O Major-General Charles George Gordon CB (28 de janeiro de 1833 – 26 de janeiro de 1885) foi uma das figuras mais emblemáticas e complexas do Império Britânico no século XIX. Conhecido por diversos epítetos que refletem a sua extraordinária carreira – como "Gordon Chinês", "Gordon Paxá" e, mais tragicamente, "Gordon de Cartum" – ele foi um oficial do Exército britânico e um administrador colonial cuja vida foi marcada por feitos militares notáveis, missões humanitárias e um trágico fim.
Nascido em Woolwich, Londres, Gordon provinha de uma família de militares, e a sua jornada no serviço britânico começou cedo. Após ser comissionado no Corpo de Engenheiros Reais, teve a sua primeira experiência em combate durante a Guerra da Crimeia (1853-1856). Embora ainda jovem e a servir como oficial de engenharia, a sua participação neste conflito, que opôs a Rússia a uma aliança que incluía o Império Britânico, França, Império Otomano e Sardenha, deu-lhe uma introdução precoce aos rigores da guerra.
A Ascensão do "Gordon Chinês"
No entanto, foi no Extremo Oriente que a sua lenda começou a ser forjada. Em 1860, Gordon foi enviado para a China durante a Segunda Guerra do Ópio. Após o conflito, a sua reputação militar consolidou-se quando, em 1863, foi colocado no comando do notável "Exército Sempre Vitorioso". Esta era uma força singular, composta principalmente por soldados chineses, mas liderada por oficiais europeus e ocidentais. A sua missão crucial era auxiliar a Dinastia Qing a reprimir a devastadora Rebelião Taiping (1850-1864), um dos conflitos mais sangrentos da história da humanidade.
Sob a liderança estratégica e tática de Gordon, o "Exército Sempre Vitorioso" tornou-se uma força imparável. Apesar de frequentemente enfrentar exércitos Taiping que superavam em muito os seus números, Gordon e as suas tropas obtiveram vitórias decisivas repetidamente. A sua bravura e engenhosidade foram instrumentais para virar a maré da rebelião em favor do imperador Qing. Por estas conquistas extraordinárias, Gordon foi agraciado com honras tanto pelo Imperador da China, que lhe concedeu o distintivo "Jaqueta Amarela" e o título de "Tidu" (General), quanto pelos britânicos, que o nomearam Companheiro da Ordem do Banho (CB). Foi a partir desta época que ele ganhou o famoso e duradouro apelido de "Gordon Chinês", um testemunho da sua proeza militar e do seu impacto na história chinesa.
Serviço no Egito e no Sudão
Depois de um período de serviço na Grã-Bretanha, a paixão de Gordon por missões desafiadoras e o seu desejo de fazer a diferença levaram-no a uma nova aventura. Em 1873, com a aprovação do governo britânico, ele entrou ao serviço do Quediva do Egito, Ismail Paxá. A sua notável reputação como administrador e estrategista logo o impulsionou a um cargo de imensa responsabilidade: em 1877, Gordon foi nomeado Governador-Geral do Sudão, uma vasta e desafiadora província egípcia na África.
Nesta função, Gordon dedicou-se arduamente a modernizar a administração, mas, acima de tudo, a combater duas pragas persistentes na região: as revoltas locais e o odioso comércio de escravos. Ele viajou extensivamente, confrontou senhores da guerra, negociou com chefes tribais e estabeleceu postos avançados, trabalhando incansavelmente para reprimir as atividades de tráfico humano. A sua energia e idealismo eram admiráveis, mas os desafios eram monumentais. Exausto pelas exigências do cargo e pela vasta extensão do território, e após um período de intenso trabalho e frustração, Gordon renunciou ao seu posto em 1880 e regressou à Europa, procurando um merecido descanso.
O Cerco de Cartum e o Fim Trágico
A tranquilidade de Gordon duraria pouco. Poucos anos depois da sua partida, uma grave revolta eclodiu no Sudão, impulsionada por um fervor religioso e nacionalista. O líder desta insurreição era Muhammad Ahmad, que se autoproclamou o Mahdi, o "Salvador" ou "Messias" do Islão, prometendo purificar a fé e libertar o Sudão do domínio egípcio e britânico. O movimento Mahdista rapidamente ganhou enorme apoio, e o poder egípcio-britânico na região começou a desmoronar-se.
No início de 1884, devido à sua experiência e profundo conhecimento do Sudão, Gordon foi relutantemente enviado de volta a Cartum pelo governo britânico. As suas instruções eram claras e limitadas: supervisionar a evacuação de soldados e civis leais do Egito e da Grã-Bretanha e partir com eles, evitando um confronto militar. No entanto, Gordon, impulsionado pelo seu forte senso de dever e lealdade para com os habitantes do Sudão que haviam confiado nele, desafiou essas instruções. Após evacuar cerca de 2.500 civis, ele optou por permanecer em Cartum com um grupo menor de soldados e não-militares, sentindo que não podia abandonar completamente a cidade e os seus defensores à mercê das forças do Mahdi.
Nos meses que antecederam a queda de Cartum, Gordon e o Mahdi trocaram correspondência, num diálogo notável entre os dois líderes. Gordon, talvez numa tentativa de dissuadir o Mahdi, chegou a oferecer-lhe o Sultanato de Cordofão em troca de paz. O Mahdi, por sua vez, instou Gordon a converter-se à sua fé e a juntar-se à sua causa. A resposta de Gordon foi um abrupto e desafiador: "Não!".
Assediado pelas forças do Mahdi, que eram vastamente superiores em número, Gordon organizou uma defesa heroica em toda a cidade, que durou quase um ano. Esta resistência tenaz, levada a cabo contra todas as probabilidades, capturou a imaginação e a admiração do público britânico, que clamava por uma força de socorro. Contudo, o governo em Londres, liderado pelo primeiro-ministro William Gladstone, estava relutante em enviar uma expedição militar custosa e arriscada, preferindo que Gordon tivesse seguido as suas ordens originais de evacuação.
Somente quando a pressão pública para agir se tornou irresistível é que o governo britânico, com considerável hesitação, despachou uma força de socorro. Infelizmente, esta ajuda chegou demasiado tarde. A 26 de janeiro de 1885, dois dias antes da chegada da coluna de socorro, as defesas de Cartum foram finalmente rompidas. As forças Mahdistas invadiram a cidade, e o Major-General Charles George Gordon foi morto, cumprindo o seu destino no palácio do Governador-Geral. A sua morte tornou-se um símbolo do heroísmo e do sacrifício, mas também de uma controvérsia política duradoura na Grã-Bretanha.
Perguntas Frequentes (FAQs)
- Quem foi o Major-General Charles George Gordon?
- Charles George Gordon foi um renomado oficial do Exército britânico e administrador colonial do século XIX. Ele é conhecido pelos seus serviços na China, onde ganhou o apelido de "Gordon Chinês", e pela sua atuação como Governador-Geral do Sudão, onde viria a morrer heroicamente durante o Cerco de Cartum.
- Por que ele foi chamado de "Gordon Chinês"?
- Ele recebeu o apelido de "Gordon Chinês" pelas suas notáveis conquistas militares na China. No comando do "Exército Sempre Vitorioso", uma força de soldados chineses liderados por oficiais europeus, ele desempenhou um papel crucial na supressão da Rebelião Taiping, obtendo vitórias significativas contra forças muito maiores.
- Qual foi o seu papel no Sudão antes do cerco de Cartum?
- Gordon serviu como Governador-Geral do Sudão de 1877 a 1880, sob o comando do Quediva do Egito. Durante este período, ele trabalhou intensamente para reprimir as revoltas locais e, de forma ainda mais significativa, para combater o tráfico de escravos, uma praga que assolava a região. Ele renunciou ao cargo devido à exaustão.
- O que levou ao Cerco de Cartum?
- O cerco foi provocado pela ascensão do movimento Mahdista no Sudão, liderado por Muhammad Ahmad, o autoproclamado Mahdi. Em 1884, Gordon foi enviado a Cartum com ordens para evacuar as forças egípcias e britânicas. No entanto, ele desobedeceu a essas instruções, decidindo permanecer e defender a cidade contra as forças Mahdistas, o que resultou no prolongado cerco.
- Como Charles George Gordon morreu?
- Gordon foi morto em 26 de janeiro de 1885, durante a queda de Cartum. As forças Mahdistas invadiram a cidade após um cerco de quase um ano, apenas dois dias antes da chegada de uma força de socorro britânica. Ele foi abatido no palácio do Governador-Geral, tornando-se um mártir para o público britânico.
- Qual é o legado de Charles George Gordon?
- O legado de Gordon é multifacetado. Ele é lembrado como um herói militar e um administrador com fortes princípios humanitários, especialmente na luta contra a escravatura. A sua morte em Cartum transformou-o num ícone da bravura e do sacrifício para o Império Britânico, embora também tenha gerado controvérsia política sobre a conduta do governo Gladstone e as suas próprias decisões na fase final da sua vida.

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