O Thaipusam é um dos festivais mais importantes e visualmente marcantes da cultura tâmil, uma celebração vibrante de fé, devoção e penitência. Este festival hindu tem as suas raízes profundas na mitologia e é dedicado ao deus Kartikeya, também reverenciado como Murugan, a divindade hindu da guerra, da juventude e da vitória. O cerne da festividade comemora a épica vitória de Kartikeya sobre o cruel e tirânico demónio Soorapadman. Este triunfo simboliza a superação do mal pelo bem e a eliminação das energias negativas, sendo um poderoso lembrete da justiça divina.

A data do Thaipusam não é fixa no calendário gregoriano, mas é intrinsecamente ligada ao ciclo lunar e ao calendário tâmil. Ele tipicamente coincide com a lua cheia (conhecida como Pusam, referindo-se à estrela Pushya na constelação de Câncer) do mês tâmil de Thai. Este período usualmente recai entre os meses de janeiro e fevereiro no calendário ocidental. A escolha da lua cheia é significativa, pois representa a plenitude, a luz e a auspiciosidade, ideais para a devoção e a reflexão espiritual.

Origens Mitológicas e Simbolismo

A narrativa central do Thaipusam gira em torno da lenda de Kartikeya e do demónio Soorapadman. Segundo a mitologia, Soorapadman era um asura invencível que aterrorizava os deuses e o mundo com os seus poderes malignos. Para derrotá-lo e restaurar a paz, a deusa Parvati, mãe de Kartikeya, concedeu-lhe uma poderosa lança divina, o Vel. Esta lança não é apenas uma arma, mas um símbolo sagrado de sabedoria, pureza, discernimento e poder, capaz de aniquilar a escuridão e a ignorância. A vitória de Kartikeya, armado com o Vel, marcou o fim do reinado de terror de Soorapadman, restabelecendo a ordem e a justiça no universo. Para os devotos, o Vel representa a proteção divina e a capacidade de superar os próprios obstáculos internos.

Rituais e Celebrações Devocionais

As celebrações do Thaipusam são notórias pela sua intensidade e pela profunda devoção dos participantes. Milhões de devotos reúnem-se em templos, especialmente aqueles dedicados a Murugan, para cumprir votos, agradecer bênçãos recebidas ou buscar purificação espiritual. Os rituais podem variar, mas muitos envolvem sacrifícios pessoais e atos de penitência. Um dos rituais mais icónicos é o Kavadi Attam, onde os devotos carregam elaboradas estruturas ornamentadas, os Kavadis, muitas vezes adornados com penas de pavão (a montaria de Murugan) e flores. Em demonstrações extremas de fé, estes Kavadis podem ser presos ao corpo por ganchos ou espetos perfurantes. Este ato é visto como uma forma de purgação e um sacrifício físico para demonstrar a sua devoção inabalável e gratidão.

Além disso, muitos carregam potes de leite (Paal Kudam) em procissões como oferendas a Murugan, simbolizando pureza, abundância e fertilidade. Antes do festival, os devotos geralmente seguem um período rigoroso de jejum (por vezes, até 48 dias), orações e abstinência sexual, preparando-se espiritualmente e fisicamente para os rituais intensos. Acredita-se que este período de purificação permite que o devoto não sinta dor durante as perfurações, devido ao foco espiritual e ao estado de transe.

Thaipusam como Feriado Nacional: Um Panorama Internacional

Devido à sua profunda importância cultural e religiosa para a diáspora tâmil, o Thaipusam é reconhecido como um feriado nacional em vários países que abrigam uma população tâmil significativa. Estes incluem:

No entanto, a situação difere em outros lugares. Em Singapura, por exemplo, o Thaipusam foi removido da lista de feriados nacionais em 1968. Esta decisão foi, em grande parte, motivada por razões económicas e pela necessidade de otimizar os dias de trabalho, num contexto de uma nação multi-étnica e multi-religiosa que busca um equilíbrio na sua política de feriados públicos. Apesar de não ser um feriado oficial, o festival continua a ser amplamente celebrado pela vibrante comunidade tâmil em Singapura com grande entusiasmo e participação, incluindo procissões impressionantes do templo Sri Srinivasa Perumal ao templo Sri Thendayuthapani.

Perguntas Frequentes sobre o Thaipusam

O que significa o nome "Thaipusam"?
O nome "Thaipusam" é uma junção de "Thai", que se refere ao décimo mês do calendário tâmil em que o festival ocorre, e "Pusam", o nome de uma estrela (Pushya em sânscrito) que está no seu ponto mais alto no céu durante o período da lua cheia do mês de Thai. A combinação simboliza a auspiciosidade e a energia celeste do dia.
Qual é o principal propósito do festival Thaipusam para os devotos?
Para os devotos, o Thaipusam serve a múltiplos propósitos espirituais: é uma celebração da vitória do bem sobre o mal, um dia para pagar votos (promessas feitas a divindades em troca de bênçãos recebidas), um ato de gratidão por orações atendidas, e uma oportunidade para realizar penitências e purificação espiritual, demonstrando devoção e fé inabaláveis no deus Kartikeya (Murugan). É também visto como uma forma de remover karmas negativos e alcançar crescimento espiritual.
Quais são os rituais mais conhecidos e como eles são realizados?
Os rituais mais emblemáticos incluem o Kavadi Attam, onde devotos carregam arcos ornamentados de madeira ou metal, elaboradamente decorados com pavões e flores. Estes Kavadis podem ser extremamente pesados, e em alguns casos, são presos ao corpo por ganchos ou espetos perfurantes como um ato de penitência. Outro ritual comum é o transporte de potes de leite (Paal Kudam) como oferendas, simbolizando pureza. Muitos devotos entram em transe induzido pela devoção e pela música de tambores e cânticos, facilitando a superação da dor física.
Por que o Thaipusam deixou de ser feriado nacional em Singapura?
A decisão de remover o Thaipusam da lista de feriados nacionais em Singapura em 1968 foi primariamente econômica, parte de um esforço do governo para minimizar o número de feriados públicos e aumentar a produtividade e a competitividade da nação. Embora a Malásia, o Sri Lanka e Maurício o mantenham, Singapura, com sua política de feriados cuidadosamente balanceada para atender a múltiplas religiões, optou por priorizar a eficiência econômica, embora a comunidade continue a celebrar com fervor.