Alfredo, conhecido na história como Alfredo, o Grande, foi uma figura monumental na formação da Inglaterra medieval. Nascido entre 848 e 849, e falecido em 26 de outubro de 899, sua vida e reinado foram definidos por desafios extraordinários e inovações que lançaram as bases para uma nação unificada. Inicialmente rei dos saxões ocidentais de 871 a aproximadamente 886, ele expandiu sua autoridade e influência, tornando-se o primeiro rei a ser amplamente reconhecido como rei dos anglo-saxões por volta de 886 até sua morte. Sua história é uma tapeçaria rica de batalhas, reformas e um profundo compromisso com a educação e a cultura.
A Vida de Alfredo e a Ascensão ao Trono
A Infância e o Contexto Político
Alfredo era o caçula dos filhos do rei Æthelwulf de Wessex e sua primeira esposa, Osburh. Sua infância foi marcada por uma sucessão de tragédias pessoais e desafios políticos. Sua mãe faleceu quando ele era jovem, e a coroa de Wessex passou por três de seus irmãos mais velhos – Æthelbald, Æthelberht e Æthelred – antes de chegar a ele. Essa sequência de governantes em um período relativamente curto reflete a instabilidade e as pressões enfrentadas pelo reino, principalmente devido às crescentes incursões viquingues que assolavam a Inglaterra anglo-saxã. Aos 22 anos, em 871, Alfredo ascendeu ao trono de Wessex em um momento de profunda crise, com o reino sob constante ameaça de invasão e conquista pelos povos nórdicos.
As Invasões Viquingues e a Defesa do Reino
A Luta pela Sobrevivência
Os primeiros anos do reinado de Alfredo foram dominados por uma luta desesperada contra as forças viquingues, conhecidas por sua ferocidade e organização. Após uma série de derrotas e vitórias esporádicas, o cenário parecia sombrio para os saxões. Em 878, a situação atingiu seu ponto mais crítico quando os viquingues lançaram um ataque surpresa, forçando Alfredo a se esconder nas pantanosas regiões de Athelney, em Somerset. Esse período de reclusão, embora humilhante, permitiu a Alfredo reagrupar suas forças e planejar sua contraofensiva.
A Batalha de Edington e o Tratado de Wedmore
A virada ocorreu na primavera de 878, com a decisiva Batalha de Edington. Após reunir um exército de todas as partes não ocupadas de Wessex, Alfredo confrontou e derrotou o Grande Exército Pagão liderado pelo rei viquingue Guthrum. Esta vitória não apenas salvou Wessex da conquista, mas também estabeleceu Alfredo como uma figura militar e estratégica de respeito. O resultado dessa batalha foi o Tratado de Wedmore, um acordo fundamental que estabeleceu uma fronteira clara entre o território anglo-saxão e o Danelaw – a vasta região no norte e leste da Inglaterra, incluindo o nordeste de Midlands e East Anglia, que ficaria sob o domínio viquingue. Uma parte crucial desse tratado foi a conversão de Guthrum ao cristianismo, com o próprio Alfredo atuando como seu padrinho de batismo. Este ato simbólico e político foi um marco na integração cultural e religiosa da Inglaterra.
A Reorganização Militar e a Rede de Burhs
Reconhecendo a necessidade de uma defesa mais robusta e eficaz, Alfredo implementou reformas militares abrangentes. Ele reorganizou o sistema militar tradicional, conhecido como *fyrd*, garantindo que uma parte do exército estivesse sempre pronta para a batalha, enquanto a outra cuidava das plantações. Além disso, e talvez sua inovação mais duradoura, foi a criação de uma rede de cidades fortificadas, os chamados *burhs*. Estas fortalezas estratégicas, espalhadas por Wessex e as áreas reconquistadas, serviam tanto como pontos defensivos contra ataques viquingues quanto como centros administrativos e de comércio. Essa estratégia não só proporcionou segurança, mas também fomentou o crescimento econômico e urbano, deixando uma marca indelével na paisagem inglesa.
Reformas Administrativas e o Legado Intelectual
Um Novo Código Legal e Melhorias na Governança
Além de suas conquistas militares, Alfredo foi um reformador notável no campo da administração e da lei. Ele revisou e compilou um novo código legal, conhecido como o "Código de Leis de Alfredo", que buscava unificar as diversas leis existentes e promover a justiça em seu reino. Este código refletia seus princípios morais e religiosos, frequentemente citando preceitos bíblicos, e enfatizava a importância da verdade e da equidade. Ele também se dedicou a melhorar a estrutura governamental, buscando eficiência e uma administração justa, o que contribuiu para a estabilidade e a qualidade de vida de seu povo.
O Renascimento Cultural e Educacional
Alfredo, o Grande, não foi apenas um guerreiro e legislador; ele foi também um fervoroso patrono da educação e da cultura. Preocupado com o declínio da erudição e da alfabetização em seu reino após as invasões viquingues, ele iniciou um ambicioso programa de renascimento intelectual. Sua visão era que a educação primária deveria ser conduzida em inglês antigo, a língua vernácula, em vez de latim, tornando o conhecimento acessível a um número maior de pessoas. Ele próprio supervisionou e participou da tradução de importantes obras latinas para o inglês antigo, incluindo a "Consolação da Filosofia" de Boécio e os "Diálogos" de Gregório, o Grande. Alfredo fundou escolas e convidou estudiosos de toda a Europa, incluindo o renomado bispo galês Asser, para seu reino, fomentando um ambiente de aprendizado e produção literária que revitalizou a cultura anglo-saxã. Seu patrocínio também é creditado por impulsionar a compilação e a manutenção da Crônica Anglo-Saxônica, uma das fontes históricas mais valiosas da Inglaterra medieval.
A Imagem e a Reputação de Alfredo
Asser e a Vida de Rei Alfredo
Muitos dos detalhes de sua vida e reinado são conhecidos através da obra de seu contemporâneo, o estudioso e bispo galês do século IX, Asser. A biografia de Asser, "A Vida do Rei Alfredo", oferece um retrato íntimo e detalhado do monarca, embora, como em todas as biografias da época, ela apresente uma perspectiva em grande parte favorável ao seu patrono. Ainda assim, é uma fonte histórica de valor inestimável, revelando não apenas os feitos de Alfredo, mas também sua personalidade, sua piedade e seu compromisso com o bem-estar de seu reino.
O Epíteto "O Grande"
A reputação de Alfredo como um homem culto, misericordioso, com uma natureza graciosa e equilibrada, que incentivava a educação e se dedicava à melhoria da vida de seu povo, perdurou por séculos. Ele recebeu o epíteto "o Grande" no século XVI, uma honraria que poucos monarcas ingleses compartilham. Este reconhecimento póstumo solidificou seu lugar na história como um dos mais importantes e influentes governantes da Inglaterra, um rei que não apenas defendeu seu reino contra a aniquilação, mas também lançou as bases para sua identidade cultural e política duradoura.
FAQ – Perguntas Frequentes sobre Alfredo, o Grande
- Qual foi o principal desafio enfrentado por Alfredo, o Grande?
- O principal desafio de Alfredo foi a defesa e a sobrevivência do reino de Wessex e dos demais reinos anglo-saxões contra as incessantes e devastadoras invasões viquingues que ameaçavam conquistar e paganizar toda a Inglaterra no século IX.
- Como Alfredo se tornou "Rei dos Anglo-Saxões"?
- Inicialmente Rei dos Saxões Ocidentais, Alfredo expandiu sua autoridade através de vitórias militares, como a Batalha de Edington, e de alianças políticas. Seu sucesso em defender Wessex e as áreas adjacentes, combinado com suas reformas, levou a um reconhecimento gradual de sua supremacia sobre outros povos anglo-saxões, culminando em sua adoção do título de "Rei dos Anglo-Saxões" por volta de 886, unindo simbolicamente diferentes grupos sob sua liderança.
- O que era o "Danelaw"?
- O Danelaw (ou Dena Lagh) era a região da Inglaterra que ficou sob o domínio viquingue após o Tratado de Wedmore em 878. Compreendia partes do norte, nordeste de Midlands e East Anglia, onde as leis e os costumes dinamarqueses (viquingues) prevaleciam, em contraste com as leis anglo-saxãs do sul da Inglaterra.
- Quais foram as contribuições mais significativas de Alfredo para a educação?
- Alfredo promoveu um programa ambicioso de renascimento educacional e cultural. Ele incentivou a educação primária em inglês antigo, em vez de latim, tornando o conhecimento mais acessível. Patrocinou e participou da tradução de importantes obras latinas para o vernáculo, fundou escolas e atraiu acadêmicos para seu reino, revitalizando a erudição anglo-saxã.
- Por que Alfredo recebeu o epíteto "o Grande"?
- Alfredo recebeu o epíteto "o Grande" no século XVI, muito depois de sua morte, devido à sua combinação extraordinária de habilidades como líder militar que salvou a Inglaterra da conquista viquingue, um legislador justo, um administrador inovador e um patrono visionário da educação e da cultura. Sua capacidade de inspirar e reconstruir em tempos de crise o solidificou como uma das figuras mais notáveis da história inglesa.

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