Nitiren, um monge budista japonês, propõe o Namu Myōhō Renge Kyō pela primeira vez e declara que é a essência do budismo, fundando o Budismo Nitiren.

A Vida e os Ensinamentos de Nitiren, o Visionário Monge do Período Kamakura

Nitiren (nascido a 6 de abril de 1222 e falecido a 13 de outubro de 1282), cujo nome de nascimento era Zennichi-maru, foi uma figura singular e influente no cenário religioso japonês, atuando como sacerdote e filósofo budista durante o turbulento Período Kamakura (1185-1333). Sua época foi marcada por grandes mudanças políticas, sociais e religiosas, que moldaram profundamente sua visão e a urgência de sua mensagem. Nitiren defendia veementemente que o soberano do Japão e todo o seu povo deveriam apoiar exclusivamente a sua forma de budismo, baseada nos ensinamentos do Sutra do Lótus, e que todas as outras escolas budistas deveriam ser abandonadas ou superadas, acreditando que apenas assim o país alcançaria a paz e a prosperidade. Esta postura, conhecida como shakubuku (que significa quebrar e subjugar o mal), era revolucionária e frequentemente controversa para a época.

O cerne da doutrina de Nitiren residia na prática da repetida recitação do mantra Nam-myoho-rengue-kyo, que ele postulava como o único caminho direto para atingir o estado de Buda para todas as pessoas na Era do Declínio do Darma (Mappō). Ele ensinava que o Buda Shakyamuni, o Buda histórico, e todas as outras divindades budistas reverenciadas eram, na verdade, manifestações extraordinárias de uma natureza búdica intrínseca e universal, a qual ele denominava "Myoho-Renge". Esta "Lei Mística do Sutra do Lótus" era, em sua visão, a essência fundamental da vida, igualmente acessível a todos os seres, independentemente de sua posição social ou méritos acumulados. Nitiren também enfatizou a importância da propagação ativa do Sutra do Lótus pelos crentes, mesmo diante de perseguições e adversidades, considerando isso uma demonstração de fé e um dever essencial.

A compreensão que temos da biografia de Nitiren, seu temperamento fervoroso e a evolução de suas crenças são derivadas predominantemente de seus próprios escritos, que são notavelmente prolíficos e revelam uma profunda introspecção e paixão. Nestes textos, ele chegou a se descrever ou a ser interpretado por seus seguidores como uma encarnação do Bodhisattva Jōgyō (Visistacaritra), figura mencionada no Sutra do Lótus com a missão de propagar a Lei nos Últimos Dias. Após sua morte, Nitiren designou seis discípulos seniores, no entanto, as reivindicações de sucessão para a liderança de sua linhagem foram e ainda são contestadas entre as diversas escolas que surgiram de seus ensinamentos.

Reconhecimento Postumano e Legado Contínuo

O impacto de Nitiren transcendeu sua vida. Em 1358, o Imperador Go-Kōgon concedeu-lhe postumamente o título de Nichiren Dai-Bosatsu (日蓮大菩薩, Grande Bodhisattva Nitiren), reconhecendo sua importância para a fé. Mais tarde, em 1922, em uma demonstração contínua de sua relevância espiritual e cultural, o Imperador Taisho conferiu-lhe o título de Risshō Daishi (立正大師, Grande Professor de Correção) por meio de um édito imperial.

Hoje, o Budismo Nitiren floresce em uma miríade de escolas e movimentos, tanto tradicionais quanto leigos, demonstrando a vitalidade e a adaptabilidade de seus ensinamentos. Entre as seitas de templos mais tradicionais, destacam-se a Nichiren-shu e a Nichiren Shōshū. Paralelamente, poderosos movimentos leigos surgiram e se expandiram globalmente, como a Soka Gakkai, a Risshō Kōsei Kai, a Reiyūkai, a Kenshōkai, a Honmon Butsuryū-shū, a Kempon Hokke e a Shōshinkai, entre muitos outros. Cada um desses grupos possui visões e interpretações variadas dos ensinamentos de Nitiren, com afirmações distintas sobre sua identidade. Essas interpretações vão desde considerá-lo um renascimento do Bodhisattva Visistacaritra, encarregado de propagar o Sutra do Lótus, até vê-lo como o Buda Primordial ou "Verdadeiro Buda" (本仏, Honbutsu) da Terceira Era do Budismo, sublinhando a riqueza e a diversidade teológica dentro do movimento Nitiren.

O Poder do Daimoku: Nam-myoho-rengue-kyo

O cerne da prática devocional no Budismo Nitiren reside na recitação do mantra Nam-myoho-rengue-kyo (南無妙法蓮華経). Estas palavras japonesas, proferidas por crentes em todas as vertentes do Budismo Nitiren, traduzem-se para o português como "Devoção à Lei Mística do Sutra do Lótus" ou "Glória ao Dharma do Sutra do Lótus". As palavras 'Myoho-Renge-Kyo' especificamente referem-se ao título japonês do Sutra do Lótus (妙法蓮華経, Myōhō-Renge-Kyō), texto fundamental para a fé.

Este mantra é comumente conhecido como Daimoku (題目) ou, de forma honorífica, O-Daimoku (お題目), ambos significando literalmente "título". A primeira declaração pública do Daimoku por Nitiren ocorreu a 28 de abril de 1253, no topo do Monte Kiyosumi, um evento que é hoje comemorado e reverenciado no templo Seichō-ji, localizado em Kamogawa, Prefeitura de Chiba, no Japão. A prática do canto prolongado e repetitivo do Daimoku é referida como Shōdai (唱題).

Para os crentes tradicionais, o objetivo principal do Shōdai é aliviar o sofrimento e transformar o karma negativo acumulado em vidas passadas e na presente, visando a redução de punições cármicas e, em última instância, o alcance do despertar perfeito e completo (iluminação). Através desta prática, os seguidores buscam manifestar a sua própria natureza búdica inata e contribuir para a paz e a felicidade tanto pessoal quanto coletiva.


Perguntas Frequentes (FAQs)

Quem foi Nitiren e qual a sua importância?
Nitiren (1222-1282) foi um sacerdote e filósofo budista japonês do Período Kamakura. Ele é considerado o fundador do Budismo Nitiren, uma vertente que enfatiza o Sutra do Lótus como a verdade última e a recitação de Nam-myoho-rengue-kyo como o caminho direto para a iluminação.
O que significa Nam-myoho-rengue-kyo?
Nam-myoho-rengue-kyo (南無妙法蓮華経) significa "Devoção à Lei Mística do Sutra do Lótus" ou "Glória ao Dharma do Sutra do Lótus". É o mantra central no Budismo Nitiren, considerado a essência do ensinamento do Buda.
Quando e onde Nitiren declarou o Daimoku pela primeira vez?
Nitiren declarou publicamente o Daimoku pela primeira vez em 28 de abril de 1253, no topo do Monte Kiyosumi, no Japão. Este local é hoje reverenciado e comemorado pelo templo Seichō-ji.
Quais são os principais objetivos de recitar Nam-myoho-rengue-kyo?
Os crentes recitam Nam-myoho-rengue-kyo (Daimoku) para reduzir o sofrimento, transformar o karma negativo (tanto de vidas passadas quanto da presente), diminuir as punições cármicas e, finalmente, alcançar o despertar perfeito e completo, manifestando a sua natureza búdica inata.
Existem diferentes escolas dentro do Budismo Nitiren?
Sim, o Budismo Nitiren é bastante diversificado. Inclui escolas tradicionais de templos como a Nichiren-shu e a Nichiren Shōshū, bem como movimentos leigos globalmente reconhecidos como a Soka Gakkai, a Risshō Kōsei Kai e a Reiyūkai, entre muitos outros. Cada grupo pode ter interpretações variadas dos ensinamentos de Nitiren e de sua identidade.
Por que Nitiren defendia a "erradicação" de outras formas de budismo?
Nitiren acreditava que, na Era do Declínio do Darma (Mappō), apenas os ensinamentos do Sutra do Lótus, conforme interpretados por ele, eram eficazes para a salvação. Sua defesa pela exclusividade do Sutra do Lótus e a "erradicação" das outras formas budistas derivava de sua convicção de que elas desviavam as pessoas do caminho correto, causando sofrimento e desordem social. Ele via sua missão como a de "corrigir" o budismo para o benefício de todos.