O Reino da Itália (em italiano: Regno d'Italia) representou um período crucial e transformador na história da península, estendendo-se de 1861 a 1946. Este estado nasceu do fervilhante movimento do Risorgimento, um longo processo de unificação que viu diversos pequenos estados e reinos italianos serem finalmente consolidados. O momento simbólico de sua fundação ocorreu em 17 de março de 1861, quando o então Rei Victor Emmanuel II da Sardenha-Piemonte, da Casa de Saboia, foi solenemente proclamado Rei da Itália. O Reino da Sardenha é, assim, frequentemente considerado o seu predecessor legal e a força motriz por trás da unificação.
A jornada do novo reino não foi isenta de desafios e ambições territoriais. Em 1866, a Itália declarou guerra à Áustria, alinhando-se com a Prússia num conflito que ficou conhecido como Terceira Guerra de Independência Italiana. A vitória resultou na anexação da região do Vêneto, um passo significativo na consolidação territorial. Quatro anos depois, em 1870, as tropas italianas marcharam sobre Roma, um evento de imensa importância histórica que pôs fim a mais de mil anos de poder temporal papal sobre os Estados Pontifícios e completou a unificação italiana, transformando Roma na capital do reino.
No cenário internacional do final do século XIX, a Itália buscou solidificar sua posição. Em 1882, após intensas divergências com a França, particularmente sobre as respectivas expansões coloniais no Norte da África, a Itália optou por uma Tríplice Aliança com o Império Alemão e o Império Austro-Húngaro. Contudo, essa aliança era complexa: enquanto as relações com Berlim se tornaram bastante cordiais, o vínculo com Viena permaneceu puramente formal e, por vezes, tenso. O motivo era o persistente desejo italiano de anexar o Trentino e Trieste, regiões austro-húngaras habitadas por uma população de língua e cultura italianas, um movimento conhecido como irredentismo.
Essa tensão latente viria à tona com o início da Primeira Guerra Mundial. Apesar de ser parte da Tríplice Aliança, a Itália declarou-se inicialmente neutra. Contudo, em 1915, aceitou o convite britânico para se juntar às Potências Aliadas. As promessas ocidentais de compensações territoriais significativas (principalmente à custa do Império Austro-Húngaro) foram muito mais generosas do que qualquer oferta de Viena em troca da neutralidade italiana. A vitória na guerra garantiu à Itália um assento permanente no Conselho da Liga das Nações, um reconhecimento de seu status entre as grandes potências.
A Era da "Itália Fascista" (1922-1943)
A "Itália Fascista" marca um período sombrio e autoritário na história italiana, estendendo-se de 1922 a 1943. Foi a era do governo do Partido Nacional Fascista, liderado por Benito Mussolini, que ascendeu ao poder num contexto de pós-guerra e instabilidade política e social. Sob o seu comando, o regime impôs um sistema totalitário que buscou controlar todos os aspectos da vida pública e privada. A oposição política e intelectual foi brutalmente esmagada, e a propaganda oficial promovia uma modernização econômica, o resgate de valores sociais tradicionais e uma aproximação com a Igreja Católica Romana, culminando nos Tratados de Latrão em 1929, que estabeleceram o Estado do Vaticano.
A evolução do governo fascista, segundo a análise de Payne (1996), pode ser dividida em várias fases distintas, cada uma com suas características próprias:
- Primeira Fase (1923-1925): Inicialmente, manteve-se uma fachada de sistema parlamentar, embora já sob uma "ditadura executiva legalmente organizada". Mussolini, como chefe de governo, gradualmente consolidava seu poder.
- Segunda Fase (1925-1929): Esta foi a etapa da "construção da ditadura fascista propriamente dita". Leis e instituições foram reconfiguradas para centralizar o poder nas mãos do Duce, desmantelando as liberdades democráticas.
- Terceira Fase (1929-1934): Um período de relativo menor ativismo interno, onde o regime buscou consolidar os ganhos e institucionalizar o controle social através de organizações de massa e doutrinação.
- Quarta Fase (1935-1940): Caracterizada por uma política externa cada vez mais agressiva. Incluiu a guerra contra a Etiópia, lançada a partir das colônias italianas da Eritreia e Somalilândia, resultando em sua anexação e a proclamação do Império Italiano. Este conflito levou a confrontos com a Liga das Nações e imposição de sanções internacionais, estimulando uma crescente autarquia econômica. Culminou na assinatura do Pacto de Aço com a Alemanha Nazista, selando a aliança militar.
- Quinta Fase (1940-1943): A guerra em si, com a Itália já como um dos principais membros das potências do Eixo na Segunda Guerra Mundial. Esta fase foi marcada por uma série de desastres e derrotas militares que minaram o prestígio e o poder do regime fascista.
- Fase Final (1943-1945): O governo de Salò, ou República Social Italiana, um estado fantoche colaboracionista sob controle alemão, ainda liderado por Mussolini após sua libertação pelos alemães em setembro de 1943.
A derrocada do fascismo em 1943 foi precipitada pela derrota germano-italiana em diversas frentes e pelos subsequentes desembarques aliados na Sicília. A Grande Conselho do Fascismo votou pela destituição de Mussolini, e o rei Victor Emmanuel III ordenou sua prisão. O novo governo, liderado pelo Marechal Pietro Badoglio, assinou um armistício com os Aliados em setembro de 1943. Como resposta, as forças alemãs ocuparam o norte e o centro da Itália, estabelecendo a já mencionada República Social Italiana. O país mergulhou então numa guerra civil, com o Exército Co-beligerante Italiano e o movimento de resistência (partigiani) enfrentando as forças da República Social e seus aliados alemães.
Após o fim da guerra e a libertação do país, o descontentamento civil com a monarquia, associada ao fascismo e aos reveses da guerra, atingiu seu ponto culminante. Em 2 de junho de 1946, foi realizado um referendo institucional, onde os italianos foram chamados a decidir se o país permaneceria uma monarquia ou se tornaria uma república. A maioria decidiu abandonar a monarquia e formar a República Italiana, o estado italiano moderno que conhecemos hoje.
A Guerra Greco-Italiana (1940-1941): Um Conflito Esquecido
A Guerra Greco-Italiana, também conhecida como Campanha Italiana na Grécia ou, na Grécia, como "Guerra de '40", foi um conflito significativo que se desenrolou entre os reinos da Itália e da Grécia de 28 de outubro de 1940 a 23 de abril de 1941. Este confronto local teve repercussões muito maiores, marcando o início da Campanha dos Balcãs na Segunda Guerra Mundial entre as potências do Eixo e os Aliados, e culminando na Batalha da Grécia com o envolvimento britânico e, decisivamente, alemão.
A eclosão da guerra foi precedida por uma série de eventos. Em 10 de junho de 1940, a Itália já havia declarado guerra à França e ao Reino Unido, buscando afirmar-se como uma grande potência no cenário europeu e mediterrâneo. Em setembro do mesmo ano, as forças italianas realizaram invasões na França, na Somalilândia britânica e no Egito. Simultaneamente, uma campanha de imprensa hostil foi desencadeada na Itália contra a Grécia, acusada de ser uma aliada britânica, apesar de sua neutralidade oficial. Uma série de provocações italianas culminou no naufrágio do cruzador leve grego Elli em 15 de agosto, um ato flagrante que demonstrou as intenções agressivas de Mussolini. Em 28 de outubro, o Duce emitiu um ultimato à Grécia, exigindo a cessão de território grego. Contudo, o primeiro-ministro grego, Ioannis Metaxas, com um categórico "Oxi" (Não), rejeitou as exigências, acendendo o pavio do conflito.
A invasão da Grécia pela Itália, iniciada a partir da Albânia controlada pelos italianos e liderada pelas divisões do Exército Real, revelou-se um fiasco estratégico. As tropas italianas enfrentaram uma resistência inesperadamente tenaz do exército helênico e foram apanhadas despreparadas para o terreno montanhoso e lamacento na fronteira albanesa-grega, que se tornou um obstáculo natural quase intransponível. A baixa moral das tropas italianas e o mau planejamento foram fatores cruciais. Em meados de novembro, os gregos não apenas detiveram a invasão italiana dentro de seu próprio território, mas também, com o apoio de bombardeiros e caças britânicos que atingiram as forças e bases italianas, completaram sua mobilização e lançaram uma vigorosa contra-ofensiva. Esta empurrou os italianos de volta para a Albânia, um avanço que culminou na captura da estratégica passagem de Klisura em janeiro de 1941, avançando dezenas de quilômetros dentro do território albanês. A derrota da invasão italiana e a contra-ofensiva grega de 1940 foram notavelmente descritas por Mark Mazower como "o primeiro revés do Eixo de toda a guerra", com os gregos "surpreendendo a todos com a tenacidade de sua resistência".
A frente se estabilizou em fevereiro de 1941, com os italianos reforçando a frente albanesa para 28 divisões contra as 14 divisões gregas (embora as divisões gregas fossem maiores em número de efetivos). Em março, os italianos lançaram a malfadada "Ofensiva da Primavera", que também falhou em quebrar a resistência grega. A essa altura, as perdas eram mutuamente caras, mas os gregos tinham uma capacidade muito menor do que os italianos para reabastecer suas baixas em homens e material. Estavam perigosamente com pouca munição e outros suprimentos, e não tinham a capacidade de rotacionar seus homens e equipamentos, ao contrário dos italianos. Os pedidos gregos por ajuda material aos britânicos apenas aliviaram parcialmente a situação. Em abril de 1941, o exército grego possuía munição de artilharia pesada para apenas mais um mês e era incapaz de equipar e mobilizar adequadamente a maior parte de suas reservas, estimadas entre 200.000 e 300.000 homens.
Adolf Hitler, preocupado com o aumento da intervenção britânica no conflito, que representava uma ameaça à retaguarda da Alemanha, e com o acúmulo alemão nos Bálcãs, que se acelerou após a Bulgária se juntar ao Eixo em 1º de março de 1941, decidiu intervir. As forças terrestres britânicas começaram a chegar à Grécia no dia seguinte, o que fez com que Hitler viesse em auxílio de seu aliado do Eixo. Em 6 de abril, os alemães invadiram o norte da Grécia na "Operação Marita". Os gregos haviam implantado a grande maioria de seus homens em um impasse mutuamente custoso com os italianos na frente albanesa, deixando a fortificada Linha Metaxas com apenas um terço de sua força autorizada. As forças gregas e britânicas no norte da Grécia foram rapidamente dominadas pelos alemães, que avançaram rapidamente para oeste e sul. Na Albânia, o exército grego iniciou uma retirada tardia para evitar ser cortado pelos alemães, mas foi lentamente seguido pelos italianos. A Grécia, sobrecarregada, rendeu-se às tropas alemãs em 20 de abril de 1941 e aos italianos em 23 de abril de 1941. O país foi subsequentemente ocupado por tropas búlgaras, alemãs e italianas, marcando o fim de sua resistência independente. O exército italiano sofreu 102.064 baixas em combate (incluindo 13.700 mortos e 3.900 desaparecidos) e cinquenta mil doentes; os gregos sofreram mais de 90.000 baixas em combate (incluindo 14.000 mortos e 5.000 desaparecidos) e um número desconhecido de doentes, evidenciando o alto custo humano deste conflito.
Perguntas Frequentes (FAQs)
- O que foi o Reino da Itália?
- O Reino da Itália foi um estado que existiu de 1861 a 1946, formado após a unificação italiana (Risorgimento) sob a liderança do Reino da Sardenha. Foi governado por uma monarquia da Casa de Saboia até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando foi substituído pela República Italiana.
- Como a Itália se tornou um país unificado?
- A Itália se unificou por meio de um processo conhecido como Risorgimento. Liderado pelo Reino da Sardenha, o processo envolveu guerras, anexações e plebiscitos, culminando na proclamação do Reino da Itália em 1861 e na captura de Roma em 1870.
- O que foi o Risorgimento?
- O Risorgimento foi o movimento político e social do século XIX que levou à unificação dos vários estados da península italiana em um único Reino da Itália. A palavra significa "ressurgimento" e reflete o ideal de restaurar a glória e a unidade da antiga Roma.
- Por que a Itália se juntou aos Aliados na Primeira Guerra Mundial, apesar de estar na Tríplice Aliança?
- A Itália fazia parte da Tríplice Aliança com a Alemanha e a Áustria-Hungria, mas tinha tensões com a Áustria-Hungria devido a territórios irredentos (Trentino e Trieste). Em 1915, a Itália foi atraída para o lado dos Aliados (Reino Unido, França, Rússia) por promessas de significativas compensações territoriais após a vitória, que eram mais vantajosas do que a oferta de neutralidade das Potências Centrais.
- O que foi a Itália Fascista?
- A Itália Fascista foi o período de 1922 a 1943 em que o Partido Nacional Fascista, liderado por Benito Mussolini, governou a Itália como um regime totalitário. Caracterizou-se pela supressão da oposição, modernização econômica, promoção de valores sociais tradicionais e uma política externa agressiva.
- Quem foi Benito Mussolini?
- Benito Mussolini foi o fundador e líder do Partido Nacional Fascista. Governou a Itália como ditador ("Duce") de 1922 a 1943, estabelecendo o regime fascista. Foi um dos principais líderes do Eixo na Segunda Guerra Mundial e foi deposto em 1943.
- Como o Reino da Itália terminou?
- O Reino da Itália terminou em 1946. Após a derrota na Segunda Guerra Mundial e a queda do regime fascista, um referendo institucional foi realizado. Os italianos votaram para abolir a monarquia e estabelecer a República Italiana, o que encerrou quase 85 anos de governo monárquico.
- O que foi a Guerra Greco-Italiana?
- A Guerra Greco-Italiana foi um conflito entre a Itália e a Grécia que ocorreu de outubro de 1940 a abril de 1941, no início da Campanha dos Balcãs da Segunda Guerra Mundial. A invasão italiana da Grécia, lançada da Albânia, resultou em um revés significativo para as forças do Eixo antes da intervenção alemã.
- Por que a Itália invadiu a Grécia?
- Benito Mussolini ordenou a invasão da Grécia em outubro de 1940, buscando expandir a influência italiana nos Balcãs e demonstrar o poder de seu regime, emulando os sucessos militares da Alemanha. Houve também provocações pré-guerra e um ultimato italiano rejeitado pela Grécia.
- Qual foi o desfecho da Guerra Greco-Italiana?
- Inicialmente, a invasão italiana foi repelida com sucesso pelas forças gregas, que até contra-atacaram e avançaram para a Albânia. No entanto, a exaustão das tropas gregas e a intervenção maciça da Alemanha ("Operação Marita") em abril de 1941 levaram à derrota e ocupação da Grécia pelas potências do Eixo (Alemanha, Itália e Bulgária).

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