A Islândia expande sua zona de pesca, colocando-a em conflito com o Reino Unido, dando início às Guerras do Bacalhau.

A Islândia, conhecida em islandês como Ísland ([ˈistlant]), é uma nação insular nórdica singularmente situada no Oceano Atlântico Norte. Distingue-se por ser o país mais escassamente povoado da Europa, oferecendo vastas paisagens selvagens e uma conexão profunda com a natureza. Sua capital e maior cidade, Reykjavík, é o coração vibrante do país, e juntamente com suas áreas circundantes, acolhe mais de 65% da população islandesa, tornando-a o centro de grande parte da vida cultural e económica. Geologicamente fascinante, a Islândia é a única porção da Dorsal Meso-Atlântica que se eleva acima do nível do mar, uma característica que a torna um dos lugares mais vulcanicamente ativos do planeta. O seu planalto vulcânico central está em erupção quase constante, moldando uma paisagem dramática de campos de areia e lava, montanhas imponentes e vastas geleiras. Numerosos rios glaciais serpenteiam por este interior, correndo para o mar através das planícies costeiras, criando ecossistemas únicos. Apesar de sua elevada latitude, logo abaixo do Círculo Polar Ártico, a Islândia desfruta de um clima temperado, um benefício direto da Corrente do Golfo que aquece suas costas. Contudo, a combinação de alta latitude e forte influência marinha assegura verões frescos, e muitas das suas ilhas periféricas exibem um clima polar mais rigoroso.

As raízes históricas da Islândia remontam ao século IX, revelando uma narrativa de colonização e resiliência. De acordo com o venerável manuscrito do Landnámabók, ou "Livro dos Assentamentos", a colonização da ilha teve início por volta de 874 d.C., quando o chefe norueguês Ingólfr Arnarson estabeleceu-se como o primeiro colono permanente. Nos séculos seguintes, uma onda de noruegueses e, em menor grau, outros escandinavos, migrou para a Islândia. Estes colonos trouxeram consigo escravos, ou seja, servos, de origem maioritariamente gaélica, cujas influências se entrelaçaram na jovem sociedade e cultura islandesa, contribuindo para a diversidade genética e cultural da nação.

Inicialmente, a ilha floresceu como uma comunidade independente sob seu parlamento nativo, o Althing (em islandês: Alþingi). Fundado em 930 d.C., o Althing é reconhecido como uma das mais antigas assembleias legislativas em funcionamento contínuo do mundo, um testemunho precoce do espírito democrático e da capacidade de autogoverno do povo islandês. Após um período de intensos conflitos civis, conhecido como a Era Sturlung (século XIII), a Islândia viu-se integrada ao domínio norueguês. Com a formação da União de Kalmar em 1397, que uniu os reinos da Noruega, Dinamarca e Suécia, a Islândia seguiu o destino da Noruega. Consequentemente, após a secessão da Suécia em 1523, a Islândia passou para o domínio dinamarquês. Em 1550, o reino dinamarquês impôs vigorosamente o luteranismo na Islândia, transformando profundamente a paisagem religiosa e cultural da ilha, o que gerou resistência inicial mas acabou por se consolidar. Os movimentos nacionalistas e de independência, que emergiram nos séculos XVIII e XIX, ganharam forma e culminaram na independência em 1918, com o estabelecimento do Reino da Islândia. Este novo reino partilhava o monarca reinante da Dinamarca através de uma união pessoal. No entanto, o cenário geopolítico da Segunda Guerra Mundial, especialmente a ocupação da Dinamarca pela Alemanha, catalisou uma mudança decisiva. Em 1944, através de um referendo popular esmagador, a Islândia votou para se tornar uma república, rompendo assim os laços formais restantes com a Dinamarca. Embora o Althing tenha sido suspenso entre 1799 e 1845, a república insular orgulha-se de sustentar o parlamento mais antigo e de mais longa duração do mundo, um símbolo duradouro de sua autonomia e tradição democrática.

Até o século XX, a economia islandesa dependia quase exclusivamente da pesca de subsistência e da agricultura, atividades que moldaram profundamente o estilo de vida e a cultura da nação, com a vida nas aldeias costeiras e fazendas a ditar o ritmo. A verdadeira transformação económica começou com a industrialização da pesca, impulsionada pela introdução de novas tecnologias e métodos, e foi significativamente reforçada pela ajuda do Plano Marshall após a Segunda Guerra Mundial. Estas mudanças trouxeram uma prosperidade sem precedentes, catapultando a Islândia para o patamar das nações mais ricas e desenvolvidas do mundo num espaço de poucas décadas. Em 1994, a sua adesão ao Espaço Económico Europeu (EEE) diversificou ainda mais a economia, expandindo-a para setores de alto valor como finanças, biotecnologia e manufatura, demonstrando a sua notável capacidade de adaptação e inovação para além da pesca.

A Islândia hoje exibe uma robusta economia de mercado, caracterizada por impostos relativamente baixos em comparação com muitos outros países da OCDE, e orgulha-se de ter a maior taxa de associação sindical do mundo, refletindo uma forte cultura de direitos trabalhistas e solidariedade social. Mantém um abrangente sistema de bem-estar social nórdico, que assegura assistência médica universal de alta qualidade e educação terciária acessível e gratuita para todos os seus cidadãos. A nação consistentemente alcança classificações de topo em estabilidade económica, democrática e social, bem como em igualdade de género e oportunidades. É notável que a Islândia ocupe o terceiro lugar global em riqueza mediana por adulto, um indicador da distribuição equitativa da prosperidade. Em 2020, foi reconhecida como o quarto país mais desenvolvido do mundo pelo Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas e lidera o Índice de Paz Global, sublinhando o seu profundo compromisso com a paz, a segurança e a governança eficaz. Um dos seus maiores triunfos e um exemplo para o mundo é operar quase inteiramente com energia renovável (geotérmica e hidrelétrica), um modelo de sustentabilidade ambiental e independência energética.

A cultura islandesa é profundamente enraizada na sua herança escandinava, uma tapeçaria rica tecida ao longo dos séculos. A vasta maioria dos islandeses são descendentes dos colonos nórdicos e gaélicos originais, mantendo uma forte ligação às suas origens ancestrais. O islandês, uma língua germânica do norte, é um descendente direto do nórdico antigo ocidental e mantém uma notável proximidade com o feroês, sendo um exemplo vivo de conservação linguística, onde a pureza do idioma é valorizada e incentivada. A rica herança cultural do país abrange desde a tradicional e distinta culinária islandesa, com seus sabores únicos, até a sua vasta e influente literatura, destacando-se as sagas medievais que narram a história, os mitos e os feitos heroicos dos seus antepassados. Notavelmente, a Islândia possui a menor população de qualquer membro da OTAN e é a única nação da aliança sem um exército permanente, contando apenas com uma Guarda Costeira levemente armada para a sua defesa e segurança marítima, confiando na sua adesão à OTAN para proteção mais ampla.

As Guerras do Bacalhau: Uma Disputa por Soberania Marítima

As Guerras do Bacalhau, conhecidas em islandês como Þorskastríðin (literalmente 'As Guerras do Bacalhau') ou Landhelgisstríðin ('As Guerras Costeiras'), e em alemão como Kabeljaukriege, representam uma série de confrontos marítimos ocorridos no século XX. Estas disputas, predominantemente entre a Islândia e o Reino Unido (com algum apoio da Alemanha Ocidental em fases iniciais), centraram-se nos direitos de pesca no rico Atlântico Norte. De forma notável, cada um destes embates terminou com uma vitória diplomática e legal para a Islândia, solidificando a sua soberania sobre os seus recursos marítimos, que são vitais para a sua economia e subsistência. Alguns historiadores islandeses chegam a ver a história da luta da Islândia pelo controlo dos seus recursos marítimos em dez episódios distintos, ou dez "guerras de bacalhau", que se estendem por séculos.

A história da pesca britânica nas águas próximas da Islândia remonta ao século XIV, quando os arrastões da Grã-Bretanha já navegavam em busca de suas preciosas capturas de bacalhau e outros peixes. Acordos firmados no século XV iniciaram uma longa série de disputas intermitentes entre as duas nações sobre os direitos de acesso e exploração. Contudo, a verdadeira escalada da competição pelos estoques de peixe e a demanda por frutos do mar aceleraram drasticamente no século XIX, à medida que a tecnologia de pesca melhorava (como o arrasto a vapor) e as populações cresciam, aumentando a pressão sobre os recursos marinhos.

A Escalada e os Confrontos Modernos

Os conflitos modernos, muitas vezes referidos como as "Guerras do Bacalhau", tiveram o seu início em 1952. Neste ano, a Islândia expandiu unilateralmente as suas águas territoriais de 3 para 4 milhas náuticas (aproximadamente 7 quilómetros), uma decisão fundamentada num precedente do Tribunal Internacional de Justiça que reconhecia o direito de uma nação de proteger os seus recursos costeiros. A resposta do Reino Unido foi imediata e dura: proibiu a descarga de peixe de navios islandeses nos portos britânicos, tentando exercer pressão económica. Em 1958, após uma conferência das Nações Unidas onde diversos países buscaram estender os limites das suas águas territoriais para 12 milhas náuticas (cerca de 22 km) sem sucesso de consenso internacional, a Islândia agiu novamente de forma unilateral. Expandiu as suas águas territoriais até este novo limite de 12 milhas náuticas e proibiu as frotas estrangeiras de pescar dentro desta zona, declarando-a exclusivamente sua. A Grã-Bretanha recusou-se veementemente a aceitar esta decisão, defendendo o princípio tradicional de "mar aberto", o que precipitou uma série de confrontos diretos com o Reino Unido e outras nações da Europa Ocidental. Estes confrontos ocorreram em três fases distintas ao longo de 20 anos, marcando momentos de alta tensão: a Primeira Guerra do Bacalhau (1958-1961), a Segunda Guerra do Bacalhau (1972-1973) e a Terceira Guerra do Bacalhau (1975-1976).

A natureza destes confrontos era tensa e perigosa, longe de ser apenas uma disputa diplomática. Barcos de pesca britânicos eram frequentemente escoltados pela Marinha Real para os pesqueiros disputados, numa demonstração de força naval, enquanto a Guarda Costeira da Islândia tentava afastá-los. Para isso, empregava táticas como o uso de longas amarras reforçadas, conhecidas como "cortadores de rede", para cortar as redes dos arrastões britânicos, inviabilizando a pesca. Navios de ambos os lados sofreram danos significativos devido a ataques de abalroamento, com a ameaça de perigo à vida e danos materiais pairando constantemente sobre as águas geladas do Atlântico Norte. Foi uma verdadeira "guerra de nervos" e de manobras marítimas.

Resolução e Legado: A Vitória Islandesa

Surpreendentemente, e apesar da disparidade de poder militar entre as nações, cada confronto das Guerras do Bacalhau foi concluído com um acordo favorável à Islândia, demonstrando a sua resiliência e a eficácia da sua estratégia diplomática e política. A Islândia, ciente da sua importância estratégica durante a Guerra Fria, chegou a ameaçar retirar-se da OTAN. Esta seria uma manobra de grande peso e de sérias implicações geopolíticas, pois a retirada islandesa faria com que a OTAN perdesse o acesso crucial à maior parte da "lacuna GIUK" (Groenlândia, Islândia, Reino Unido), um ponto de estrangulamento vital para a guerra antissubmarino no Atlântico Norte. Esta ameaça estratégica exerceu uma pressão considerável sobre os seus aliados, especialmente os Estados Unidos e o Reino Unido, que valorizavam a posição da Islândia para monitorizar movimentos de submarinos soviéticos.

Em um acordo mediado pela OTAN em 1976, o Reino Unido finalmente aceitou o estabelecimento por parte da Islândia de uma zona exclusiva de 12 milhas náuticas (22 km) ao redor de suas costas, onde apenas seus próprios navios poderiam pescar. Mais significativamente, reconheceu uma Zona Exclusiva de Pesca Islandesa de 200 milhas náuticas (370 km), dentro da qual as frotas de pesca de outras nações precisariam da permissão da Islândia para operar. Este acordo marcou o fim de mais de 500 anos de pesca britânica irrestrita nestas águas ricas em recursos.

As consequências para as comunidades pesqueiras britânicas, particularmente as de cidades como Grimsby e Hull, foram devastadoras; perderam o acesso a áreas de pesca vitais, resultando na perda de milhares de empregos e numa profunda reestruturação da sua indústria, com muitos barcos e empresas a serem forçados a fechar. Como resultado, o Reino Unido abandonou a sua política internacional de pesca de "mar aberto" e, em pouco tempo, declarou uma zona semelhante de 200 milhas náuticas em torno das suas próprias águas. Desde 1982, uma zona económica exclusiva (ZEE) de 200 milhas náuticas (370 quilómetros) tornou-se o padrão internacional sob a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS), em grande parte influenciada pelos precedentes estabelecidos pela Islândia nas Guerras do Bacalhau, que demonstraram a viabilidade e a necessidade de tal medida para a gestão sustentável dos recursos marinhos.

Terminologia, Incidentes e Análise

O termo "Guerra do Bacalhau" foi cunhado por um jornalista britânico no início de setembro de 1958, capturando a essência da disputa de forma dramática. No entanto, é importante notar que nenhum dos confrontos atende aos critérios usuais para uma guerra convencional, com uso massivo de força letal; são mais precisamente descritos como disputas interestatais militarizadas de baixa intensidade ou conflitos de pesca. Houve apenas uma morte confirmada diretamente ligada aos eventos das Guerras do Bacalhau: um engenheiro islandês, Halldór Sigurðsson, que foi acidentalmente morto em 29 de agosto de 1973, durante a Segunda Guerra do Bacalhau, enquanto reparava danos no barco de patrulha islandês Ægir após uma colisão com a fragata britânica HMS Apollo. Além disso, um arrastão de Grimsby, o Star of Orion, sofreu ferimentos graves em 19 de fevereiro de 1976, atingido por uma corda solta depois que uma canhoneira islandesa cortou a rede de seu navio.

Diversas explicações foram apresentadas para as Guerras do Bacalhau. Estudos recentes aprofundam os fatores económicos (a dependência islandesa da pesca vs. a indústria pesqueira britânica), legais (a evolução do direito marítimo internacional) e estratégicos (a importância da Islândia na OTAN) subjacentes para a Islândia e o Reino Unido, bem como os fatores domésticos e internacionais que contribuíram para a escalada da disputa. As lições extraídas destes confrontos foram amplamente aplicadas na teoria das relações internacionais, servindo como um estudo de caso notável sobre a capacidade de uma pequena nação defender os seus interesses vitais contra uma potência maior através de uma combinação astuta de diplomacia, estratégia e determinação inabalável.

Perguntas Frequentes sobre a Islândia

O que significa "Ísland"?
Em islandês, "Ísland" significa literalmente "Terra do Gelo". Este nome, dado pelos primeiros colonos nórdicos, reflete as paisagens glaciais e o clima frio do país, embora seja importante notar que o clima costeiro é atenuado pela Corrente do Golfo.
Por que a Islândia é conhecida como a "Terra do Fogo e Gelo"?
A Islândia é apelidada de "Terra do Fogo e Gelo" devido à sua combinação única de geleiras massivas e uma atividade vulcânica intensa. Está localizada sobre a Dorsal Meso-Atlântica, uma cadeia de montanhas submarinas que se eleva acima do nível do mar, resultando em vulcões ativos, fontes termais e campos de lava, lado a lado com vastas calotas de gelo.
O que é o Althing?
O Althing (em islandês: Alþingi) é o parlamento nacional da Islândia. Fundado em 930 d.C. no campo de Þingvellir, é considerado uma das mais antigas assembleias legislativas em funcionamento contínuo do mundo, simbolizando a longa tradição democrática e de autogoverno do povo islandês.
Qual a importância das Guerras do Bacalhau para a Islândia?
As Guerras do Bacalhau foram cruciais para a Islândia, pois foram confrontos nos quais a pequena nação defendeu com sucesso seus direitos de pesca e a soberania sobre seus recursos marítimos contra o Reino Unido. Essas vitórias garantiram a sustentabilidade de sua principal indústria pesqueira e estabeleceram um precedente fundamental para a adoção da zona econômica exclusiva de 200 milhas náuticas no direito internacional.
A Islândia possui um exército?
Não, a Islândia é única por ser o único membro da OTAN que não possui um exército permanente. Sua defesa e segurança são mantidas por uma Guarda Costeira levemente armada, uma unidade de polícia especializada (Viking Squad) e seus compromissos no âmbito da OTAN, que garantem a sua proteção coletiva.
Como a Islândia alcançou seu alto status de desenvolvimento?
O alto status de desenvolvimento da Islândia é resultado de uma combinação de fatores: a industrialização e modernização bem-sucedidas de sua indústria pesqueira após a Segunda Guerra Mundial (com apoio do Plano Marshall), a diversificação econômica para setores de alta tecnologia (como biotecnologia e finanças), um forte sistema de bem-estar social nórdico, baixos níveis de corrupção, e um foco pioneiro em energia renovável e sustentabilidade ambiental.
Como é a língua islandesa?
O islandês é uma língua germânica do norte, descendente diretamente do nórdico antigo ocidental trazido pelos colonos vikings. É notável por sua conservação, tendo mudado relativamente pouco ao longo dos séculos, o que significa que os islandeses modernos podem ler textos antigos com relativa facilidade. É uma língua complexa, com uma rica gramática e vocabulário, e seu estudo é uma parte fundamental da identidade cultural islandesa.