Glenn Gould, pianista e compositor canadense (m. 1982)

Glenn Herbert Gould, nascido Gold, em 25 de setembro de 1932, em Toronto, Canadá, e falecido prematuramente em 4 de outubro de 1982, foi um dos mais extraordinários e reverenciados pianistas clássicos do século XX. Sua genialidade e abordagem singular à música o estabeleceram como uma figura icônica, especialmente celebrado por suas interpretações das obras para teclado de Johann Sebastian Bach, que ele abordou com uma visão revolucionária e uma clareza sem precedentes.

A Abordagem Musical de um Gênio

A execução de Gould era distintamente marcada por uma proficiência técnica notável, permitindo-lhe desvendar e articular a complexa textura contrapontística da música de Bach com uma precisão e transparência quase arquitetónicas. Suas performances de Bach não eram apenas tecnicamente brilhantes; elas eram profundamente intelectuais, revelando as linhas melódicas e a estrutura subjacente de uma maneira que muitos consideravam uma redescoberta da obra do compositor barroco.

Gould, com sua perspicácia musical, manifestou uma preferência notável por certos períodos e compositores. Ele rejeitou grande parte da literatura romântica padrão para piano de compositores como Chopin, Liszt e Rachmaninoff, frequentemente expressando uma aversão ao que ele via como o sentimentalismo excessivo ou a superficialidade virtuosística desses repertórios. Em vez disso, seu foco principal recaía sobre Bach e Beethoven, compositores cujas estruturas musicais e profundidade intelectual ressoavam profundamente com sua própria filosofia artística. No entanto, sua curiosidade musical não se limitava a estes mestres. O repertório de Gould era surpreendentemente diversificado, abrangendo desde compositores pré-barrocos como Jan Pieterszoon Sweelinck, William Byrd e Orlando Gibbons, até a modernidade do século XX com Paul Hindemith, Arnold Schoenberg e Richard Strauss, sem esquecer obras de Mozart, Haydn e Brahms. Essa amplitude demonstrava um intelecto musical vasto e uma busca incessante por obras que desafiassem e cativassem sua mente e dedos.

Excentricidades, Inovação e Outros Talentos

Glenn Gould era tão famoso por sua música quanto por suas excentricidades, que se manifestavam em suas interpretações musicais pouco ortodoxas, em seus maneirismos no teclado e em aspectos de seu estilo de vida e comportamento. Ele era conhecido por cantarolar audivelmente enquanto tocava, por usar um banco de piano baixo e feito sob medida, por suas roupas pesadas mesmo em climas quentes, e por sua aversão a apertos de mão. Essas peculiaridades, embora incomuns, tornaram-se parte integrante de sua persona artística, contribuindo para seu mistério e carisma.

Aos 31 anos, em 1964, Gould tomou uma decisão radical e sem precedentes para um pianista de sua estatura: ele parou de dar concertos públicos. Essa escolha, que chocou o mundo da música clássica, foi impulsionada pelo seu desejo de se concentrar exclusivamente em gravações de estúdio e outros projetos criativos. Para Gould, o estúdio oferecia um ambiente onde ele poderia exercer controle total sobre a performance, a acústica e a edição, permitindo-lhe buscar uma perfeição artística que ele sentia ser inatingível no palco ao vivo. Ele via o estúdio como um laboratório, um espaço para experimentação e inovação, muito à frente de seu tempo.

Além de sua carreira lendária como pianista, Gould era um intelectual multifacetado. Foi um prolífico escritor, contribuindo com ensaios perspicazes para revistas musicais onde discutia teoria e delineava sua singular filosofia musical. Sua presença na rádio e televisão foi significativa, com performances e comentários que alcançaram um público vasto. Ele também produziu documentários de rádio inovadores, incluindo a célebre "Trilogia da Solidão" (The Solitude Trilogy), uma série de três obras de música concreta explorando a vida e o isolamento em regiões remotas do Canadá, que é um testemunho de seu profundo interesse na paisagem e na identidade canadense. Embora fosse primariamente conhecido como pianista, Gould demonstrou sua versatilidade ao encerrar sua carreira musical com uma notável gravação do Siegfried Idyll de Wagner, atuando não ao piano, mas como maestro, solidificando seu legado como um artista de abrangência e profundidade excepcionais.

FAQ – Perguntas Frequentes sobre Glenn Gould

Quem foi Glenn Gould?
Glenn Herbert Gould (1932-1982) foi um pianista clássico canadense, amplamente considerado um dos mais famosos e celebrados do século XX, conhecido por suas interpretações únicas e tecnicamente brilhantes das obras de Johann Sebastian Bach.
Por que ele era tão famoso por Bach?
Gould era renomado por sua capacidade excepcional de articular a textura contrapontística da música de Bach, revelando a complexidade e a clareza das vozes individuais com uma precisão e intelecto que muitos consideraram revolucionárias e profundamente reveladoras.
Quais eram as excentricidades de Gould?
Ele era conhecido por cantarolar enquanto tocava, usar um banco de piano muito baixo e feito sob medida, vestir-se pesadamente mesmo em climas quentes, e manifestar uma aversão a apertos de mão. Suas interpretações também podiam ser consideradas pouco ortodoxas em termos de tempo e fraseado.
Por que Gould parou de dar concertos aos 31 anos?
Ele tomou essa decisão radical para se concentrar exclusivamente em gravações de estúdio. Gould acreditava que o estúdio oferecia um ambiente mais controlado e criativo, permitindo-lhe buscar uma perfeição artística e experimentar com a música de formas que não eram possíveis no palco ao vivo.
Qual era o repertório musical preferido de Gould?
Embora suas gravações fossem dominadas por Bach e Beethoven, e ele rejeitasse grande parte do repertório romântico padrão, Gould também explorou compositores pré-barrocos (como Sweelinck, Byrd), outros clássicos (Mozart, Haydn, Brahms) e modernistas do século XX (Hindemith, Schoenberg, Strauss).
Gould tinha outros talentos além de tocar piano?
Sim, ele foi um escritor prolífico sobre teoria musical, um radialista e apresentador de televisão, um compositor e, em sua fase final, um maestro, tendo gravado a obra Siegfried Idyll de Wagner sob sua regência.