A Marinha de Guerra Imperial e Real, conhecida em alemão como kaiserliche und königliche Kriegsmarine (abreviado como k.u.k. Kriegsmarine) e em húngaro como Császári és Királyi Haditengerészet, foi a força naval oficial da Áustria-Hungria. Esta poderosa frota designava os seus navios com o prefixo SMS, uma abreviação de Seiner Majestät Schiff, que significa "Navio de Sua Majestade". A k.u.k. Kriegsmarine emergiu no cenário europeu após a formação da Monarquia Dual Austro-Húngara em 1867 e encerrou a sua existência em 1918, na sequência da derrota do Império e do seu subsequente colapso no final da Primeira Guerra Mundial.
História e Formação da Marinha Austro-Húngara
Antes da sua reformulação em 1867, a força naval do Império era conhecida como Marinha Imperial Austríaca ou, mais simplesmente, Marinha Austríaca. Esta marinha precursora já tinha um historial de combate notável, participando ativamente em diversos conflitos do século XIX. Os seus navios estiveram presentes nas Guerras Revolucionárias Francesas e nas Guerras Napoleónicas, desempenharam um papel na expedição austríaca contra Marrocos em 1829, e mais tarde na Segunda Guerra Egípcia-Otomana. A Marinha Austríaca também se viu envolvida nas Primeira e Segunda Guerras da Independência Italiana, na Segunda Guerra de Schleswig e na Terceira Guerra da Independência Italiana, demonstrando a sua relevância estratégica num período de intensa mudança política na Europa.
Após a derrota da Áustria pela Prússia e pela Itália durante a Guerra das Sete Semanas em 1866, o Império Austríaco passou por uma reforma constitucional, transformando-se na Monarquia Dual da Áustria-Hungria. Este evento, conhecido como o Compromisso Austro-Húngaro de 1867, também marcou a transição da Marinha Austríaca para a k.u.k. Kriegsmarine. Nos seus primeiros anos, a nova marinha foi, em grande parte, negligenciada pelo Império. No entanto, com o avanço da industrialização austro-húngara, a k.u.k. Kriegsmarine começou a expandir-se significativamente, tornando-se uma das maiores forças navais nos mares Adriático e Mediterrâneo. Em 1914, antes do eclodir da Primeira Guerra Mundial, contava com uma impressionante força em tempo de paz de 20.000 efetivos, tendo já participado em conflitos como a Rebelião dos Boxers e outras ações antes do grande conflito global.
A Marinha Austro-Húngara na Primeira Guerra Mundial
Durante a maior parte da Primeira Guerra Mundial, a k.u.k. Kriegsmarine viu-se estrategicamente confinada ao Mar Adriático devido à Barragem de Otranto, uma série de redes antissubmarino, campos minados e patrulhas navais mantidas pelos Aliados entre o Estreito de Otranto, com o objetivo de "engarrafar" as frotas inimigas. A principal responsabilidade da Marinha Austro-Húngara era defender os extensos 2.090 km (1.130 milhas náuticas) de litoral do Império e os 4.023,3 km (2.172,4 milhas náuticas) da sua costa insular. Dada a ameaça da Barragem de Otranto e o risco de destruição da sua valiosa frota de navios de guerra, cruzadores e outras embarcações de superfície, a Marinha optou por uma estratégia de defesa e ataques oportunistas com os seus submarinos (U-boats) contra navios aliados.
Em junho de 1918, num audacioso esforço para quebrar a Barragem de Otranto e permitir uma maior liberdade de ação, a k.u.k. Kriegsmarine planeou uma ofensiva naval em grande escala. Contudo, esta operação foi abruptamente cancelada após o afundamento do seu poderoso navio de guerra, o SMS Szent István, por um torpedeiro italiano em 10 de junho, um golpe devastador que abalou a confiança e a capacidade operacional da frota.
O Colapso e o Fim da k.u.k. Kriegsmarine
Cinco meses após o incidente do Szent István, com o Império Austro-Húngaro a enfrentar um colapso iminente e a derrota na guerra, foi tomada uma decisão drástica. Em 31 de outubro de 1918, o Império resolveu transferir a maior parte da sua marinha para o recém-declarado Estado dos Eslovenos, Croatas e Sérvios. Este ato, embora simbólico, marcou o fim efetivo da k.u.k. Kriegsmarine como uma força imperial unificada. Apenas três dias depois, as autoridades militares do Império assinaram o Armistício de Villa Giusti, selando a retirada do império em rápida desintegração da guerra.
Com a subsequente assinatura do Tratado de Saint-Germain-en-Laye e do Tratado de Trianon, o destino da antiga potência naval foi selado: a Áustria e a Hungria tornaram-se países sem litoral. Os portos mais cruciais do Império, como Trieste, Pola, Fiume e Ragusa, foram divididos e integrados à Itália e à recém-formada Iugoslávia. Os principais navios da k.u.k. Kriegsmarine foram entregues aos Aliados, que os desmantelaram na sua maioria durante a década de 1920, uma era marcada pela política de desarmamento naval global.
O SMS Szent István: Um Destino Trágico no Adriático
Construção e Comissionamento
O SMS Szent István ("Navio de Sua Majestade Santo Estêvão") foi o último dos quatro couraçados da classe Tegetthoff a ser construído para a Marinha Austro-Húngara, representando o ápice da sua capacidade de construção naval. A sua construção em Fiume (hoje Rijeka, Croácia), na parte húngara do Império Austro-Húngaro, foi uma significativa concessão política ao governo húngaro. Esta decisão visava garantir o apoio de Budapeste aos orçamentos navais de 1910 e 1911, que financiaram a ambiciosa classe Tegetthoff. O navio foi construído no estaleiro Ganz-Danubius em Fiume, onde foi lançado ao mar em janeiro de 1912. No entanto, a sua conclusão foi atrasada devido aos estaleiros menores de Fiume e, mais ainda, pelo eclodir da Primeira Guerra Mundial em julho de 1914. Foi finalmente comissionado para a Marinha Austro-Húngara em dezembro de 1915.
Armamento e Serviço de Guerra
Armado com uma formidável bateria principal de doze canhões de 30,5 cm (12,0 polegadas) dispostos em quatro torres triplas, o Szent István foi uma adição poderosa à frota. Após o seu comissionamento, foi designado para a 1ª Divisão de Couraçados da Marinha Austro-Húngara, juntamente com os outros navios da sua classe, e estava estacionado na importante base naval de Pola. Infelizmente, o seu comissionamento tardio significou que não pôde participar no bombardeio de Ancona, que ocorreu após a declaração de guerra da Itália à Áustria-Hungria em maio de 1915. Pelo resto da guerra, o Szent István viu pouca ação de combate devido à já mencionada Barragem de Otranto, que efetivamente impedia a Marinha Austro-Húngara de sair do Mar Adriático.
O Afundamento Fatídico
Em junho de 1918, num esforço desesperado para assegurar uma passagem mais segura para submarinos alemães e austro-húngaros através do Estreito de Otranto, a Marinha Austro-Húngara lançou uma operação para romper a Barragem. Este ataque seria liderado pelos quatro navios da classe Tegetthoff, incluindo o Szent István. Contudo, a missão foi abortada após o Szent István e o seu navio irmão, o Tegetthoff, terem sido avistados e atacados por torpedeiros italianos na manhã de 10 de junho. Enquanto o Tegetthoff conseguiu escapar ileso, o Szent István foi atingido por dois torpedos lançados pelo MAS-15. O poderoso couraçado virou cerca de três horas depois, nas águas da ilha de Premuda. A sua perda foi um duro golpe para a marinha e para o moral do Império. De forma única, o Szent István é o único navio de guerra cujo naufrágio foi filmado durante a Primeira Guerra Mundial, um documento histórico impressionante.
O Naufrágio Hoje
O naufrágio do Szent István foi localizado em meados da década de 1970 pela Marinha Iugoslava. Atualmente, ele repousa de cabeça para baixo a uma profundidade de 66 metros (217 pés). A sua proa quebrou-se ao atingir o fundo do mar enquanto a popa ainda estava a flutuar, mas hoje está imediatamente adjacente ao resto do casco, que se encontra fortemente incrustado pela vida marinha. O local do naufrágio é reconhecido como um sítio protegido pelo Ministério da Cultura croata, servindo como um memorial subaquático à história da Marinha Austro-Húngara e aos eventos da Primeira Guerra Mundial.
FAQs sobre a Marinha Austro-Húngara e o SMS Szent István
- Qual era o nome oficial da Marinha Austro-Húngara?
- O nome oficial em alemão era kaiserliche und königliche Kriegsmarine (Marinha de Guerra Imperial e Real), abreviado como k.u.k. Kriegsmarine. Em húngaro, era Császári és Királyi Haditengerészet.
- Quando existiu a Marinha Austro-Húngara?
- A k.u.k. Kriegsmarine existiu de 1867, após a formação da Monarquia Dual, até 1918, com o colapso do Império Austro-Húngaro no final da Primeira Guerra Mundial.
- O que significa "SMS" nos nomes dos navios?
- SMS significa Seiner Majestät Schiff, que em português se traduz como "Navio de Sua Majestade". Era o prefixo padrão para os navios de guerra da Marinha Austro-Húngara.
- Por que o SMS Szent István foi construído em Fiume, na parte húngara do Império?
- A construção do Szent István em Fiume foi uma concessão política feita ao governo húngaro. Esta decisão visava garantir o apoio da Hungria aos orçamentos navais de 1910 e 1911, que eram cruciais para financiar a classe Tegetthoff de couraçados.
- O que causou o afundamento do SMS Szent István?
- O SMS Szent István foi atingido por dois torpedos lançados pelo torpedeiro italiano MAS-15 na manhã de 10 de junho de 1918, durante uma tentativa da Marinha Austro-Húngara de romper a Barragem de Otranto. O navio virou e afundou aproximadamente três horas depois.
- Onde está localizado o naufrágio do SMS Szent István hoje?
- O naufrágio do SMS Szent István encontra-se de cabeça para baixo a uma profundidade de 66 metros (217 pés) ao largo da ilha de Premuda, no Mar Adriático. É um local protegido pelo Ministério da Cultura croata.

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