Segunda Guerra Mundial: O Exército Thai Phayap invade os Estados Shan durante a Campanha da Birmânia.

A Segunda Guerra Mundial, um conflito de proporções globais, viu muitos teatros de operações, e um dos menos conhecidos, mas igualmente brutais e estrategicamente complexos, foi o do Sudeste Asiático. Neste cenário, um ator muitas vezes esquecido foi o Exército Phayap (em tailandês: กองทัพพายัพ, transliterado como Thap Phayap, significando "Noroeste"). Esta força tailandesa teve um papel particular ao invadir os Estados Shan Siameses, hoje conhecidos como os Estados Shan de Myanmar (antiga Birmânia), em 10 de maio de 1942, no contexto da extensa e desafiadora Campanha da Birmânia.

A Tailândia, sob a liderança do marechal de campo Plaek Phibunsongkhram, aliou-se ao Japão após uma breve invasão japonesa em dezembro de 1941. Esta aliança estratégica levou à declaração de guerra da Tailândia contra os Aliados e a uma cooperação militar com o Império Japonês, resultando na formação do Exército Phayap com o objetivo de avançar sobre territórios que a Tailândia considerava historicamente seus ou estrategicamente importantes, especialmente nas regiões fronteiriças com a Birmânia.

A Campanha da Birmânia: Um Teatro de Conflito Complexo

A Campanha da Birmânia foi uma série prolongada e intrincada de batalhas travadas na então colônia britânica da Birmânia, estendendo-se por quase todo o período da Segunda Guerra Mundial, de 1942 a 1945. Integrante do Teatro do Sudeste Asiático, esta campanha foi notável pela sua geografia desafiadora e pela diversidade de forças envolvidas.

Principais Atores e Alianças

De um lado, as Forças Aliadas eram compostas principalmente pelo Império Britânico – que incluía um vasto contingente de tropas da Índia Britânica, complementadas por forças do Exército Britânico, soldados coloniais da África Oriental e Ocidental, e unidades de outros Domínios e Colônias – e pela República da China. Estas forças contavam com o apoio essencial dos Estados Unidos, que forneciam recursos e assistência estratégica, particularmente através do lendário “Corcunda” (The Hump) e da Estrada da Birmânia.

Do outro lado, as Potências do Eixo na região eram lideradas pelo Império do Japão, cujas ambições expansionistas no Sudeste Asiático eram o catalisador do conflito. O Japão contava com o apoio de seus aliados regionais, como o já mencionado Exército Phayap tailandês, e com a colaboração de movimentos e exércitos nacionalistas de independência locais. Entre estes, destacavam-se o Exército de Independência da Birmânia (BIA), que liderou os ataques iniciais contra o país, e, mais tarde na campanha, o Exército Nacional Indiano (INA), liderado pelo carismático revolucionário Subhas Chandra Bose, que buscava a independência da Índia do domínio britânico e lutava ao lado das forças japonesas.

Durante a fase inicial de invasão japonesa, foram estabelecidos estados-fantoche nas áreas conquistadas, e territórios foram anexados, alinhando-se à visão japonesa de uma "Esfera de Co-Prosperidade da Grande Ásia Oriental". As ofensivas aliadas lançadas a partir da Índia Britânica, no entanto, enfrentaram reveses e fracassos iniciais, demonstrando a tenacidade das forças do Eixo e a complexidade do terreno birmanês.

Desafios e Características Únicas da Campanha

A Campanha da Birmânia distinguia-se por várias características marcantes:

Fases da Campanha

As dificuldades logísticas, o clima, a fome e a desordem na Índia Britânica, somados à prioridade inicial dos Aliados em derrotar a Alemanha Nazista, prolongaram a campanha e a dividiram em quatro fases distintas:

  1. A Invasão Japonesa (1942): Esta fase inicial resultou na expulsão das forças britânicas, indianas e chinesas da Birmânia, marcando um sucesso impressionante para o Eixo.
  2. Ofensivas Aliadas Fracassadas (final de 1942 ao início de 1944): Durante este período, os Aliados tentaram montar contraofensivas a partir da Índia, mas encontraram forte resistência e foram limitados pelos desafios do terreno e do clima.
  3. A Invasão Japonesa da Índia (1944): Uma tentativa ambiciosa do Japão de invadir a Índia foi finalmente frustrada após as cruciais Batalhas de Imphal e Kohima, que se tornaram pontos de viragem na campanha.
  4. A Ofensiva Aliada Vencedora e Liberação da Birmânia (final de 1944 a meados de 1945): A fase final viu uma ofensiva aliada bem-sucedida, impulsionada por melhorias logísticas e estratégicas, que culminou na libertação da Birmânia das forças japonesas.

O Contexto Político da Ocupação Japonesa e as Relações Aliadas

A campanha foi profundamente influenciada pela atmosfera política que eclodiu nas regiões do Sudeste Asiático ocupadas pelo Japão. A política pan-asianista da "Esfera de Co-Prosperidade da Grande Ásia Oriental" de Tóquio buscava unir a Ásia sob a liderança japonesa, prometendo independência das potências ocidentais. Isso levou a uma revolução patrocinada pelos japoneses durante a invasão inicial e ao estabelecimento do Estado da Birmânia, um regime nominalmente independente, mas de fato controlado pelo Japão. Foi também na Birmânia que o Governo Provisório da Índia Livre, com seu Exército Nacional Indiano, estabeleceu sua base.

No entanto, a atitude dominante e militarista dos comandantes japoneses, que muitas vezes desconsideravam as aspirações locais por uma verdadeira independência, fez com que as esperanças de autonomia genuína desaparecessem. Isso levou, em 1945, a uma reviravolta dramática, com o Exército Nacional da Birmânia (sucessor do BIA, mas agora desiludido com o Japão) a se revoltar e a se juntar aos Aliados.

As relações políticas no lado Aliado também foram complexas. No Teatro China-Birmânia-Índia (CBI), a cooperação entre a China e os Estados Unidos foi crucial, evidenciada pela Força X Chinesa treinada por americanos. Contudo, estratégias conflitantes entre o general Stilwell e o generalíssimo chinês Chiang Kai-shek levaram à eventual remoção de Stilwell de seu comando americano no teatro. Por outro lado, as relações entre a China e a Índia britânica eram mais positivas, impulsionadas pela construção da cooperativa Estrada da Birmânia, vital para suprir a Força Y chinesa e o esforço de guerra chinês, e pelas heroicas missões na perigosíssima rota aérea sobre o Himalaia, conhecida como "A Corcunda".

Legado da Campanha da Birmânia

A Campanha da Birmânia, com sua mistura de heroísmo, sofrimento e complexidade política, teve um impacto duradouro. Não só redefiniu o equilíbrio de poder no Sudeste Asiático, como também catalisou e intensificou as lutas pela independência na Birmânia e na Índia nos anos do pós-guerra, moldando o futuro de milhões de pessoas na região.

FAQ: Perguntas Frequentes sobre a Campanha da Birmânia e o Exército Phayap

O que foi o Exército Phayap?
O Exército Phayap (ou Payap) foi uma força militar tailandesa que, aliada ao Império do Japão durante a Segunda Guerra Mundial, invadiu os Estados Shan Siameses (atual Estados Shan de Myanmar) em 10 de maio de 1942. Seu nome significa "Noroeste", indicando a direção de sua operação.
Por que a Tailândia se aliou às Potências do Eixo?
A Tailândia foi invadida pelo Japão em dezembro de 1941. Após uma breve resistência, o governo tailandês, liderado pelo marechal Plaek Phibunsongkhram, optou por uma aliança com o Japão, vendo nela uma forma de evitar a ocupação total e de potencialmente recuperar territórios históricos, alinhando-se com a visão japonesa de uma "Grande Esfera de Co-Prosperidade da Ásia Oriental".
Qual foi a importância estratégica da Campanha da Birmânia?
A Birmânia era estrategicamente vital por ser uma colônia britânica rica em recursos e por sua localização geográfica, funcionando como uma ponte terrestre crucial entre a Índia britânica e a China. O controle da Birmânia permitia ao Japão isolar a China e ameaçar a Índia, enquanto para os Aliados, sua reconquista era essencial para manter a China na guerra e abrir uma rota para uma ofensiva contra o Japão.
Quem foram os principais combatentes na Campanha da Birmânia?
Os principais combatentes Aliados incluíam forças do Império Britânico (majoritariamente da Índia Britânica, mas também do Reino Unido, África Oriental e Ocidental), a República da China e apoio dos Estados Unidos. As forças do Eixo eram lideradas pelo Império do Japão, apoiado pelo Exército Phayap tailandês, o Exército de Independência da Birmânia (BIA) e, mais tarde, o Exército Nacional Indiano (INA).
Quais foram os maiores desafios enfrentados durante a campanha?
Os desafios foram imensos e incluíram: o terreno hostil (selvas densas, montanhas, rios), o clima extremo das monções que limitava as operações, a prevalência de doenças tropicais, a escassez de infraestrutura de transporte que dificultava a logística, e as complexas dinâmicas políticas entre os próprios Aliados, com suas prioridades estratégicas distintas.
Como a Campanha da Birmânia impactou os movimentos de independência pós-guerra?
A campanha teve um impacto profundo. A promessa japonesa de "independência" (mesmo que supervisionada) e o surgimento de exércitos nacionalistas como o BIA e o INA galvanizaram os sentimentos anti-coloniais. As experiências e as perdas da guerra também enfraqueceram o domínio colonial britânico, pavimentando o caminho para a independência da Índia e da Birmânia nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial.
O que foi "A Corcunda" (The Hump)?
"A Corcunda" foi o apelido dado à perigosa rota aérea sobre o Himalaia, utilizada pelos Aliados para transportar suprimentos vitais da Índia para a China, especialmente após o corte da Estrada da Birmânia pelos japoneses. Era uma das operações logísticas mais desafiadoras da guerra devido à altitude extrema, condições climáticas imprevisíveis e ameaças inimigas, e foi crucial para manter o esforço de guerra chinês.