Guerra do Golfo: As tropas terrestres cruzam a fronteira da Arábia Saudita e entram no Iraque, iniciando assim a fase terrestre da guerra.
A Guerra do Golfo, um conflito marcante na história moderna, representou uma campanha militar de grande envergadura travada por uma coalizão internacional de 35 nações, liderada pelos Estados Unidos, contra o Iraque. O cerne do conflito residiu na resposta veemente da comunidade internacional à invasão e subsequente anexação do Kuwait pelo Iraque em 1990. Este período foi formalmente dividido em duas fases distintas, cada uma com seu próprio codinome: a Operação Escudo do Deserto, que decorreu de 2 de agosto de 1990 a 17 de janeiro de 1991, focada no acúmulo de tropas e na defesa da Arábia Saudita, e a Operação Tempestade no Deserto, a fase de combate que se estendeu de 17 de janeiro de 1991 a 28 de fevereiro de 1991.
As Raízes do Conflito: A Invasão do Kuwait
A 2 de agosto de 1990, as forças militares iraquianas lançaram uma invasão ao vizinho Estado do Kuwait, ocupando o país na sua totalidade em apenas dois dias. As motivações por trás desta ação agressiva foram objeto de diversas especulações, refletindo uma complexa teia de tensões econômicas e políticas regionais. Entre as principais razões aventadas, destacavam-se a incapacidade do Iraque de saldar uma dívida significativa de mais de US$ 14 bilhões com o Kuwait, empréstimo contraído para financiar os seus esforços militares durante a prolongada e desgastante Guerra Irã-Iraque.
Adicionalmente, um ponto de discórdia crucial era o aumento dos níveis de produção de petróleo do Kuwait, que, ao manter os preços internacionais do petróleo baixos, impactava diretamente as receitas iraquianas, já fragilizadas. Ao longo de grande parte da década de 1980, a produção petrolífera do Kuwait ultrapassou a cota obrigatória estipulada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), o que contribuiu para a depressão dos preços do petróleo no mercado global. O Iraque, sob a liderança de Saddam Hussein, interpretou a recusa do Kuwait em diminuir a sua produção como um ato de agressão econômica, exacerbando as tensões que culminariam na invasão.
A Resposta Internacional: Formação da Coalizão
A invasão do Kuwait foi imediatamente recebida com uma condenação unânime e veemente da comunidade internacional. Em resposta, o Conselho de Segurança das Nações Unidas impôs sanções econômicas severas contra o Iraque, um sinal claro da gravidade da situação. A então Primeira-Ministra britânica, Margaret Thatcher, e o Presidente americano, George H. W. Bush, agiram com celeridade, enviando tropas e equipamentos para a Arábia Saudita e exortando outras nações a contribuírem com as suas próprias forças. Este apelo global resultou na formação de uma vasta coalizão militar, a maior aliança deste tipo desde o fim da Segunda Guerra Mundial, demonstrando um compromisso internacional sem precedentes com a segurança regional e a soberania do Kuwait.
A maioria das forças militares da coalizão era proveniente dos Estados Unidos, com a Arábia Saudita, o Reino Unido e o Egito destacando-se como os maiores contribuintes iniciais, nesta ordem. O custo total estimado do conflito foi de cerca de US$ 60 bilhões, dos quais uma parcela substancial, aproximadamente US$ 32 bilhões, foi custeada pelo Kuwait e pela Arábia Saudita, evidenciando o seu forte interesse na resolução da crise e na estabilidade da região.
A Tempestade no Deserto: A Campanha Militar
O esforço para expulsar as forças iraquianas do Kuwait teve início com uma intensa campanha de bombardeios aéreos e navais em 17 de janeiro de 1991, que se estendeu por cinco semanas. Durante este período, o Iraque, numa tentativa de desestabilizar a coalizão, começou a lançar mísseis contra Israel, na esperança de provocar uma resposta militar israelense. A liderança iraquiana acreditava que tal ação levaria os estados muçulmanos da coalizão a retirarem-se, comprometendo a aliança. Contudo, a estratégia falhou, pois Israel optou por não retaliar diretamente, mantendo a coesão da coalizão.
Sem conseguir a resposta desejada em Israel, o Iraque também lançou mísseis Scud contra alvos da coalizão estacionados na Arábia Saudita. No entanto, estes ataques não alteraram o curso da guerra. A 24 de fevereiro, a coalizão lançou um ataque terrestre massivo no Kuwait ocupado pelo Iraque. Esta ofensiva revelou-se uma vitória decisiva para as forças aliadas, que rapidamente libertaram o Kuwait e começaram a avançar pela fronteira Iraque-Kuwait para o território iraquiano. Apenas 100 horas após o início da campanha terrestre, a coalizão declarou um cessar-fogo e cessou o seu avanço. O combate aéreo e terrestre ficou confinado às áreas do Iraque, Kuwait e à fronteira Iraque-Arábia Saudita, evitando uma escalada maior do conflito para outras regiões.
O Legado e o Impacto da Guerra
A Guerra do Golfo marcou um ponto de viragem na cobertura mediática de conflitos armados, sendo pioneira na introdução de transmissões de notícias ao vivo diretamente das linhas de frente de batalha. A rede americana CNN, em particular, ganhou notoriedade mundial por sua cobertura em tempo real. O conflito também ficou conhecido pelo apelido de "Video Game War", um termo que surgiu após a transmissão diária de imagens capturadas por câmeras a bordo de bombardeiros americanos durante a Operação Tempestade no Deserto, que mostravam os ataques com uma clareza sem precedentes.
Do ponto de vista militar, a Guerra do Golfo destacou-se por incluir três das maiores batalhas de tanques da história militar americana, como a famosa Batalha de 73 Easting, demonstrando a eficácia da tecnologia e da doutrina militar modernas. Além do impacto imediato na região, a guerra remodelou a geopolítica do Oriente Médio, influenciando políticas de segurança e defesa por décadas e estabelecendo um precedente para as futuras intervenções internacionais.
Perguntas Frequentes (FAQs)
- O que foi a Guerra do Golfo?
- Foi uma campanha militar internacional liderada pelos Estados Unidos contra o Iraque, em resposta à invasão e anexação do Kuwait pelo Iraque em 1990.
- Quais foram as principais razões para o conflito?
- As principais razões incluíram a dívida do Iraque com o Kuwait após a Guerra Irã-Iraque e a disputa sobre a produção de petróleo, que o Iraque considerava prejudicial à sua economia.
- Quantas nações fizeram parte da coalizão?
- A coalizão foi composta por 35 nações, sendo os Estados Unidos o principal líder, e a Arábia Saudita, o Reino Unido e o Egito entre os maiores contribuidores iniciais.
- Quais foram as fases principais da guerra?
- As fases foram a Operação Escudo do Deserto (acúmulo de tropas e defesa da Arábia Saudita) e a Operação Tempestade no Deserto (a fase de combate para libertar o Kuwait).
- Quanto tempo durou a fase de combate da Guerra do Golfo?
- A fase de combate, conhecida como Operação Tempestade no Deserto, durou aproximadamente seis semanas, de 17 de janeiro de 1991 a 28 de fevereiro de 1991.
- Qual foi o papel das Nações Unidas?
- A Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do seu Conselho de Segurança, desempenhou um papel crucial ao condenar a invasão iraquiana e impor sanções econômicas imediatas, legitimando a resposta da coalizão internacional.
- Por que a Guerra do Golfo foi chamada de "Video Game War"?
- Recebeu esse apelido devido à transmissão diária de imagens de câmeras a bordo de bombardeiros americanos, que mostravam os ataques com uma perspectiva que lembrava a de um jogo eletrônico, sendo a primeira vez que um conflito era exibido com tal detalhe ao público.
- Quais foram os resultados imediatos da guerra?
- A guerra resultou na libertação do Kuwait e numa vitória decisiva para as forças da coalizão. Um cessar-fogo foi declarado 100 horas após o início da campanha terrestre.