O Holocausto na Ucrânia: No feriado judaico de Yom Kippur, os nazistas enviam mais de 1.000 judeus de Pidhaitsi para o campo de extermínio de Bełżec.

O Holocausto, um capítulo sombrio e devastador da história da humanidade, manifestou-se com uma brutalidade particular nas vastas terras que hoje compõem a Ucrânia durante a Segunda Guerra Mundial. Entre 1941 e 1944, mais de um milhão de judeus que viviam na União Soviética foram sistematicamente assassinados pelas políticas de extermínio da Alemanha Nazista, um plano genocida que ficou conhecido como a "Solução Final". Uma parte esmagadora dessas vítimas pereceu em solo ucraniano.

Este período de aniquilação desenrolou-se por um complexo mosaico de zonas administrativas e ocupadas. Estas incluíam o Reichskommissariat Ucrânia, um vasto regime de ocupação civil estabelecido pela Alemanha Nazista com o objetivo de explorar os recursos da região; o Governo Geral, que abrangia partes da Polônia ocupada e se estendia ao oeste da Ucrânia; e áreas sob direto controle militar alemão a leste do Reichskommissariat. Além disso, regiões como a Crimeia, também subjugada ao domínio nazista, e territórios como a província da Transnístria e a Bucovina do Norte, ocupadas e, no caso desta última, anexadas pela Romênia, bem como a Rutênia dos Cárpatos (então parte da Hungria), tornaram-se palcos de sofrimento indizível e massacres em grande escala. Atualmente, todas essas regiões históricas são partes integrantes da Ucrânia independente.

A principal razão para a imensa escala da aniquilação judaica na Ucrânia reside nas suas características demográficas históricas. Antes da Segunda Guerra Mundial, a maioria dos judeus soviéticos residia no Pale of Settlement (Zona de Assentamento), uma região no oeste do Império Russo onde os judeus eram historicamente autorizados a ter residência permanente. A Ucrânia constituía a maior e mais populosa parte deste Pale, o que significava que, quando as forças nazistas invadiram, uma vasta e concentrada população judaica se tornou imediatamente vulnerável aos seus planos genocidas, tornando-a um alvo central.

O historiador de Yale, Timothy D. Snyder, descreve a profundidade desta conexão ao afirmar que "o Holocausto está integral e organicamente ligado à Vernichtungskrieg, à guerra de 1941, e está orgânica e integralmente ligado à tentativa de conquistar a Ucrânia". Esta declaração sublinha o vínculo indissolúvel entre a brutal guerra de extermínio (Vernichtungskrieg) dos nazistas na Frente Oriental – impulsionada por ambições ideológicas e territoriais de obter "lebensraum" (espaço vital) – e o assassinato em massa sistemático de judeus, particularmente na Ucrânia, que era vista como uma fonte crucial de recursos e terras para o Terceiro Reich. Os métodos empregados variaram desde os infames fuzilamentos em massa, perpetrados pelos Einsatzgruppen (esquadrões da morte móveis), até às subsequentes deportações para campos de extermínio, tudo contribuindo para um nível sem precedentes de perda humana.

O Campo de Extermínio de Belzec: Um Símbolo da 'Solução Final'

O campo de extermínio de Belzec foi uma das mais sombrias e eficientes ferramentas da Alemanha Nazista para a implementação da Operação Reinhard, um plano secreto e metódico da SS para assassinar todos os judeus poloneses. Erigido especificamente para este propósito genocida, Belzec funcionou de 17 de março de 1942 até o final de junho de 1943, operando como uma engrenagem crucial na engrenagem maior da "Solução Final", que visava o extermínio de cerca de 6 milhões de judeus durante o Holocausto.

Estrategicamente localizado a aproximadamente 500 metros ao sul da estação ferroviária local de Bełżec, no então novo distrito de Lublin, dentro do território do Governo Geral da Polônia ocupada pelos alemães, o campo foi projetado para a máxima eficiência no assassinato em massa. As vítimas, na sua esmagadora maioria judeus, eram transportadas para Belzec em vagões de gado, onde eram imediatamente levadas para câmaras de gás. Após os assassinatos, para obliterar as evidências dos crimes em grande escala, os corpos exumados eram queimados em cinco grandes grelhas ao ar livre, e os ossos restantes eram triturados. Este processo hediondo de ocultação continuou até março de 1943, mesmo após o encerramento das operações de extermínio principais.

Estima-se que entre 430.000 e 500.000 judeus foram assassinados pelas SS em Belzec. Esta cifra coloca Belzec como o terceiro campo de extermínio mais mortífero do Holocausto, superado apenas por Treblinka e Auschwitz. A escala da aniquilação é quase incompreensível, e a sua natureza específica – um campo dedicado exclusivamente ao extermínio – faz dele um local de profunda importância histórica.

Um dos aspectos mais trágicos e distintivos de Belzec é a escassez de sobreviventes. Apenas sete judeus que realizavam trabalho escravo forçado como parte do Sonderkommando (unidades especiais de prisioneiros forçados a ajudar na eliminação dos corpos) conseguiram sobreviver à Segunda Guerra Mundial. Desses poucos, apenas Rudolf Reder tornou-se amplamente conhecido, em grande parte devido ao seu testemunho oficial pós-guerra, que se revelou inestimável para a compreensão do funcionamento interno do campo. A falta de testemunhas viáveis, capazes de descrever em detalhe as operações do campo, é a principal razão pela qual Belzec permanece menos conhecido do que outros campos, apesar do seu número devastador de vítimas.

O historiador israelense David Silberklang capturou a essência de Belzec ao escrever que o campo "foi talvez o lugar mais representativo da totalidade e finalidade dos planos nazistas para os judeus". Sua existência e as atrocidades ali cometidas servem como um lembrete vívido da intenção nazista de erradicar completamente o povo judeu e da brutalidade sem precedentes do Holocausto.

Perguntas Frequentes (FAQs)

O que foi o "Pale of Settlement" e qual a sua relação com o Holocausto na Ucrânia?
O "Pale of Settlement" (Zona de Assentamento) era uma região ocidental do Império Russo onde os judeus eram historicamente permitidos a residir permanentemente. A Ucrânia moderna era a maior parte desta zona, resultando numa vasta e densa população judaica. Quando a Alemanha Nazista invadiu a União Soviética em 1941, esta concentração populacional tornou os judeus da Ucrânia particularmente vulneráveis e alvos primários das políticas de extermínio nazistas, explicando o alto número de vítimas na região.
Quais foram os principais métodos de extermínio utilizados na Ucrânia durante o Holocausto?
Na Ucrânia, os métodos de extermínio variaram, mas os mais predominantes foram os massacres em massa por fuzilamento. As Einsatzgruppen, unidades especiais de extermínio móvel da SS, foram responsáveis por executar centenas de milhares de judeus, ciganos e outros em valas comuns, em locais como Babi Yar. Mais tarde, alguns judeus também foram deportados para campos de extermínio, mas os fuzilamentos em massa foram a principal forma de assassinato na Ucrânia.
O que foi a Operação Reinhard e qual o papel de Belzec nela?
A Operação Reinhard foi o nome de código secreto dado ao plano nazista para exterminar todos os judeus do Governo Geral, a parte da Polônia ocupada pelos alemães, durante a Segunda Guerra Mundial. Belzec foi um dos três campos de extermínio construídos especificamente para esta operação (os outros foram Treblinka e Sobibor). Sua finalidade exclusiva era o assassinato em massa por meio de câmaras de gás, tornando-o um pilar central da estratégia genocida da Operação Reinhard.
Por que Belzec é menos conhecido do que outros campos como Auschwitz, apesar do grande número de vítimas?
Belzec é menos conhecido principalmente devido à extrema escassez de sobreviventes. Projetado estritamente como um campo de extermínio, com pouquíssimos prisioneiros mantidos para trabalho escravo, a grande maioria das pessoas que entraram em Belzec foi assassinada. Com apenas sete sobreviventes conhecidos do campo, houve uma falta crítica de testemunhas oculares que pudessem relatar suas operações detalhadas após a guerra, dificultando a sua documentação e reconhecimento histórico em comparação com campos onde houve mais sobreviventes.
Como os nazistas tentaram ocultar os crimes cometidos em Belzec?
Após a "desativação" das operações de extermínio principais em Belzec, os nazistas empreenderam um esforço sistemático para ocultar as evidências de seus crimes. Isso envolveu a exumação de centenas de milhares de corpos enterrados em valas comuns e sua incineração em grandes piras ao ar livre. Os ossos restantes eram então esmagados em pó. O terreno do campo foi subsequentemente arado e camuflado, com árvores plantadas e uma fazenda construída, na tentativa de apagar qualquer vestígio físico dos horrores ali ocorridos.