O primeiro governo liderado por negros da Rodésia (agora Zimbábue) em 90 anos toma o poder.

A Rodésia, oficialmente conhecida como República da Rodésia a partir de 1970, foi um estado não reconhecido situado na África Austral, existindo entre 1965 e 1979. Geograficamente, o seu território era equivalente ao do moderno Zimbábue. Este país sem litoral era, de facto, o sucessor da colónia britânica da Rodésia do Sul, que havia alcançado um significativo grau de autogoverno em 1923, quando lhe foi concedido o estatuto de "governo responsável".

As suas fronteiras eram partilhadas com importantes nações da região: a África do Sul a sul, o Bechuanalândia (que mais tarde se tornaria o Botsuana) a sudoeste, a Zâmbia (anteriormente Rodésia do Norte) a noroeste e Moçambique a leste, que permaneceu uma província portuguesa até 1975. Durante o período de 1965 a 1979, a Rodésia destacou-se por ser, juntamente com a África do Sul, um dos únicos dois estados independentes no continente africano governados por uma minoria branca de ascendência e cultura europeias, uma particularidade que marcou profundamente a sua história e as suas relações internacionais.

As Raízes Coloniais: Da Companhia de Rhodes ao Autogoverno

A história da Rodésia remonta ao final do século XIX, quando o território a norte do Transvaal foi objeto de um privilégio (carta régia) concedido à Companhia Britânica da África do Sul (BSAC), liderada pelo ambicioso magnata e político britânico Cecil Rhodes. Em 1890, Rhodes e a sua "Coluna de Pioneiros" marcharam para o norte, estabelecendo-se e adquirindo um vasto bloco de território que seria administrado pela companhia até o início da década de 1920. Esta colonização foi motivada pela busca de minerais e pela expansão do império britânico na África.

Em 1923, com a revogação da carta da companhia, a Rodésia do Sul alcançou o seu estatuto de governo autónomo. Este novo arranjo político concedeu aos colonos brancos uma autonomia considerável sobre os seus assuntos internos, resultando no estabelecimento de uma legislatura própria. Entre 1953 e 1963, a Rodésia do Sul participou de uma experiência política mais ampla, juntando-se à Rodésia do Norte (atual Zâmbia) e ao Niassalândia (atual Maláui) na Federação da Rodésia e Niassalândia. Esta federação visava criar uma entidade económica e política mais robusta na África Central, mas a sua dissolução em 1963, em parte devido às crescentes aspirações nacionalistas africanas e ao desejo de autogoverno das outras colónias, aumentou as ansiedades entre a minoria branca da Rodésia do Sul em relação ao seu futuro.

A Declaração Unilateral de Independência (UDI) e o Conflito Armado

A rápida onda de descolonização que varreu a África no final dos anos 1950 e início dos anos 1960 gerou um profundo alarme e apreensão em grande parte da população branca da Rodésia do Sul. Temendo uma transição para o governo da maioria negra, que viam como uma ameaça aos seus privilégios e ao seu modo de vida, o governo predominantemente branco da Rodésia do Sul tomou uma medida drástica. Em 11 de novembro de 1965, emitiu a sua própria Declaração Unilateral de Independência (UDI) do Reino Unido, um ato de desafio que não foi reconhecido internacionalmente.

A nova nação, que se identificou simplesmente como Rodésia, inicialmente procurou reconhecimento como um reino autónomo dentro da Comunidade das Nações (Commonwealth), mantendo uma lealdade nominal à Coroa Britânica. Contudo, perante a persistente recusa do Reino Unido e da comunidade internacional em aceitar a UDI, a Rodésia reconstituiu-se como uma república em 1970. Esta decisão aprofundou o seu isolamento. Em resposta à UDI e à manutenção do regime de minoria, dois proeminentes partidos nacionalistas africanos – a União Popular Africana do Zimbábue (ZAPU) e a União Nacional Africana do Zimbábue (ZANU) – lançaram uma insurgência armada. Este conflito, conhecido como a Guerra do Bush da Rodésia (ou Guerra de Libertação do Zimbábue), foi um período de intensa violência e desgaste para todas as partes envolvidas.

O Caminho para o Zimbábue: Negociações e Novas Eleições

Com o passar dos anos, o crescente cansaço da guerra, a incessante pressão diplomática internacional e um extenso embargo comercial imposto pelas Nações Unidas começaram a minar a resiliência do regime rodesiano. Em 1978, o então primeiro-ministro da Rodésia, Ian Smith, líder da Frente Rodesiana e figura central da UDI, viu-se forçado a ceder à ideia de um governo da maioria. Seguiram-se eleições e a formação de um governo provisório multirracial, com Smith a ser sucedido pelo moderado bispo Abel Muzorewa. No entanto, esta tentativa de transição não conseguiu apaziguar os críticos internacionais nem pôr fim à guerra civil, pois os principais movimentos nacionalistas armados consideravam o acordo insuficiente e continuavam a lutar pela plena libertação.

A situação política e militar era insustentável. Em dezembro de 1979, após intensas negociações mediadas pelo Reino Unido e realizadas na Lancaster House, em Londres, Muzorewa conseguiu um acordo com a ZAPU e a ZANU. Este acordo crucial permitiu que a Rodésia regressasse brevemente ao estatuto colonial britânico, preparando o terreno para novas eleições sob supervisão britânica e internacional. As eleições de 1980 foram um marco histórico, resultando na vitória eleitoral decisiva da ZANU, liderada por Robert Mugabe. Consequentemente, o país alcançou a sua independência internacionalmente reconhecida em abril de 1980, renascendo como Zimbábue, um nome que reflete a sua herança africana e a sua jornada rumo à autodeterminação.

A Estrutura de Governo e as Cidades Principais

As maiores cidades da Rodésia eram Salisbury, a sua capital, hoje conhecida como Harare e capital do Zimbábue, e Bulawayo, um importante centro económico e cultural. A estrutura governamental da Rodésia, embora influenciada pelo sistema de Westminster herdado do Reino Unido, foi marcada pela sua natureza racialmente segregacionista.

Antes de 1970, a Assembleia Legislativa unicameral era predominantemente branca, com um número limitado de assentos reservados para representantes negros, refletindo a disparidade demográfica e política. Após a declaração da república em 1970, este sistema foi substituído por um Parlamento bicameral, composto por uma Câmara dos Deputados e um Senado. Embora este sistema bicameral tenha sido mantido no Zimbábue após 1980, a sua aplicação na Rodésia era notavelmente diferente, devido ao sistema de franquia racial que impedia a maioria africana de ter uma representação justa e equitativa.

No seu funcionamento, a Rodésia observava um sistema político bastante convencional no que diz respeito à separação de poderes: um presidente atuava como chefe de estado cerimonial, enquanto um primeiro-ministro chefiava o gabinete como chefe de governo. Contudo, esta aparente normalidade mascarava a realidade de um estado que operava sob o controlo de uma minoria, cujas leis e políticas foram desenhadas para perpetuar o seu domínio em detrimento da maioria africana.

Perguntas Frequentes (FAQs) sobre a Rodésia

O que foi a Rodésia?
A Rodésia foi um estado não reconhecido na África Austral, com um governo de minoria branca, que existiu de 1965 a 1979. Corresponde territorialmente ao atual Zimbábue.
Quando e por que a Rodésia declarou independência?
A Rodésia (então Rodésia do Sul) declarou unilateralmente a sua independência do Reino Unido em 11 de novembro de 1965. O governo de minoria branca queria evitar uma transição para o governo da maioria negra, que o Reino Unido estava a promover no contexto da descolonização africana.
Quem foi Cecil Rhodes e qual a sua ligação com a Rodésia?
Cecil Rhodes foi um empresário e político britânico, figura proeminente do colonialismo na África Austral. A Companhia Britânica da África do Sul, liderada por ele, colonizou o território que mais tarde seria nomeado Rodésia em sua homenagem.
Quais eram as fronteiras da Rodésia?
A Rodésia fazia fronteira com a África do Sul a sul, o Bechuanalândia (atual Botsuana) a sudoeste, a Zâmbia (antiga Rodésia do Norte) a noroeste e Moçambique a leste.
Qual foi o principal conflito associado à Rodésia?
O principal conflito foi a Guerra do Bush da Rodésia (também conhecida como Guerra de Libertação do Zimbábue), uma insurgência armada lançada por partidos nacionalistas africanos (ZAPU e ZANU) contra o governo de minoria branca após a UDI.
Como terminou o estado da Rodésia?
A Rodésia terminou após acordos de paz (Acordo de Lancaster House em 1979) que levaram a eleições supervisionadas pelo Reino Unido em 1980. O país alcançou a independência internacionalmente reconhecida em abril de 1980, sob o nome de Zimbábue.
Quais eram as maiores cidades da Rodésia?
As maiores cidades da Rodésia eram Salisbury (a capital, hoje Harare) e Bulawayo.