Pierre Graber, uma figura proeminente na política suíça do século XX, nasceu em 6 de dezembro de 1908, em La Chaux-de-Fonds, uma cidade relojoeira no cantão de Neuchâtel, hoje reconhecida como Patrimônio Mundial da UNESCO por sua arquitetura e urbanismo. Sua vida, que se estendeu por 94 anos até seu falecimento em 19 de julho de 2003, em Lausanne, foi marcada por uma dedicação inabalável ao serviço público, culminando em sua eleição para o Conselho Federal Suíço, onde atuou como um dos sete membros do governo colegiado da Confederação de 1970 a 1978.
Formação e Início de Carreira Política
Após completar seus estudos de direito em Neuchâtel e Viena – uma trajetória que demonstrava sua inclinação tanto para o rigor jurídico quanto para uma perspectiva europeia –, Graber estabeleceu-se como advogado em Lausanne, a capital francófona do cantão de Vaud. Esta cidade vibrante seria o palco para os primeiros passos de sua notável carreira política, onde rapidamente se destacaria como um membro ativo do Partido Social Democrata. Sua filiação a este partido, que historicamente defendeu a justiça social e a solidariedade, moldaria sua visão política e o guiaria através de uma série de cargos eletivos.
- No Âmbito Municipal e Cantonal: A carreira de Graber ascendeu gradualmente, começando pelo parlamento municipal de Lausanne, onde serviu de 1934 a 1946. Simultaneamente, atuou como membro do parlamento do cantão de Vaud entre 1937 e 1946, demonstrando sua capacidade de conciliar responsabilidades em diferentes esferas governamentais. Seu comprometimento e competência o levaram a ser eleito Prefeito de Lausanne, cargo que ocupou de 1946 a 1949, um período crucial de reconstrução pós-guerra na Europa.
- Experiência no Conselho Nacional: Sua influência logo se estendeu ao cenário federal. Graber foi eleito para o Conselho Nacional – a câmara baixa do parlamento suíço – onde serviu por um período extenso, de 1942 a 1969, com uma breve interrupção em 1963. Seu prestígio dentro da Assembleia foi tal que ele foi eleito Presidente do Conselho Nacional para o período de 1965 a 1966, uma função de grande responsabilidade que o colocava como o principal porta-voz do parlamento federal. Durante este tempo, sua experiência e discernimento foram frequentemente solicitados, notadamente como membro da importante comissão dos Negócios Estrangeiros, e como vice-presidente da comissão parlamentar de inquérito que investigou o "Caso Mirage", um escândalo relacionado a sobrepreços na compra de aviões de combate que marcou a política suíça da época.
- Retorno ao Nível Cantonal Executivo: Antes de ascender ao mais alto escalão da política suíça, Graber também contribuiu significativamente para o governo de seu cantão natal, Vaud. De 1962 a 1970, ele foi membro do governo cantonal, responsável pelo estratégico Departamento de Finanças, consolidando sua reputação como um gestor competente e visionário.
Um aspecto notável de sua carreira anterior ao Conselho Federal foi sua participação como um dos quatro membros da Comissão encarregada de resolver o "Problema do Jura". Esta questão complexa envolvia a aspiração de autonomia de uma região francófona e de maioria católica dentro do cantão predominantemente germanófono e protestante de Berna, um desafio que exigia sensibilidade política e grande capacidade de negociação. A atuação de Graber neste contexto sublinhou sua habilidade em mediar conflitos e buscar soluções equitativas para questões de identidade e soberania, culminando na criação do cantão do Jura anos mais tarde.
Serviço no Conselho Federal Suíço: O Diplomata Principal da Suíça
O coroamento da carreira política de Pierre Graber ocorreu em 10 de dezembro de 1969, quando foi eleito para o Conselho Federal Suíço, o órgão executivo colegiado de sete membros que funciona como o chefe de estado e de governo da Confederação Suíça. Durante todo o seu mandato, que se estendeu até 31 de janeiro de 1978, Graber chefiou o Departamento Político, o que na prática correspondia ao Ministério das Relações Exteriores. Sua nomeação para este departamento estratégico não foi uma surpresa, dada sua vasta experiência em assuntos internacionais e sua passagem pela comissão de Negócios Estrangeiros do Conselho Nacional. Neste papel, ele se tornou o principal arquiteto da política externa suíça em uma década de grandes transformações globais.
Em 1975, Pierre Graber assumiu a presidência da Confederação, um papel rotativo e essencialmente representativo, que o colocou como primus inter pares (primeiro entre iguais) entre os Conselheiros Federais. Embora o presidente suíço não possua poderes executivos adicionais significativos, a função é de grande prestígio e exige representação ativa tanto no cenário nacional quanto internacional.
Destaques do Mandato como Ministro das Relações Exteriores:
- Fortalecimento da Cooperação para o Desenvolvimento: Durante seu mandato, uma nova lei de Cooperação para o Desenvolvimento foi adotada. Esta iniciativa reforçou o compromisso da Suíça com a solidariedade internacional, alinhando-se com a tradicional política humanitária do país e expandindo seus esforços em auxílio ao desenvolvimento global, especialmente em regiões necessitadas.
- Ato Final de Helsinque (CSCE): Um dos momentos mais emblemáticos de sua gestão foi a assinatura do Ato Final de Helsinque da Conferência sobre Segurança e Cooperação na Europa (CSCE) em 1º de agosto de 1975, em nome da Suíça. Este documento histórico, que reuniu líderes de 35 estados do Ocidente e do Bloco Soviético, representou um marco na política de distensão da Guerra Fria e estabeleceu princípios fundamentais sobre segurança, cooperação econômica e direitos humanos, ressoando profundamente com os valores de neutralidade e diálogo da Suíça.
- Ratificação da Convenção Europeia dos Direitos do Homem: Graber desempenhou um papel crucial na obtenção da ratificação pelo Parlamento suíço da Convenção Europeia dos Direitos do Homem em 1974. Este passo significou um compromisso formal da Suíça com os direitos fundamentais e as liberdades cívicas no contexto europeu, fortalecendo sua posição como defensora dos direitos humanos.
- Conselho da Europa e o Palácio da Europa: Em 15 de maio de 1972, como presidente do Comitê de Ministros do Conselho da Europa, Pierre Graber teve a honra de lançar a primeira pedra do Palácio da Europa em Estrasburgo. Este ato simbólico sublinhou o engajamento da Suíça com as instituições europeias e a promoção da cooperação transfronteiriça no continente, mesmo não sendo um membro da então Comunidade Econômica Europeia.
- Reconhecimento Diplomático de Vietnã do Norte e Coreia do Norte: Demonstração de uma política externa pragmática e universalista, por sua iniciativa, a Suíça reconheceu diplomaticamente o Vietnã do Norte e a Coreia do Norte. Esta decisão, ousada para a época no auge da Guerra Fria, refletia a crença suíça na importância do diálogo com todos os estados, independentemente de seus sistemas políticos, e sua adesão ao princípio da universalidade das relações diplomáticas.
- Presidente da Conferência dos Protocolos Adicionais às Convenções de Genebra: Em 1977, Graber presidiu a conferência diplomática que culminou na adoção dos Protocolos Adicionais às Convenções de Genebra. Este foi um feito significativo, reafirmando e expandindo o papel vital da Suíça na promoção e no desenvolvimento do direito internacional humanitário, um legado que remonta à fundação da Cruz Vermelha.
- Gestão de Crises: Seu mandato também foi testado por desafios imprevistos. Em 1970, ele enfrentou a primeira crise de terrorismo internacional envolvendo uma aeronave suíça, quando um avião da Swissair foi atacado e explodido em Zarqa, Jordânia. Este evento exigiu uma resposta diplomática ágil e firme, marcando a entrada da Suíça em um novo cenário de ameaças globais e a necessidade de fortalecer a segurança internacional.
Pós-Aposentadoria e Legado
Após sua aposentadoria do Conselho Federal em 1978, Pierre Graber continuou a ser uma voz respeitada na Suíça. Ele oferecia suas opiniões ponderadas em ocasiões importantes, compartilhando sua vasta experiência e visão sobre os rumos do país. Um exemplo notável foi seu posicionamento durante o debate sobre a tentativa frustrada da Suíça de ingressar nas Nações Unidas em 1986. A Suíça, historicamente comprometida com a neutralidade, só se tornaria membro pleno da ONU em 2002, e a discussão em 1986 refletia as complexas tensões entre a tradição de neutralidade e a aspiração por um maior engajamento internacional, temas sobre os quais Graber tinha uma profunda compreensão. Sua morte, em 2003, encerrou a vida de um estadista que moldou significativamente a política suíça, especialmente no cenário internacional, deixando um legado de diplomacia, compromisso com a paz e defesa dos direitos humanos, e uma visão modernizada da neutralidade suíça.
Perguntas Frequentes (FAQs) sobre Pierre Graber
- Quando e onde Pierre Graber nasceu e faleceu?
- Pierre Graber nasceu em 6 de dezembro de 1908, em La Chaux-de-Fonds, Suíça, e faleceu em 19 de julho de 2003, em Lausanne, aos 94 anos.
- Qual foi o principal cargo que ele ocupou no governo federal?
- Ele foi membro do Conselho Federal Suíço de 1970 a 1978, atuando como chefe do Departamento Político (Ministério das Relações Exteriores), tornando-se o principal diplomata da Suíça durante esse período.
- Pierre Graber foi Presidente da Confederação Suíça?
- Sim, ele ocupou a presidência da Confederação Suíça em 1975. Na Suíça, o Presidente é um dos sete Conselheiros Federais, eleito para um mandato de um ano, sendo primus inter pares e representando o país em funções protocolares.
- Quais foram algumas de suas principais realizações como Ministro das Relações Exteriores?
- Entre suas conquistas destacam-se a assinatura do Ato Final de Helsinque da CSCE em 1975, a ratificação da Convenção Europeia dos Direitos do Homem em 1974, a presidência da conferência que levou aos protocolos adicionais das Convenções de Genebra em 1977, e o reconhecimento diplomático do Vietnã do Norte e da Coreia do Norte, demonstrando uma política externa universalista.
- Qual foi seu envolvimento com o "Problema do Jura"?
- Antes de se tornar Conselheiro Federal, Graber serviu como um dos quatro membros da Comissão encarregada de resolver o "Problema do Jura", uma complexa questão territorial e cultural que levou à eventual criação do novo cantão do Jura, demonstrando suas habilidades de negociação e mediação.
- O que foi o "Caso Mirage" e qual o papel de Graber?
- O "Caso Mirage" foi um escândalo político na Suíça relacionado a sobrepreços na compra de aviões de combate franceses. Pierre Graber atuou como vice-presidente da comissão parlamentar de inquérito que investigou o caso, contribuindo para a transparência e a responsabilização governamental.
- A Suíça era membro da ONU durante o mandato de Graber?
- Não. Embora Graber tenha expressado suas opiniões sobre o assunto após se aposentar, a Suíça só se juntou às Nações Unidas como membro pleno em 2002, após um longo debate interno sobre a compatibilidade da adesão com sua tradicional política de neutralidade.

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