O desmembramento do sistema Bell, um dos eventos mais significativos na história das telecomunicações americanas, foi formalmente selado em 8 de janeiro de 1982. Este marco resultou de um decreto de consentimento acordado que estipulava que a AT&T Corporation, então uma entidade monolítica, cederia o controle sobre as Companhias Operacionais Bell (Bell Operating Companies – BOCs). Estas BOCs eram as responsáveis por fornecer o serviço de telefonia local em grande parte dos Estados Unidos e, indiretamente através de associações históricas, influenciaram o cenário no Canadá até aquele momento. Em essência, o que antes era o vasto e quase incontestável monopólio do Bell System foi desmantelado, dando origem a empresas totalmente separadas que, embora independentes, continuariam a prover serviços telefônicos vitais.
Após o desmembramento, a AT&T manteve sua posição como uma das principais provedoras de serviços de longa distância. Em contraste, as recém-independentes Companhias Operacionais Regionais Bell (Regional Bell Operating Companies – RBOCs), carinhosamente apelidadas de 'Baby Bells', assumiram a responsabilidade pelos serviços telefônicos locais. Uma mudança crucial foi que estas novas entidades deixaram de ser diretamente supridas com equipamentos pela Western Electric, uma subsidiária da AT&T, abrindo o mercado para maior concorrência e inovação.
As Raízes do Desmembramento: A Ação Antitruste
Essa reestruturação monumental não surgiu do nada; ela foi impulsionada por uma ação antitruste movida em 1974 pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos contra a AT&T. Naquela época, a AT&T detinha um domínio sem precedentes, sendo a única provedora de serviços telefônicos na vasta maioria do território americano. Para agravar seu controle, a maior parte dos equipamentos telefônicos utilizados no país era fabricada por sua subsidiária, a Western Electric. Essa integração vertical – onde uma única empresa controlava desde a pesquisa e desenvolvimento (Bell Labs) até a fabricação de equipamentos, passando pela prestação de serviços locais e de longa distância – conferia à AT&T um controle quase absoluto sobre a infraestrutura e a tecnologia de comunicação dos Estados Unidos. Foi precisamente esse poder hegemônico que levou ao notório caso antitruste, conhecido como Estados Unidos v. AT&T.
A queixa inicial do Departamento de Justiça solicitava ao tribunal que ordenasse a alienação da propriedade da Western Electric pela AT&T, visando quebrar o monopólio na fabricação de equipamentos. Contudo, em uma jogada estratégica, a AT&T, sentindo que o desfecho do processo seria desfavorável, propôs uma alternativa radical: sua própria dissolução. A proposta da AT&T visava manter o controle da Western Electric, das Páginas Amarelas (Yellow Pages), da icônica marca Bell, dos prestigiados Bell Labs e de seus serviços de longa distância. Adicionalmente, buscava ser liberada de um decreto de consentimento antitruste de 1956 – então sob a alçada do Juiz Vincent P. Biunno no Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito de Nova Jersey – que a impedia de participar do mercado geral de venda de computadores, uma área de crescimento promissor. Em troca dessas concessões, a AT&T propôs abrir mão da propriedade de suas companhias operacionais locais. Argumentou-se que essa última concessão atenderia ao objetivo do governo de fomentar a concorrência tanto na prestação de serviços telefônicos quanto no fornecimento de equipamentos para as empresas operadoras.
O Acordo Histórico e a Nova Estrutura
O acordo foi finalmente selado em 8 de janeiro de 1982, embora com algumas alterações significativas impostas pelo decreto judicial. As holdings regionais recém-criadas, as 'Baby Bells', não apenas assumiram os serviços locais, mas também ficaram com a marca Bell, as Páginas Amarelas e aproximadamente metade da equipe e dos ativos dos Bell Labs. Esta divisão foi crucial para garantir que as novas empresas tivessem um ponto de partida sólido e acesso a recursos de pesquisa e marketing.
A Implementação e o Legado Duradouro
A partir de 1º de janeiro de 1984, a transformação foi completa. As inúmeras empresas membros do antigo Bell System foram amalgamadas em sete "Empresas Holding Regionais" independentes, oficialmente conhecidas como Regional Bell Operating Companies (RBOCs) ou as já mencionadas "Baby Bells". A magnitude dessa alienação pode ser mensurada pelo impacto financeiro direto na AT&T, cujo valor contábil foi drasticamente reduzido em aproximadamente 70%. Este evento não apenas redefiniu o panorama das telecomunicações nos Estados Unidos, mas também pavimentou o caminho para a inovação e a competição que caracterizam o setor hoje, com inúmeros provedores de serviços e fabricantes de equipamentos. O desmembramento do Bell System é frequentemente citado como um estudo de caso clássico em direito antitruste e um exemplo de como a intervenção regulatória pode remodelar indústrias inteiras.
Perguntas Frequentes (FAQs)
- O que foi o Bell System?
- O Bell System era um vasto monopólio que controlava quase todos os aspectos das telecomunicações nos Estados Unidos, desde a pesquisa (Bell Labs) e fabricação de equipamentos (Western Electric) até os serviços telefônicos locais e de longa distância, antes de seu desmembramento em 1984.
- Por que o Bell System foi desmembrado?
- Foi desmembrado devido a uma ação antitruste do Departamento de Justiça dos EUA. A AT&T, controladora do Bell System, tinha um controle quase total sobre o mercado de telecomunicações, o que era visto como anticompetitivo e prejudicial à inovação.
- Quando ocorreu o desmembramento?
- A decisão foi tomada através de um decreto de consentimento em 8 de janeiro de 1982, e a implementação efetiva, com a criação das novas empresas, ocorreu em 1º de janeiro de 1984.
- O que eram as 'Baby Bells'?
- As 'Baby Bells' (ou RBOCs - Regional Bell Operating Companies) eram as sete companhias regionais independentes criadas a partir do desmembramento do Bell System. Elas assumiram a responsabilidade pela prestação de serviços telefônicos locais, enquanto a AT&T se concentrou nos serviços de longa distância.
- O que aconteceu com a AT&T após o desmembramento?
- A AT&T manteve-se como uma provedora de serviços de longa distância, além de outras subsidiárias como a Western Electric e parte dos Bell Labs. Contudo, seu valor contábil foi reduzido em cerca de 70% devido à perda das operações locais.
- Qual foi o impacto do desmembramento do Bell System?
- O desmembramento aumentou a concorrência no mercado de telecomunicações, impulsionou a inovação em equipamentos e serviços, e fundamentalmente alterou a estrutura da indústria, levando ao cenário diversificado de provedores que vemos hoje.

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