A Reação dos Estados Unidos e o Acordo sobre Armas Químicas

O ataque de Ghouta testou a "linha vermelha" estabelecida pelo então presidente dos EUA, Barack Obama, contra o uso de armas químicas na Síria. Embora uma intervenção militar direta tenha sido considerada, ela foi eventualmente substituída por uma solução diplomática. Sob forte pressão internacional, e com a mediação da Rússia, o regime sírio concordou em aderir à Convenção sobre Armas Químicas e em desmantelar todo o seu arsenal químico sob a supervisão da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ). Este foi um marco significativo, culminando na remoção e destruição da maioria das armas químicas declaradas pela Síria, embora alegações e incidentes esporádicos de uso químico continuassem a surgir nos anos seguintes.

O Legado de Ghouta

O ataque químico de Ghouta permanece como um lembrete sombrio da brutalidade da guerra e da falha da comunidade internacional em proteger civis em conflitos. Ele expôs as complexidades geopolíticas da guerra síria e reformulou a abordagem global em relação às armas químicas, embora a impunidade para os responsáveis continue a ser uma ferida aberta para muitas vítimas e suas famílias. A memória de Ghouta sublinha a importância contínua dos esforços para garantir a responsabilização e prevenir futuras atrocidades.

Perguntas Frequentes (FAQs)

O que é Sarin?
Sarin é um agente nervoso extremamente potente e tóxico. É um líquido claro, inodoro e insípido em sua forma pura, embora em sua forma impura possa ter um cheiro frutado. Ele age inibindo uma enzima no sistema nervoso central, causando paralisia muscular, asfixia e morte rápida, geralmente em questão de minutos após a exposição.
Quem foi o responsável pelo ataque químico de Ghouta?
O relatório da ONU confirmou o uso de sarin, mas não atribuiu a responsabilidade. No entanto, agências de inteligência ocidentais, a França, os EUA e o Reino Unido, bem como a Comissão de Inquérito da ONU sobre a Síria, concluíram que o governo sírio foi o responsável. A Síria e a Rússia, por sua vez, culparam as forças rebeldes.
Qual foi a resposta internacional ao ataque?
Houve forte condenação global. Os EUA ameaçaram uma intervenção militar, mas um acordo diplomático mediado pela Rússia resultou na Síria concordando em aderir à Convenção sobre Armas Químicas e desmantelar seu arsenal químico sob supervisão da OPAQ. Isso evitou uma ação militar direta, mas não resolveu a questão da responsabilização imediata.
Por que Ghouta é considerado tão significativo?
Ghouta foi o ataque químico mais letal desde a Guerra Irã-Iraque e o maior uso de armas químicas contra civis no século XXI. Ele expôs a crueldade do conflito sírio, levou a uma intensa crise diplomática e resultou no acordo para a Síria entregar suas armas químicas, um evento sem precedentes na história recente.
Houve outros ataques químicos na Síria após Ghouta?
Sim, infelizmente, houve vários outros ataques químicos relatados e confirmados após Ghouta, embora geralmente em menor escala. Destacam-se o ataque de Khan Shaykhun em 2017, que levou a uma retaliação aérea dos EUA, e o ataque de Douma em 2018. A OPAQ e investigações independentes atribuíram a responsabilidade por muitos desses ataques ao governo sírio.